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BRASIL

O colapso da saúde pública na região Norte do Brasil

Will Mota, de Belém (PA)
Marco Santos / Agência Pará / Fotos públicas

Os sistemas de saúde dos Estados da região Norte do Brasil já começaram a entrar em colapso. Como diz o ditado popular, “a corda sempre arrebenta primeiro do lado mais fraco”. Já era previsível que o colapso se desse primeiro na periferia da periferia do sistema. O colapso ocorre quando o sistema não tem mais capacidade de atender as novas ocorrências, isto é, falta pessoal, estrutura, material e equipamentos para realizar os atendimentos.  Só o Amazonas já registrou 1275 casos de covid-19 e 71 mortes (dados de 13/04/2020) em decorrência da doença, mais de 50% de todos os casos da região norte. Cerca de 90% dos leitos do Estado estão ocupados por pacientes com o novo coronavírus, segundo declarou o governador Wilson Lima.  A situação é tão grave que mesmo entre os povos indígenas a contaminação e as mortes não param de crescer. 

Depois do Amazonas, outro Estado que está em situação dramática é o Amapá: já registrou 242 casos de covid-19, sendo 5 óbitos, e só possui 30 leitos públicos em todo o Estado. Vale ressaltar que 90% da população do Amapá não possui plano de saúde e depende exclusivamente do SUS. Pelo crescimento exponencial da contaminação do vírus, é provável que ainda esta semana já não haja mais leitos vagos e as filas no atendimento se multipliquem de maneira impensável.  

No Pará, em uma situação um pouco menos crítica (310 casos, sendo 14 óbitos), já virou notícia cotidiana a superlotação dos Prontos-Socorros e UPA (Unidades de Pronto Atendimento) por conta do aumento da contaminação, em particular na capital Belém. 

Esse quadro dramático é resultado direto, de um lado, dos baixíssimos investimentos em saúde pública que historicamente afetam os Estados da região, mas também, de outro, da incidência da política genocida do presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores que bradam cotidianamente contra as medidas de isolamento social e incentivam as pessoas a irem às ruas retomar o convívio social como se o coronavírus fosse apenas uma gripezinha. As taxas de isolamento social estão na faixa de 50% nos Estados acima citados. O ideal é que tivesse em não menos que 70%. Nas próximas semanas, decretos de lockdown (aumento da restrição na circulação de pessoas e paralisia de algumas atividades inclusive essenciais) serão inevitáveis.

Lamentavelmente as medidas adotadas pelos governadores da região e o suporte anunciado pelo Ministério de Saúde na aquisição de respiradores, repasse de verbas para contratação de pessoal, aquisição de EPI’s e montagem de leitos emergenciais nos hospitais de campanha são completamente insuficientes para enfrentar a pandemia e o déficit histórico de investimentos em saúde pública nesses Estados.  

Para que o colapso que ora se inicia na saúde pública não se transforme numa tragédia humanitária de maiores proporções contra os habitantes da região Norte do Brasil, é necessário um plano emergencial do governo federal e dos governos estaduais de isolamento social efetivo (acompanhado das medidas econômicas necessárias à garantia de emprego e renda da maioria da população) e pesados investimentos em saúde pública para contratação de mais pessoal, montagem de leitos com todos os equipamentos, medicamentos e aparelhos necessários ao funcionamento do sistema de saúde, além da testagem em massa da população.