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BRASIL

EaD: Prefeito de Florianópolis quer que metade dos alunos volte a frequentar a escola

Prefeito reconhece que 47,85% dos alunos não têm acesso a internet, para acompanhar aulas a distância. A solução apresentada ameaça a vida das crianças e de seus parentes. Prefeito quer que estes alunos frequentem a escola para assistir as aulas virtuais

Marcos Bueno "Canguru", de Florianópolis, SC

Nesta segunda-feira, 06, em uma transmissão ao vivo, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), veio a público anunciar medidas que afrouxam o combate a pandemia, em especial a serviços não essenciais e à educação. Com uma máscara de pano, ele, juntamente com o secretário de Saúde, mais uma vez expôs para a população como age um político dirigido pelo grande empresariado, impondo ações que jogarão a cidade no epicentro de contágio, com o aumento da circulação de pessoas. Agora os micro-empreendedores e até crianças e adolescentes estão sendo incentivadas a sair de casa! Isso mesmo, você não leu errado, crianças e adolescentes, estudantes da rede municipal de ensino.

Na quinta feira, 02/04, o governo publicou a portaria 1026/2020 determinando o que é o “teletrabalho”, ou seja, trabalhar em casa devido ao confinamento dos/as servidores/as. Essa portaria de fato já deveria ser objeto de representação junto ao Ministério Público, pois ela impõe um controle ameaçador sobre as chefias imediatas, bem como sobre os respectivos servidores/as.

Porém, não bastasse esse primeiro ataque, no dia seguinte, sexta-feira, na calada da noite, o governo publica uma nova portaria, a 156/2020 definindo ações para o setor da educação, com o intuito de garantir frequência e avaliação para os estudantes – leia-se segregação social e exclusão, bem como impondo o EAD para os profissionais que não foram capacitados para essa tarefa. Para piorar, o próprio governo divulga entre os/as diretores/as da rede municipal de ensino um dado apontando que apenas 47,85% dos estudantes tem acesso à internet. Sendo assim o mesmo assume sua total irresponsabilidade ao jogar nas costas das unidades educativas a incumbência de formularem vídeo aulas. Mas o pior ainda estava por vir…

Nossa organização identificou um mar de críticas à respectiva proposta, bem como muitos diretores/as indicados e alguns eleitos defendendo a ideia, julgando que “primeiro a gente faz, depois avalia”.

Não fosse o bastante o arremate veio na “live” de segunda (06/04), quando o prefeito afirmou saber que muitas crianças não têm acesso a internet, mas que conversou com o Secretário Maurício e o mesmo afirmou que as escolas já estão preparadas para receber os estudantes que não tiverem acesso, de modo que realizem, presencialmente, na escola, suas atividades virtuais. Em resumo, Gean quer que mais da metade dos estudantes do município circulem pela cidade, desfazendo toda a aparência até então defendida em favor do isolamento social. Gean, não queremos morrer, nossos estudantes também não!!! Você está jogando com a vida de pelo menos 15 mil crianças e adolescentes!!

Além dessa barbárie, Gean anunciou à abertura de alguns outros serviços não essenciais, expondo claramente sua prática de ser favorável a retomada da economia e não a preocupação em salvar vidas! Ou seja, ainda que mascarado, Gean escancara sua face perversa, politiqueira, descomprometida com a cidade e nosso povo! 

Daqui a três dias vence a portaria de muitos professores e professoras substitutas e até agora Gean e seus vereadores não aceitaram a proposta encaminhada para que nenhum trabalhador, tanto do quadro municipal direto, quanto terceirizado fosse demitido. Não precisamos perguntar o que acontecerá sem sequer termos professores para elaboração das tais vídeo-aulas, não é mesmo?

ATAQUES E RECUOS

No início da pandemia os/as servidores/as se organizavam para entrar em greve contra os graves ataques que a gestão Gean preparava, porém corretamente decidimos recuar, por compreender a importância dos serviços públicos na contenção desta doença. Gean agiu aparentemente de forma conjunta, decretando normas de enfrentamento a pandemia bastante irrisórias e contraditórias, como a não permissão de aglomeração, mas mantendo as escolas aglomeradas. 

Após ouvir o clamor da população, Gean apresentou um novo decreto, esse mais próximo do real, determinando o isolamento social como ferramenta de combate a COVID-19, bem como suspendendo as aulas e, na sequência, o transporte público e outros setores, mantendo apenas o essencial. Demonstrando ser guiado por questões técnico-sanitárias e não meramente econômicas, Gean ludibriou a população, preparando o terreno para o que viria.

