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A necessidade de isolamento social e da produção de equipamentos essenciais de saúde

UFG

Politiza

Jovem e mãe, Iza Lourença é feminista negra marxista e trabalhadora do metrô de Belo Horizonte. Eleita vereadora em 2020 pelo PSOL, com 7.771 votos. Também coordena o projeto Consciência Barreiro – um cursinho popular na região onde mora – e é ativista do movimento anticapitalista Afronte e da Resistência Feminista.

A pandemia de Covid-19 já atingiu os quatro cantos do mundo. Por ser um vírus novo e de fácil contágio, já passamos de 1.400.000 contaminados e ultrapassamos a marca de 85.000 mortos. No Brasil, temos mais de 14.000 casos confirmados e atingimos a marca de 700 óbitos. A previsão apresentada pelas autoridades para a produção de uma vacina segura é de pelo menos um ano e meio.

É fato, o isolamento social é o remédio mais eficaz para impedir o colapso dos serviços de saúde e, assim, evitar mortes por falta de atendimentos aos casos graves. Ao mesmo tempo, os governos devem avançar um passo a mais nas medidas de controle ao coronavírus, a exemplo das experiências de outros países.

A batalha da grande maioria dos governos até aqui é segurar a velocidade de contágio e assim possibilitar que a população se contamine de forma controlada, evitando uma sobrecarga dos sistemas de saúde. Tendo em vista que a previsão para o Brasil é de que ao menos 50% da população tenha contato com o vírus, há que se pensar estratégias para que a proporção de pessoas que necessitem de atendimentos seja a menor e mais gradual possível.

Atualmente, a maioria da população, a contragosto de Bolsonaro, está se mantendo em isolamento social.  Entretanto, para além de ficarmos “guardados em casa”, equipamentos públicos devem ser desenvolvidos de modo a possibilitar que, até que volte a tão sonhada normalidade, seja possível construir uma transição segura e que preserve a vida dos trabalhadores.

A utilização dos que existem e a construção de novos leitos para atendimento de casos graves é urgente! O que tem levado às mortes no mundo é a falta de condições de atendimento necessárias para o cuidado dos doentes. A falta de equipamentos individuais para a população, em especial para os profissionais de saúde, piora muito as condições de enfrentamento ao contágio e à mortalidade do vírus.

Nas mais recentes coletivas de imprensa, Mandetta saúda a população por em sua maioria respeitar o isolamento, mas alertou que o Covid-19 ainda não alcançou os bairros as grandes periferias, ou seja, a população mais vulnerável ainda sofrerá frontalmente a possibilidade de contaminação. A mais nova orientação, diante a ausência de insumos básicos, é que façamos nós as nossas próprias máscaras.

Profissionais de saúde, atendentes de farmácias e supermercados, trabalhadores do transporte, caminhoneiros e outros profissionais das áreas essenciais driblam a falta de estrutura na busca por salvar vidas e por soluções que ao menos retardem os efeitos da pandemia. É uma luta contra o tempo.

Nos últimos dias, têm sido mais comuns noticias acerca da doação de testes por empresas como a Vale e do início da produção de respiradores por parte de empresas como a Mercedes-Benz. Medidas como essa são essenciais ao controle da pandemia e devem ser parte de uma política de governo que reoriente as prioridades econômicas e de produção às demandas da população.

Como também é típico do capitalismo mundial, estamos acompanhando uma verdadeira guerra por insumos e equipamentos de saúde em escala global. Se apoiando em sua hegemonia econômica e imperialista, os EUA, através de Trump (que até outro dia negava os efeitos da pandemia), têm trabalhado para inviabilizar o fluxo de distribuição de equipamentos de proteção e cuidado às demais nações.

Seja por “chegar antes” ou mesmo por oferecer cifras mais altas aos fornecedores de equipamentos de saúde, o extravio por parte dos EUA tem provocado que diversos países não têm visto chegar os materiais (reagentes e equipamentos) em sua maioria negociados com a China.

O debate urgente no momento passa pela defesa de nossa autossuficiência quanto à produção de equipamentos essenciais de saúde como: testes, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), de construção de leitos e produção de respiradores de baixo custo, de modo a possibilitar que todos os que necessitem tenham acesso às condições de cuidado públicas e acessíveis.

No capitalismo, o sistema econômico-social sob o qual vivemos, pessoas ricas e pessoas pobres têm condições de vida e sobrevivência absolutamente desiguais. Nas regiões periféricas em que moram os setores mais explorados da classe trabalhadora muitas vezes nem água para se higienizar as famílias têm. Sem a oferta de EPIs e de testes massivos, é uma política de morte qualquer menção à ideia de que “o Brasil não pode parar”.

Em lugar de avançar na aquisição e produção própria de equipamentos, em especial de respiradores que facilitem as possibilidades de recuperação dos doentes ante a invasão do vírus ao sistema brônquio-pulmonar, contraditoriamente a pressão que aumenta entre os governantes é a da volta à normalidade. É preciso avançar na conquista de condições de que a produção brasileira esteja a serviço de salvar nossas vidas e não de preservar os lucros dos grandes industriais.

Do mesmo modo, é urgente a disponibilização de todo o recurso necessário para as universidades públicas, instituições responsáveis pela maioria das pesquisas no país. Indo na contramão do que a situação que todos vivemos exige está a recente portaria 34, apresentada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Com mais essa política de cortes o ministro Weintraub demonstra que é um inimigo do povo. Não podemos pagar com nossas vidas o preço dos cortes na ciência!

Devemos seguir na luta contra o tempo para não colapsar o sistema e evitar o máximo possível de mortes. Na fase em que alcançamos da pandemia é vital avançar em nossa autossuficiência produtiva.

Temos urgência na produção e pesquisas nacionais que viabilizem insumos e equipamentos de proteção e cuidado para não morrermos!

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