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BRASIL

Aulas interrompidas: é momento de passar tranquilidade

Anna Karina Cavalcante*, de Fortaleza, CE

Sabe aquela frase “parem o mundo que eu quero descer!”? Pois então, o mundo parou e não podemos descer, mas precisamos tratar de novas formas de relações humanas. É hora de avançar na solidariedade e reduzir a produtividade.

Imaginemos que estejamos em uma guerra contra um inimigo invisível e desconhecido. Ele chega em silêncio e pode abater qualquer um de nós. Só de imaginar isso já nos causa desespero e infelizmente é exatamente essa a realidade dos dias atuais. Há o desespero, a angustia e muitas outras emoções ruins.

Em momentos de guerra, as aulas são interrompidas e, nesta em especial, a única forma de sobrevivermos é o isolamento social. Alguns técnicos educacionais, gestores escolares sob orientação das Secretaria Estaduais de Educação, se negam a aceitar tão delicada realidade e acham que obrigar (alguns chamam de sugerir) o envio de materiais de conteúdos disciplinares por internet (chamado de trabalho remoto) seria a solução tanto para justificar produtividade para os recebimentos salariais como para ajudar o aluno a preencher o dia de forma produtiva. Em uma guerra não há produtividade, ou até há, mas direcionada para os esforços de guerra.

Quero levar em consideração que haja boas intenções dos que propõe o trabalho remoto na educação, pois apesar dos tempos de doença devastadora, existem pessoas com as melhores das intenções, que simplesmente não se deram conta seriamente do desastre que pode estar por vir e querem tentar construir algum nível de normalidade para esses dias estranhos que não têm data para acabar.

Nunca vivemos o que vivemos hoje. Pensar diferente é um exercício permanente e necessário. Estamos em processo de aprendizado nesse novo mundo “parado” e desconhecido.

O melhor a fazermos, nós professores, nesse momento de Pandemia, de medo, de angustias, NÃO é mandar conteúdos disciplinares. É hora de pensarmos diferente, com uma proposta de outro calendário escolar. As leis e diretrizes educacionais de antes não se encaixam nesse novo mundo e exato momento. Se chegamos até aqui com um calendário de 4 bimestres letivos em um processo de distribuição de conteúdos e tempo, nas escolas de Ensino Básico regulares, pensemos que estamos com o planeta “parado” e tempo suprimido, portanto em outra realidade. Pensemos em um novo mundo, o de hoje, adaptando e flexibilizando calendarios para a nova realidade.

Neste momento, a nossa prioridade deve ser a defesa da vida, da mente sã. Penso que os que lutam pela educação pública de qualidade, como um direito, portanto de todos, deveriam guiar-se nesse exato instante na defesa de pelo menos cinco ideias: 1) Interrupção de envio de materiais conteudistas para estudantes; 2) Nenhum corte de salários ou direitos para professores; 3) Manutenção dos contratos temporários dos professores, das merendeiras e dos trabalhadores de serviços gerais; 4) Que as merendas escolares virem kits de alimentação e sejam distribuídas para os alunos pois, para muitos, a escola é, também, a garantia de uma refeição diária; 5) Abrir o debate sobre o calendário escolar, inclusive considerando a possibilidade excepcional de redução para 3 bimestres letivos em 2020, o que significaria não só a redução dos 200 dias letivos como também das atuais 800 horas previstas na LDB.