Primeiro tentou abrir algumas unidades de educação infantil e escolas sob o argumento de atender apenas as crianças dos trabalhadores da PMF que estavam na linha de frente e não tinham com quem deixar seus filhos. A ideia era abrir não apenas para os/as servidores/as municipais e COMCAP, mas para todos os que fazem parte dos serviços essenciais, assim a população iria aumentar o contágio mais rapidamente, porém quem não fosse contagiado sairia fortalecido para o discurso de fim do isolamento social. Não deu certo, o governo recebeu uma avalanche de críticas e em seguida revogou a respectiva portaria que abriria essas unidades. Contudo, essa ação foi suficiente para plantar em nossas consciências a questão de haver algum tipo de aula para os estudantes, pois o ano letivo está passando enquanto há o isolamento social.

Na semana que passou Gean colocou seu time em campo e, apostando no descaso da população, conseguiu junto aos seus vereadores e vereadora a aprovação de um aumento nos gastos do município em R$ 100 milhões com empréstimos para seu “Asfaltaço”, campanha velha de seu antigo grupo quando o lema ainda era “Operação Tapete Preto”. Resistências à parte da bancada de oposição, Gean sentiu-se a vontade para seguir em sua lógica (similar a do Bolsonaro) de jogar para a plateia e a depender do resultado seguir ou não com seus planos. Dessa vez deu certo, vários fiéis defensores do fim do isolamento social defenderam a matéria e ainda acusaram a oposição de mentir pra população. De forma oportunista, Gean já havia gravado um vídeo junto com o presidente da Câmara de vereadores, para divulgar após a sessão da Câmara e, como os humores estavam tensos, o vídeo foi divulgado no momento da votação, de modo que a notícia de aumento de gastos da prefeitura acabou saindo abafada, juntamente com a notícia que o bonzinho prefeito e os vereadores teriam seus salários cortados para que o recurso ajudasse no combate a covid-19. Ele só não explicou porque fez aquilo somente após o salário de todos já ter entrado em suas contas, ou seja, o desconto de fato só ocorrerá no início de maio e não agora, momento em que precisamos fortalecer nosso sistema para receber as pessoas infectadas na sequência. 

Não bastasse essa “pegadinha do malandro”, agora seus olhos se voltam para o uso da educação como elemento chave para o fim do isolamento social. Qual a estratégia? A mesma, ou seja, joga-se para a plateia o balão e caso ele estoure, se recua, mas se a plateia se iludir com seu voo temporário, então o plano segue.

Por fim, mas não menos importante, o governo lembrou que existe um Conselho Municipal de Educação (CME) que regula o magistério municipal. Tanto lembrou que citou o mesmo como sendo apenas o que falta para que o ensino não presencial possa ser legalizado. Nós da RESISTÊNCIA reiteramos a defesa explícita em nossa tese durante o último congresso do Sintrasem, na qual defendíamos que houvesse participação crítica em todos os conselhos municipais democráticos, tais como o CME. Como este ponto não foi aprovado pelas forças políticas que compunham a maioria no congresso, não temos representantes sindicais, porém nossa atuação na base auxiliou na formulação de algumas lideranças representativas, das quais defendemos e apostamos em um posicionamento consciente e contrário a essa ingerência chamada Portaria 156/2020. Ademais, sabemos das limitações deste conselho, em especial pelos representantes indicados pele governo, mas não serão eles que nos calarão. 

REVOGA, GEAN

A DESOBEDIÊNCIA CIVIL dos servidores e servidoras municipais, nesse momento reacionário e extremamente inseguro, torna-se elemento de segurança para garantir a manutenção do isolamento social e principalmente salvar vidas, não o lucro ou a imagem desse desgoverno oportunista! Fazemos um chamado à nossa CATEGORIA, a direção do SINTRASEM e a população para DESOBEDIÊNCIA CIVIL, ou seja, pela revogação imediata desta portaria! Nenhuma criança fora de casa, pelo isolamento social até o fim da pandemia, nenhum servidor ou servidora a menos!

FAMILIARES E RESPONSÁVEIS pelos estudantes da rede municipal, fazemos um apelo, pois sem o isolamento social, o coronavírus será presencial em nossas casas, talvez até mesmo levando a morte nossos entes queridos. RECUA GEAN!! REVOGA GEAN!!! CHEGA DE OPORTUNISMO, DEFENDA A VIDA DAS PESSOAS, NÃO OS LUCROS!!