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BRASIL

A pandemia e os limites do governo Belivaldo

Alexis Pedrão*, Aracaju, SE
Mario Sousa/ASN

“A distância entre a política institucional e a vida real é infinita. Aproveitando-se das atrocidades do governo genocida Bolsonaro, governadores se apresentam como eficientes no combate à pandemia em seus estados. Será verdade? Óbvio que, se compararmos com os absurdos do Bolsonaro , tudo parece “muito” melhor. Até ministro que se elegeu deputado com a pauta de enfraquecer o SUS, privilegiando a medicina privada e que votou pela Lei do Teto de Gastos, agora se apresenta com jaleco do Sistema Único de Saúde e vira ídolo nacional.” Paulo Pasin

Com o governo de Jair Bolsonaro não podemos contar. Apesar de seu último pronunciamento reconhecendo a pandemia, foi o bom e velho “desdobro”. Depois disso, Bolsonaro voltou a fazer declarações de que não devemos nos preocupar tanto assim. A última declaração foi “que os governadores que pregam isolamento tem medinho do vírus”. É inadmissível! Enquanto ele fala, pessoas morrem e cresce o desespero. Como nosso objetivo principal é salvar vidas, devemos manter a pressão pela renda emergencial e proteção social para a classe trabalhadora e os mais pobres, especialmente a população negra. Contudo, parece que bem mais gente já está percebendo que o presidente defende os cortes de salário, demissões e a nossa morte.

Em outra direção seguem os governos estaduais e prefeituras. Em todos os discursos afirmam que estão fazendo o possível para combater o coronavírus. Realmente não tem comparação com o governo federal, mas não podemos dizer que “da noite para o dia” esses políticos, em grande medida conservadores e apoiadores do bolsonarismo, passaram a olhar para a questão social. Eles também defendem a manutenção do capitalismo e estão amparados pelas grandes empresas. Contudo, têm uma visão um pouco diferente. Entendem que, para preservar o capitalismo, precisam preservar as vidas agora, e não somente descartá-las como propõe Bolsonaro. Os cálculos eleitorais obviamente também pesam. Por isso, insistimos: será que governadores e prefeitos estão mesmo fazendo tudo que podem? Até que ponto os discursos se traduzem em ações práticas?

Em Aracaju, foi publicada uma pesquisa demonstrando que é a terceira pior capital do Brasil em termos de respeito à quarentena. Pessoas comentando que as ruas estavam mais cheias e vídeos de “zap” em que as pessoas correm tranquilamente em plena 13 de julho ou frequentam a praia. O Ministério Público recomendou a interdição dos espaços públicos de grande aglomeração e a prefeitura atendeu, apelando também para que as pessoas fiquem em casa. Realmente, tem pessoas que não entenderam ainda a gravidade do problema. Contudo, é necessário compreender que a grande maioria está na rua porque precisa trabalhar. Ou estão sendo obrigados pelos patrões ou são autônomos, informais, desempregados, que sem o auxílio de uma renda emergencial precisam se virar como podem.

O mesmo Ministério Público que recomendou a interdição da Orla e da 13 de julho, em nota oficial criticou o governo de Sergipe por “relaxar” o decreto da quarentena e permitir o retorno de 40 mil trabalhadores da construção civil e indústria. Portanto, precisamos separar as coisas para não compreender a quantidade de pessoas nas ruas apenas como um problema de consciência individual, daquele que “não faz a sua parte”. Os egoístas existem. Mas a grande maioria é trabalhadora e está sendo obrigada a sair de casa pela sobrevivência. Isso é importante para que possamos gastar menos energia pedindo polícia para reprimir os que não cumprem a quarentena e mais força na reivindicação de proteção social, como renda emergencial, isenção de taxa de água e luz para os que ganham até dois salários-mínimos, cestas básicas, etc. Isso é o que de fato pode garantir a maioria das pessoas em casa.

Nesse sentido, o governo do estado anunciou o valor que será destinado tanto para a renda emergencial de quem está em situação de vulnerabilidade social e alimentar, quanto para as empresas que estão em dificuldades financeiras: R$40 milhões para a renda emergencial, com o valor de R$100,00 por família, e R$500 milhões para as empresas, através de crédito do Banco Estadual de Sergipe (Banese). Ora, está muito nítida a escolha de Belivaldo. Cerca de doze vezes mais dinheiro para as empresas do que para a renda emergencial das famílias. Evidente que as pequenas empresas e microempreendedores precisam de um auxílio do Banese. Belivaldo deve abrir linhas de crédito, mas as pessoas de baixa renda devem ser prioridade, não as empresas.

Nos momentos críticos temos melhores condições de enxergar a verdadeira face dos projetos políticos em disputa na sociedade. Não se pode dizer que o governador está parado. A interdição da praia é mais um bom exemplo. Mas porque não paralisar a construção civil e os setores industriais não essenciais? Porque não diminui o valor de crédito para as grandes empresas e aumenta para os trabalhadores em situação de desemprego? Eis o limite do projeto de conciliação de classe. Muito para os mais ricos e pouco para os mais pobres.

Nesse grave momento de pandemia não podemos admitir que o governo Belivaldo faça escolhas políticas e financeiras para privilegiar as indústrias e grandes empresas. As primeiras mortes chegaram em Sergipe. A luta pela vida é urgente. Não temos tempo a perder.

 

*Professor e militante da Resistência/PSOL