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BRASIL

Solidariedade S/A: a hipocrisia de empresas e bancos, que doam migalhas diante de seus lucros

Campanha da Rede Globo é uma resposta a iniciativas dos movimentos sociais. Queremos a taxação das grandes fortunas e solidariedade de classe, para salvar vidas e mudar o futuro

Cauê Campos* e Toninho Alves**, de Campinas, SP
Reprodução

Logomarca do quadro da Rede Globo

Na quarta-feira, 15/04, a Rede Globo lançou em seu Jornal Nacional a campanha “Solidariedade S/A”, na qual destinará um espaço do seu principal telejornal para divulgar as ações das empresas brasileiras que “estão empenhados a ajudar o Brasil a enfrentar a crise” provocada pela COVID-19. 

O Jornal Nacional divulgará, por exemplo, que o maior banco brasileiro, o Itaú Unibanco, doará R$ 1 bilhão para o combate à pandemia no Brasil. Somente o lucro do Itaú em 2019 foi de mais de R$ 26 bilhões. Ou seja, esse valor representa apenas 3,5% do lucro do Itaú no último ano, sem falar nos outros anos. 

Detalhe, o Banco Itaú doou para a Fundação… Itaú Social. Ou seja, nenhum centavo irá para o SUS, Hospitais Universitários ou instituições públicas de pesquisa cientifica, como a Fundação Oswaldo Cruz que faz os teste; tão necessários nesse momento. 

Outro exemplo, o Banco Safra doou R$ 200 mil para o Hospital das Clínicas da UNICAMP, menos de 1% do seu lucro em 2019. É de dar vergonha!

Essa campanha da Globo, “Solidariedade S/A”, é uma resposta as nossas campanhas de taxação das grandes fortunas que vêm ganhando respaldo na população. Presentes em diversos países, é discutida no Brasil desde a Constituição de 1988, mas nenhum governo levou para frente. Com a crise do novo coronavírus, a discussão reaquece e uma campanha foi lançada na semana passada.  

Com isso, os bilionários do Brasil, representados na TV Globo, não querem pagar esse imposto e doam ínfimas parcelas de seus lucros para amenizar suas consciências e limpar a barra.

Ao mesmo tempo em que doam migalhas, parte destas empresas continua obrigando seus funcionários a trabalhar e colocar em risco suas vidas, mesmo não fazendo parte de nenhum setor essencial. No Brasil, por exemplo, empresas de telemarketing e montadoras continuam funcionando, sem grandes mudanças. Em um caminho parecido ao que fizeram as fábricas italianas, e que custou as vidas de mais de dois mil operários.

Os bancos, enquanto fazem tímidas doações para seus próprios programas sociais, articulam e aprovam mecanismos via governo e Congresso Nacional que irá garantir lucros absurdos, como a PEC 010, do Orçamento de Guerra. Serão cerca de R$ 1,2 trilhão retirados pelo estado para enviar ao capital financeiro. Entre as 10 maiores fortunas do Brasil, seis são banqueiros.

O imposto sobre as fortunas deve ser utilizado agora, e sempre, para fortalecer o SUS, incentivar a pesquisa e a ciência nas instituições e universidades públicas. Não queremos “Solidariedade S/A”, queremos solidariedade de classe! Temos visto os mais diversos exemplos de solidariedade auto organizados pelos trabalhadores, através de sindicatos, coletivos e locais de trabalho. Essas ações recolhem cestas básicas, fazem máscaras para doar para quem precisa! São nesses momentos que sabemos com quem podemos contar. E não são com banqueiros e grandes empresários. E sim com cada trabalhador e trabalhadora que constrói esse país.

 


ASSINE AGORA O
ABAIXO-ASSINADO
PELA TAXAÇÃO DAS GRANDES FORTUNAS

 

 

 

 

 

*Cauê Campos é professor de sociologia e diretor estadual da APEOESP e Toninho Alves é trabalhador da UNICAMP e Coordenador Geral da Fasubra.