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O coronavírus será a Chernobyl do capitalismo

Máscara abandonada por bombeiros que atuaram contra o incêndio em Chernobyl

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

O acidente na usina nuclear de Chernobyl em 1985 matou várias pessoas e expôs os problemas da União Soviética. As autoridades do país cometeram todo o tipo de erro, o que aumentou os danos do desastre. Para os ideólogos do capitalismo, Chernobyl era uma prova do quanto o socialismo jamais daria certo, pois centralizava todas as decisões nas mãos de uma burocracia estatal corrupta e incompetente. Isto foi importante para que, em 1991, a União Soviética deixasse de existir. 

Nada como um desastre para testar os limites e contradições de um modelo de sociedade. A doença que se espalha agora no mundo está mostrando como a cultura individualista, a falta de um sistema público de saúde e a economia voltada para o lucro podem ser fatais. O coronavírus está para a burguesia o que Chernobyl foi para a burocracia soviética. 

Ninguém pode negar que é a saúde pública que está salvando vidas

A maior nação capitalista do mundo, os Estados Unidos, se ajoelhou diante da doença. Enquanto na China a situação está sendo controlada, na terra da liberdade o novo coronavírus já infectou mais de 800 mil pessoas e já matou quase 50 mil. 

Muitos não sabem, mas no país em que se paga pouco imposto para comprar um videogame, não existe saúde pública. Não existe uma política que pense coletivamente nos cuidados do país com uma pandemia. Ali é cada um por si. Isto porque a ideologia dominante por lá é de que tudo que é público é ruim e a iniciativa privada tem que tomar conta de tudo. 

Em países com sistemas públicos de saúde, como a Inglaterra, a situação é menos pior. A ideia de que sistemas públicos de saúde seriam “socialistas” e portanto “ineficientes”, caiu por terra. 

A “mão invisível do mercado” não foi lavada com álcool em gel

O garoto propaganda do capitalismo selvagem no Brasil, Kim Kataguiri, fez um vídeo para dizer que o estado tem que atuar na economia “em alguns casos” e a iniciativa privada não é a solução para tudo.  Se antes ele era um radicalóide de direita, agora é um liberal moderado. 

“Por que não tivemos máscaras e ventiladores? Porque são ações que não maximizam retorno financeiro”. Esta frase não é do deputado Marcelo Freixo. É do senador republicano Marco Rubio, considerado de direita radical. Há um ano atrás isso seria considerado “socialismo”. O que estava na moda era dizer que o “livre mercado” e a “iniciativa individual” dos capitalistas é que sabe o que é melhor para as pessoas.

Sumiram os discursos enaltecendo a “perfeição da lei da oferta e da procura” como o meio para “alocar recursos”. A direita teve que adaptar sua narrativa. Assim como Kim Kataguiri, eles ainda defendem o capitalismo liberal, mas acrescentando um “veja bem”. 

Agora que a coisa ficou feia, eles pedem ajuda do estado 

A turma que diz “imposto é roubo, estado é máfia e sonegação é legítima defesa” sumiu e não vai voltar tão cedo. Nem a burguesia dá mais moral para eles. Aqui no Brasil por exemplo, o general Braga Netto está elaborando um plano de retomada da economia em que o estado tem o papel principal. 

O ministro da economia, Paulo Guedes, torceu o nariz. Mas vai ter que aceitar que, quando o calo aperta, é ação planejada do Poder Público que consegue reerguer a economia. É assim no Brasil, na Europa e também nos Estados Unidos, onde Donald Trump teve que ameaçar as indústrias que não colaborassem com o governo. “Se as empresas não derem o que nós queremos, vamos retaliar”, disse o presidente. 

Palavras como “Plano Marshall” ou “New Deal” é que agora estão na moda. Elas lembram planos de reconstrução nacional baseados na presença do governo e na obrigação social das empresas. O capitalismo está tendo que dar o anel para não perder o dedo.

As carretas da morte mostram como a lógica capitalista é insana

Se todos, com exceção de quem faz serviços essenciais, ficassem alguns dias fechados em suas casas, a contaminação seria bastante reduzida. Com a pandemia controlada, a economia poderia se recuperar mais rápido. Mas para isso é necessário que todo mundo pense em todo mundo. Ou seja, pensar fora da lógica do capitalismo. 

A solidariedade social é necessária para que o sustento das pessoas seja garantido no curto prazo. Uma pessoa contaminada é um problema para ela e para os outros, pois a doença é contagiosa. Se cada um cuidar de si, todos se dão mal. Por isto tenho que me preocupar se meu vizinho cumpre as medidas de isolamento, assim como tenho que me preocupar se meu vizinho tem o que comer. 

Quem faz as carreatas para que o comércio reabra não é capaz de pensar fora da lógica do “cada um que se vire”. Pensam apenas nos seus pequenos negócios. Não sabem que, se o vírus se espalha, as pessoas vão estar muito ocupadas morrendo ou cuidando de seus familiares e não vão consumir. A lógica capitalista vai acabar com a vida e até mesmo com a economia. Não há saída individual. A solução será coletiva ou não será.

O capitalismo sempre foi o problema 

Não adianta os defensores do modelo capitalista moderar seu discurso. Uma sociedade baseada no individualismo, consumismo e lucro privado sempre vai criar problemas. Agora isto é bem evidente. A pandemia piorou o que já era ruim. 

Quando teve o acidente de Chernobyl, os ideólogos do capitalismo diziam que o desastre era culpa do socialismo, que sempre seria burocrático e autoritário. Eles fingiam não saber que a proposta socialista vai muito além do modelo adotado pela União Soviética. Eles fingiam não saber que, apesar de todos os limites e contradições, a revolução russa trouxe grandes avanços para a sociedade. Agora é um desastre que mostra os problemas do capitalismo. 

Não podemos ter ilusões que o capitalismo vai cair sozinho, é necessária a ação organizada da classe trabalhadora. Também não devemos acreditar no discurso agora moderado dos ideólogos de direita. Este desastre permite que as pessoas entendam com mais facilidades as contradições do sistema. É uma oportunidade que não podemos perder.