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Pandemia: a cada cinco dias, mortes dobram no Brasil

Reprodução / Fotos Públicas

Corpos de vítimas do coronavírus são enterrados em vala comum no cemitério do Tarumã, em Manaus (AM), no dia 21/04

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

A última nota técnica do sistema “MonitoraCovid-19”, ligado a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), traz uma informação realmente trágica: atualmente, as mortes ocasionadas pelo novo Coronavírus dobra seu número a cada 5 dias, em nosso país.

A simples constatação deste número já seria muito grave. Mas, tudo fica ainda mais preocupante quando a nossa situação é comparada com a de outros países que lideram o ranking tenebroso de número de mortes. Por exemplo, nos EUA, as mortes vêm dobrando a cada 6 dias; e no Estado Espanhol e na Itália a cada oito dias.

No mesmo comunicado da Fiocruz existe outro alerta muito importante: a pandemia da Covid-19 vem paulatinamente se interiorizando em nosso país, chegando a Municípios com um número menor de habitantes e que possuem sistemas de saúde ainda menos preparados para atender pacientes graves da doença.

Estas informações contrastam de forma absoluta com a fala tranquila do atual ministro da saúde, Nelson Teich, Ele chegou a afirmar, em coletiva à imprensa na última quarta-feira, que o Brasil está entre os melhores países no combate a pandemia.

A fala absurda do ministro, 100% alinhado com Bolsonaro, representa um profundo desrespeito aos mortos e suas famílias.

A irresponsabilidade deste governo chega a ser um escárnio quando confrontada com as imagens cruéis e desesperadoras de Manaus (AM), onde triplicou o número de enterros nos últimos dias, com 30% das pessoas morrendo nas suas casas, devido a total falta de condições de serem atendidas no sistema de saúde público local.

Brasil: campeão de sub-notificação

O que o ministro de Bolsonaro se “esquece” (na verdade, omite conscientemente) é a existência de uma cada vez maior sub-notificação em nosso país, tanto em número de infectados como em número de mortes gerada pela Covid-19.

O Brasil é o país que menos testa a sua população, entre os 14 países que mais possuem infectados pelo novo coronavirus. Isso significa que é impossível uma comparação realmente séria entre o número de mortos e infectados do nosso país com os de outras nações que realizam testes em grande escala.

Outro exemplo, que desmente o ministro bolsonarista, é que a ausência de testes vem gerando uma situação realmente criminosa, onde muitas mortes ocasionadas pela Covid-19 não estão sendo atribuídas nos obituários a atual pandemia.

Este fato pode ser comprovado pelo grande crescimento das mortes por pneumonia e insuficiência respiratória, a partir de março de 2020, justamente no período que a nova doença se expandiu mais em nosso país. O Número de mortos no Brasil já pode chegar a mais que o dobro do apontado pelos números oficiais.

Quantos mais precisarão morrer para este governo acabar?

Diante do evidente agravamento da pandemia em nosso país, o governo Bolsonaro prepara, através da ação do seu novo ministro da saúde, um recuo ainda maior na política de isolamento social. Sempre coerente com seu discurso irresponsável de colocar os lucros das grandes empresas à frente da proteção da vida da maioria dos brasileiros. Muitos governadores e prefeitos, inclusive, já indicam aderir a mesma política.

A combinação perversa do agravamento da nova doença com a política cada vez mais criminosa e irresponsável de Bolsonaro e seu governo, prepara um verdadeiro massacre no Brasil. Vidas que poderiam ser preservadas, se houvesse realmente uma política de investimentos emergenciais em saúde pública e na necessária proteção social para os mais vulneráveis, para que fosse garantida uma verdadeira quarentena, preservando o funcionamento apenas dos setores realmente essenciais.

Mas, o caminho do atual governo neofascista será outro. Com sua vocação de destruição de direitos sociais e com uma política econômica que privilegia apenas os mais ricos e poderosos, o que vamos assistir é um verdadeiro extermínio das vidas, especialmente dos trabalhadores mais oprimidos e explorados.

Os crimes de Bolsonaro diante da pandemia, se combinam ainda com uma escalada autoritária sem precedentes, com ameaças do atual presidente e seus aliados políticos contra às mínimas liberdades democráticas. Foi exatamente isto que foi visto nas ruas no último domingo: uma ameaça permanente de um golpe, seja via uma intervenção militar, um novo AI-5 ou qualquer outra ação política de maior fechamento do regime político.

Ou seja, o STF deveria abrir imediatamente uma investigação sobre a participação de Bolsonaro no ato golpista do último domingo; O Congresso Nacional deveria abrir uma investigação contra os já vários crimes de responsabilidade cometidos pelo atual presidente. Mas, seria um erro esperar algo diferente das tímidas e moderadas reações destes poderes e seus representantes. Não virá daí uma ação que interrompa o atual governo assassino e autoritário.

Mais do que nunca se faz necessária a construção e o fortalecimento de uma verdadeira frente única dos explorados, dos oprimidos e da esquerda, que retome às ruas ao final do isolamento social, com o objetivo de defender vidas, os direitos sociais e às liberdades democráticas.

O caminho dos movimentos sociais, sindicais e dos partidos de esquerda é combinar a luta pela vida com a tarefa urgente derrubar este governo, exigindo a antecipação de eleições presidenciais, realmente livres e democráticas.

#ForaBolsonaro

 

 

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