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BRASIL

Rodoviários do Ceará realizam campanha de solidariedade de classe

Domingos Neto e Nericilda Rocha, de Fortaleza, CE

A pandemia do novo coronavirus está afetando a todos, mas é de modo desigual. O isolamento social, mecanismo mais eficiente de conter o contágio, a velocidade do mesmo e possibilitar tempo para o Sistema Único de Saúde se preparar para atender a demanda, passou a ser a reivindicação central da classe trabalhadora. Como sempre, não foi um direito garantido aos trabalhadores e ao grande contingente da população. É fácil medir o apoio ao isolamento social, quantos de fato estão no isolamento, o difícil é precisar a batalha que foi e para muitos, segue sendo, conseguir o direito ao isolamento social. No setor privado, a classe trabalhadora, sem nenhuma proteção do poder público, tem unicamente seus sindicatos para negociar o isolamento social. Muitas rasteiras foram dadas da parte da patronal para ceder o isolamento social. No setor do transporte público urbano, em particular ônibus, onde as prefeituras não intercederam para contribuir com as empresas para que estas garantissem o direito ao isolamento, foi e segue sendo uma barbárie diária.

E a grande massa de trabalhadores informais e desempregados, ampla maioria no país, certamente até se convenceu da necessidade de ficar em casa, mas como garantir as condições para isso? A discussão sobre a aplicabilidade de um isolamento social eficaz, em um país onde não há uma renda mínima para isso, é quase uma utopia. Os trabalhadores do setor privado, os considerados formais, com relação trabalhista de carteira assinada, foram à luta pelo direito ao isolamento social, mas a patronal não perdeu a oportunidade para passar algumas rasteiras. Em muitos casos, aproveitaram para dar férias sem pagamento de nenhum direito, fazendo os trabalhadores assinarem um termo onde abriam mão do salário. Em outros casos, cederam o isolamento social por quinze dias, apenas, com garantia da cesta básica, que ainda não chegou. 

Parece algo insignificante, mas se refletirmos sobre a dimensão da luta pelo direito ao isolamento social, na atual correlação de forças entre as classes, extremamente desfavorável para os trabalhadores, sendo os sindicatos praticamente os únicos sujeitos coletivos nesta briga, nos daremos conta que ela foi obtida parcialmente. E no curso da luta, o governo Bolsonaro se encarregou de fortalecer ainda mais a patronal, com a Medida Provisória 936. No setor de transporte, muitos empresários estão se amparando na nova MP para chantagear os trabalhadores entre a suspensão de contrato ou isolamento social sem salário e sem nada. Vê-se, neste simples exemplo, o custo material e subjetivo do isolamento social para a classe trabalhadora. O isolamento social não foi e ainda não é um direito, está sendo arrancado na luta diária em cada chão de fábrica, garagem de ônibus, como uma guerra silenciosa entre a classe trabalhadora e os representantes do capital. 

O vírus, em sua rapidez de contagio, desnuda com toda força o descarte de vidas que a burguesia e seus agentes implementam diariamente no capitalismo. A única solidariedade possível é a da classe explorada, oprimida, a dos sindicatos, a da esquerda, que pode com sua disposição humanitária, arregimentar os setores médios da sociedade para uma ampla campanha nacional em defesa da vida dos trabalhadores e todos os setores oprimidos. A renda Básica aprovada pela Câmara Federal é extremamente insuficiente. Sim, porque em tempos de bolsonarismo, a esquerda, os sindicatos, as frentes, as entidades estudantis, podem demonstrar na prática que vidas importam. 

 

CAMPANHA

Nesse sentido, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviários do Estado do Ceará, SINTRO, iniciou uma campanha como várias que estão ocorrendo no país, de solidariedade de classe. A campanha consiste em arrecadar EPIs, principalmente máscaras e álcool em gel para os motoristas de ônibus que seguem trabalhando. Fortaleza é a capital com maior incidência de contágio por habitantes no país, crescendo com uma média de 100 novos infectados ao dia desde 6 de abril, e uma das capitais que dispõe de menor número de leitos. A equação aponta para uma situação terrível. 

Fortaleza é a capital com maior incidência de contágio por habitantes no país

Apesar do Decreto de isolamento social do governo Camilo Santana, há um fluxo grande de pessoas circulando, principalmente após a contribuição criminosa do Presidente Bolsonaro, em convocar a população a circular normalmente. 

Na quarta-feira, 8, após arrecadarmos doações com outros sindicatos e ativistas, iniciamos a distribuição de máscaras aos motoristas no terminal do Siqueira. Na quinta, 9, o Sindicato e membros do Coletivo Sindical e Popular -Travessia, estiveram desde a madrugada na garagem de uma das maiores empresas de ônibus entregando máscaras aos trabalhadores. E assim seguiremos, a meta é distribuir EPIs até o 25 de abril, dias indicados pela Secretaria Estadual de Saúde como os mais críticos, e nos quais, colapsará o sistema de saúde. 

Tentando prevenir em defesa da vida dos motoristas de ônibus, visto que é um serviço considerado essencial e parte significativa do setor não teve direito ao isolamento social, estamos intensificando a campanha de arrecadação e distribuição de EPI. Em paralelo, estamos articulando com as centrais sindicais a formação de um Comitê Unitário em defesa da vida dos trabalhadores. 

 

Contato para doação:
Presidente do SINTRO -Domingos Neto
Whatsaap (85) 9 8225.3121

Conta do Sindicato para doações:
Banco Santander
Agência: 3132
Conta corrente: 13000363-7
CNPJ: 07.339.955/0001-17