Pular para o conteúdo
BRASIL

A Educação do Ceará e a quarentena

Moita Brava*, de Fortaleza, CE
Reprodução/Facebook

Escola em Sobral (CE)

O governador do Ceará Camilo Santana tem tomado importantes medidas para enfrentar a pandemia. Garantiu a extensão da quarentena para as escolas e para os serviços não essenciais, garantiu isenção nas contas de água e luz para centenas de milhares de famílias, entre outras ações populares. 

Sua política para a pandemia tem o apoio de 90% da população do Ceará e deve ter o apoio dos socialistas também. Apesar de suas inúmeras limitações, e mesmo traições, Camilo virou um aliado naquilo que é mais importante para a nossa classe hoje: a defesa do isolamento social. Especialmente, quando temos um presidente negando todas as orientações da ciência, a fim de promover um holocausto. 

O centro da nossa política deve ser estender a quarentena o máximo possível. Não podemos subestimar o vírus, nem o bolsonarismo, nem a sede de lucro dos capitalistas. Não podemos achar que essa é uma batalha vencida, pois observo da minha janela na zona sul de Fortaleza, que a cada fala do presidente contra o isolamento, mais jovens vêm bater racha na quadra da comunidade. Uma catástrofe se avizinha.

Na defesa da vida da classe trabalhadora, é preciso parabenizar o governo estadual por estar batendo de frente com alguns interesses dos empresários. Contudo, é importante lembrar a quantidade infindável de partidos burgueses que compõem a gestão e que esse governo não é o nosso. Em seu último pronunciamento, Camilo anunciou o relaxamento da quarentena, classificando como essenciais feiras populares, uma série de setores da indústria e todas as empresas exportadoras. A pressão de profissionais da saúde e do mandato É tempo de resistência, do deputado estadual Renato Roseno (PSOL), que ameaçou ir à Justiça, fez o governador recuar no mesmo dia deste absurdo.

O Governo do Ceará receberá pressão de todos os lados e nós, educadores, também temos que ocupar o nosso lugar nesse cabo de guerra. Vamos exigir mais assistência social e mais garantia de emprego para as nossas comunidades escolares. A fome está batendo na porta da juventude da periferia. Será que os que almoçavam nas escolas estão almoçando? Se a Prefeitura de Fortaleza já iniciou o processo de distribuição de alimentos entre as famílias que têm crianças em sua rede de ensino, por que o governador do estado ainda não? Onde estão as garantias de emprego aos professores temporários, aos professores da rede privada e aos funcionários terceirizados de nossas escolas? Se ele diz que está do lado da população, precisa ter respostas aos nossos questionamentos. Cada vida importa e quem tem fome tem pressa.

Isolamento, assistência social e garantia de emprego para a comunidade escolar. Qualquer inversão de prioridades em nossas reivindicações é um descaso para com a periferia

Ainda que de forma secundária, temos que enfrentar o debate sobre os perigos que a educação a distância e os chamados estudos domiciliares nos trazem, já que a Secretaria de Educação do Ceará resolveu seguir com o calendário escolar. 

Acredito que devemos apoiar a decisão da Secretaria porque ficamos mais bem localizados para disputar as consciências na defesa de nossas prioridades, silenciando o berrante do bolsonarismo. Isso desde que:

a) não haja punições aos professores e estudantes, muito menos pressão produtivista como ocorre em larga escala nas universidades;
b) não haja assédio nem de gestores para professores, nem de educadores para estudantes para que se produza mais do que as condições psicológicas e tecnológicas de cada um permitam.
c) que esse avanço da educação à distância seja excepcional e dure apenas o tempo que a quarentena durar.
d) que haja autonomia para que as escolas decidam como se darão os estudos domiciliares;
e) que as férias da nossa categoria estejam garantidas.

Apesar das diretrizes da SEDUC pecarem pela omissão em algumas dessas condições, elas atendem a maioria desses pontos.

Por fim, devemos exigir que o Governo do Estado adie os vestibulares das universidades estaduais e que pressione o governo federal para que se adie todo o calendário do ENEM.

Fica um salve do Movimento Hip Hop Nós Por Nós a todas as periferias do Ceará. Que os estudos domiciliares sirvam para unir cada vez mais as nossas comunidades escolares. Que a distância não nos separe. Lembrem-se do que disse Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. Fiquem em casa para que amanhã possamos dar o troco nas ruas!

 

*Moita Brava é professor de História da rede estadual do Ceará e militante do Movimento Hip Hop Nós Por Nós.