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Brasil: mortes por Covid-19 podem ser mais que o dobro dos números oficiais

Dados mostram um crescimento de 2.239 mortes por pneumonia e insuficiência respiratória, diante de março de 2019. O total de mortes por estas causas vinha caindo até fevereiro.

Heudes Regis /SEI / Fotos Públicas

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

O Ministério da Saúde anunciou, neste domingo de Páscoa, em seu relatório diário, a informação que o Brasil chegou oficialmente a 22.169 infectados e 1.223 mortos devido a pandemia do novo coronavírus.

Entretanto, todos sabem que o número oficial de infectados em nosso país está muito abaixo da realidade, pois existe uma grande sub-notificação no registro dos casos. Afinal, o Brasil é um dos países que menos realiza testes em grande escala na sua população, entre as nações que já estão vivendo situações mais graves da doença.

Até o dia 9 de abril, o Brasil estava realizando apenas uma cifra de 296 testes por um milhão de habitantes. Colocando o Brasil em último lugar de um ranking de 14 países mais afetados pela doença. Esta situação faz com que especialistas em saúde pública cheguem a afirmar que o número de brasileiros infectados pode ser 10 vezes maior do que os anunciados oficialmente.

Entretanto, uma matéria do Jornal Estado de SP desta segunda-feira, 13 de abril, levanta uma hipótese de sub-notificação ainda mais dramática e perversa. Também o número de mortos no Brasil pode estar completamente e gravemente sub-notificado.

Gráfico

O número de mortes por problemas por pneumonia e insuficiência respiratória cresceu de forma muito significativa em nosso país em março de 2020, se comparados com janeiro (24.629) e fevereiro (25.023) deste ano e, principalmente, comparados a março do ano passado (27.480).

Os dados foram divulgados pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais – Arpen, e foi baseado em números obtidos no sistema de cartórios de registro civil. Inclusive, recentemente, a própria Fiocruz já havia informado um grande crescimento de internações devido a síndrome respiratória aguda grave, também no mês passado.

Segundo a Arpen, em março de 2020 o número de casos de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória no Brasil cresceu 8,15% em relação a março de 2019. Ou seja, 2.239 mortes a mais se comparado ao número de mortos pelos motivos, registrados no mesmo mês do ano passado (ao lado, gráfico do Estado de S. Paulo).

Este crescimento representa também, inclusive, uma mudança no cenário analisado nos dois meses anteriores, janeiro e fevereiro de 2020. Nestes meses, houve uma queda sucessiva de mortes por estas causas, em janeiro de 2020 em 2,59% e fevereiro de 2020 em 4,19%. E, em março de 2020, em ruptura com a situação observada anteriormente, houve este crescimento significativo.

Outra informação relevante é que o crescimento de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória no mês de março de 2020 é ainda maior em São Paulo (14,66%) e no Rio de Janeiro (10,17%) do que o crescimento apontado nacionalmente. Justamente os dois Estados que mais existem casos de contaminação e mortes pela Covid-19.

Estas mortes não são notificadas como Covid-19. Mas, como explicar este salto senão pela existência de uma pandemia que mata, principalmente, por causas relativas a problemas respiratórios. Se forem considerados apenas o crescimento absoluto no número de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória, apontados na matéria do Estadão, o número de mortos no Brasil devido a Covid-19 já poderia ser superior a 3 mil. Ou seja, mais que o dobro dos anunciados oficialmente.

Estes números mostram não só a irresponsabilidade de Bolsonaro, que segue na sua campanha criminosa contra a política de isolamento social, mas também uma importante insuficiência do Ministério da Saúde em ter controle efetivo da situação da pandemia em nosso país.

Reprodução: Estado de S. Paulo

 

Bolsonaro bate todos os recordes de irresponsabilidade

Em mais um fim de semana onde o presidente demonstrou, de forma inequívoca, um total desrespeito pelas mínimas orientações de segurança dadas pela OMS e pelo próprio Ministério da Saúde, a sua irresponsabilidade chegou as raias do absurdo.

O presidente seguiu circulando nas ruas de Brasília, gerando aglomerações, cumprimentando pessoas, sem nenhuma proteção individual e declarando que é necessário relaxar ainda mais o isolamento social, (cada vez mais parcial, diga de passagem), que existe hoje na maior parte do território nacional.

Bolsonaro chegou a declarar, também de forma irresponsável: “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus”. Logo num momento que nosso país vive uma curva de crescimento da doença, e que especialistas, inclusive do próprio Ministério da Saúde, alertam para o risco de um crescimento ainda maior da pandemia em nosso país, durante a segunda quinzena de abril e no mês de maio, pelo menos em várias grandes cidades brasileiras.

Suas atitudes irresponsáveis e suas declarações públicas absurdas vem afetando negativamente cada vez mais a popularidade deste governo neofascista. As próprias pesquisas demonstram, especialmente, que uma parcela cada vez maior dos trabalhadores e da juventude repudia a manutenção do governo Bolsonaro.

Os movimentos sociais e a esquerda brasileira não podem ter dúvidas: sempre com a prioridade de defendermos a vida da maioria, os direitos sociais e às liberdades democrática, é necessário criar as condições necessárias para derrubar este governo, o quanto antes. Lutando para impedir a simples troca de Bolsonaro pelo general Mourão, exigindo a antecipação de eleições presidenciais, realmente livres e democráticas.

#ForaBolsonaro

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