Às vezes eu me perco nos meus pensamentos – e não há momento mais propício que este. Desempregada, está difícil conseguir emprego e o mundo até parece que vai acabar. É nessas horas que começamos a pirar e nos fazer as perguntas mais difíceis da nossa vida. Daí eu me lembrei que, muitas vezes, as perguntas e respostas mais simples são as mais importantes, até mesmo para encontrar as respostas – e também as perguntas! – mais complexas e mais importantes.
Qual é a grande resposta?
Qual é, afinal, a grande resposta da Vida, do Universo, de tudo? 42, respondeu o supercomputador em ‘Guia do Mochileiro das Galáxias’, livro de Douglas Adams. E, contestada, ela (o supercomputador é retratado no feminino) responde com sarcasmo:
“Eu verifiquei várias vezes e essa é definitivamente a resposta. Acho que o problema, para ser sincera com vocês, é que vocês nunca souberam qual era a pergunta.”
Qual era afinal, a grande pergunta da Vida, do Universo, de tudo? Isso ela não sabia dizer, só tinha a resposta. E de que vale uma resposta sem a pergunta?
Qual caminho devo tomar?
Poucas pessoas percebem o quanto o gato louco de ‘Alice no País das Maravilhas’, no livro de Lewis Carroll, é inteligente. De fato, Carroll era matemático e utilizou muita lógica em sua história – ainda que de um ponto de vista absurdo.
“Alice: Diga-me, por favor, para que lado eu devo ir daqui?
Gato: Isso depende muito do lugar onde você quer chegar.
Alice: Eu não me importo muito com o lugar.
Gato: Então não importa por qual caminho você vai.
Alice: … mas desde que eu chegue a ALGUM LUGAR.
Gato: Ah, com certeza você vai. Basta caminhar pelo tempo suficiente.”
As respostas parecem absurdas porque, na verdade, as perguntas também são. De fato, o gato está sendo bem racional. O problema não está nas respostas, mas sim no fato que Alice não sabia onde queria chegar.
A tese onze
Muitos filósofos já se perguntaram qual o sentido da vida, nenhum obteve uma resposta adequada – a não ser que seja pela fé. Bem, a mim uma resposta assim não serve, pois não tenho fé, só tenho minha própria razão. Então seria arrogância minha esperar que eu possa responder qual o sentido da vida. Mas talvez a pergunta esteja errada. Qual é, afinal, a pergunta certa?
Começo me indagando por que eu fiz essa pergunta. A resposta é óbvia: porque estou sem sentido, sem rumo, sem saber pra onde vou. Neste caso, vou continuar sem sentido, a não ser que eu, de repente, encontre a iluminação, como aconteceu com Siddhartha Gautama – popularmente conhecido como Buda.
Não sou Siddhartha, minha mãe não sonhou com um elefante branco anunciando meu nascimento. Percebo, entretanto, que não saber o sentido da própria vida nunca foi impedimento para outras bilhões de pessoas. Elas continuam vivendo – e nenhuma delas encontrou tal resposta, a não ser pela fé, para quem tem alguma fé.
Filósofos do mundo todo interpretaram essa pergunta de milhares de maneiras. A questão, entretanto, é transformá-la. É o que Marx provavelmente diria.
Qual é, afinal, a pergunta?
Depois disso, pensei em transformar a pergunta: por que raios eu estou viva? O gato de Carrol me respondeu: “Porque você ainda não morreu” e começou a cantar trolololo.
A questão é que eu não queria saber por que eu estou viva, pelo contrário, estava buscando uma razão para viver. Se eu perguntasse: “Será que eu quero viver?”, o gato responderia: “Sim, óbvio, senão você não estaria fazendo essa pergunta”.
Mas para quê eu quero viver? Em outras palavras, o que eu quero fazer da minha própria vida? Perguntei isso e o gato, malandro, foi desaparecendo aos poucos, até ficar apenas o sorriso, que também desapareceu. Eu já havia visto um gato sem sorriso, mas um sorriso sem gato!
No fim das contas, trata-se disso e apenas disso: para saber qual caminho tomar, eu preciso primeiro saber onde quero chegar. A pergunta, portanto, é: onde eu quero chegar? E não, a resposta não é 42.
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