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Glauber Braga explica porque foi o único voto contra a PEC do Orçamento de Guerra na Câmara

Em debate no Senado, mudanças constitucionais podem ter sua aprovação concluída ainda esta semana. Primeira votação ocorreu nesta quarta, com 21 votos contrários

Lúcio Bernardo Jr/Ag. Cãmara

Glauber Braga

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

No dia 3 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que criou um orçamento especial e paralelo para responder iniciativas de combate a atual pandemia. Com a desculpa de salvar vidas e a economia durante da pandemia da Covid-19, essa PEC – conhecida como do “orçamento de guerra” – remunera ainda mais os banqueiros e grandes empresas.

Após a aprovação na Câmara dos Deputados, esta PEC foi enviada ao Senado, e ela deve entrar em discussão ainda hoje.

Na Câmara dos Deputados, o único voto contrário a este projeto foi o de Glauber Braga, deputado federal do PSOL-RJ. E, por isso, ele chegou a ser atacado pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo.

Reivindicando a posição do companheiro Glauber, publicamos abaixo o seu texto de direito de resposta, publicado no site do referido jornal:

 

“1. O parágrafo 9º da referida PEC abre espaço para que o Banco Central venha a comprar títulos podres dos bancos privados. Não foi estabelecido critério razoável para que isso não venha a acontecer. Imagino que já tenha visto a manifestação de Eduardo Moreira sobre o assunto.

2 – No texto apreciado na Câmara, foram colocadas contrapartidas de garantia de empregos ou facilitação de crédito para os pequenos negócios, ou limitação de recebimento de vantagens para os sócios desses bancos? NÃO!

3 – A PEC era instrumento necessário para garantir o pagamento de benefícios aos que estão mais vulneráveis nesse momento? NÃO. Nesse sentido, já tinham se manifestado em relação à chantagem de Guedes, no que diz respeito à renda emergencial, ministros do STF, do TCU e o próprio presidente da Câmara em sessão anterior à referida votação.

4  -É evidente que a articulação da matéria cumpre o objetivo de separar orçamentos para dar uma indicação ao sistema financeiro de que no pós-pandemia retomarão a agenda de ajuste ultra-liberal.

5  -Respeito os deputados de oposição que decidiram votar a matéria para não dar desculpas ao governo Bolsonaro quando medidas de apoio à população não estivessem sendo colocadas em prática. No entanto, achei importante o voto discordante que pudesse denunciar o que acabo de te apresentar.

6 – Não acho que guarde qualquer coerência um plano que para dar liquidez aos bancos disponibilize 1,2 trilhão de reais enquanto o mesmo governo veta a ampliação de pagamento para quem deveria receber o BPC; pessoas que têm deficiência, idade avançada e, pelas regras de hoje, 1/4 de salário mínimo por pessoa na família. A ampliação seria para quem recebe até meio salário mínimo.

7 – a) Sobre ser radical, sou, gosto de ir à raiz das questões; se isso é considerado até por algum correligionário meu? Imagino que sim. Mas acho que isso só seria um problema para algum muito comportado.

b) histriônico? Talvez às vezes, sim. Prefiro a palavra contundente. Mas não posso orientar a percepção dos meus interlocutores, mesmo sabendo que as nossas percepções dos outros podem falar bastante de nós mesmos.

c) cenas de pouca civilidade no plenário? O nosso conceito de civilidade seguramente são diferentes. Acho um retrocesso civilizatório dar uma renúncia de 1 trilhão para as multinacionais de petróleo. Imagino que o senhor não veja da mesma forma.

d) quase saí no tapa em uma sessão? De fato reajo ao avanço do fascismo e àqueles que tentam me intimidar; inclusive no plenário. Cito Brecht: “do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”

e) no meu currículo parlamentar consta ter chamado Cunha de gângster? Sim, e é!Mas eu não imaginava naquele momento que ele seria fichinha perto dos capangas de milícia que vieram a se apresentar depois.

E por último, repito frase que se não me engano é de Fernando Pessoa: “Tudo parece ousado, para quem a nada se atreve”).

Glauber Braga, deputado federal do PSOL-RJ”

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