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BRASIL

O Coronavírus atinge o futebol e expõe os mais fracos

Diogo Xavier e Renato Saldanha, Recife, PE
Agência Brasil

A realidade da pandemia da Covid-19 afetou todas as áreas da economia pelo mundo, dentre elas a indústria do futebol. Desde o dia 16 de março, segunda-feira, o futebol parou quase que por completo em todo o Brasil. Algo quase inédito e que gera uma série de dificuldades para aqueles e aquelas que sobrevivem direta e indiretamente do esporte.

Segundo estudo da Consultora EY, no ano de 2018 o futebol brasileiro gerou 52,9 bilhões de reais (o que corresponde a 0,72% do Produto Interno Bruto do país) e empregou 156 mil pessoas. Esse dado certamente é subestimado, já que o estudo leva em consideração apenas os empregos diretos relacionados ao esporte, e segundo o IBGE, 40% da população ocupada no Brasil estava na informalidade. A necessidade de isolamento social, por conta da atual crise sanitária, torna ainda mais difícil a sobrevivência daqueles trabalhadores e trabalhadoras que gravitam os estádios, sobrevivendo da venda de comida, bebida e itens dos clubes nos dias de jogos.

Associado a isso, temos a situação da base da pirâmide do futebol brasileiro. Em 2018, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) declarou que existiam 874 clubes ativos no país. É comum, porém, que as análises sobre o futebol fiquem centradas apenas na realidade nos 40 clubes que disputam a série A e B, tem jogos programados para o ano inteiro, e pagam salários astronômicos, geralmente de 5 ou 6 dígitos. Entretanto, a realidade da maior parte dos jogadores de futebol é bem diferente, com salários baixos e contratos curtos (em geral de janeiro a maio, quando duram os campeonatos estaduais), alternados com períodos de desemprego.

Com a paralisação das competições muitos desses clubes, que em geral vivem da renda das partidas, não terão como bancar os salários dos jogadores, expondo-os a uma situação ainda mais precária. É preciso garantir o sustento desses profissionais.

Outro setor bastante vulnerável da cadeia produtiva do futebol é o futebol feminino. Se em períodos de normalidade as atletas já não contam com a estabilidade e valorização merecidas, nesse momento esse quadro se agrava, com os clubes acenando com a possibilidade de demissão dessas profissionais. Nessa situação, é fundamental que os clubes e a CBF banquem os salários dessas atletas e garantam a continuidade das competições de futebol feminino no calendário quando a quarentena acabar.

Por outro lado, na mesma semana que a maioria dos estados decretou a paralisação do futebol a CBF divulgou seu balanço financeiro de 2019, registrando uma receita total de 957 milhões de reais no ano, com um superávit de 190 milhões. Na nota, a CBF declara ainda que o atual ativo da entidade é de 1,24 bilhão de reais. Não restam dúvidas de que esse dinheiro deve ser investido pra garantir uma renda mínima para os trabalhadores que mais necessitam e que dependem do futebol para garantir o seu sustento.

Partindo do aprovado pela Câmara dos Deputados nessa quinta-feira, 26 de março de 2020, a CBF deveria usar seu capital não para o lucro dos cartolas, ou para o luxo de uma elite do esporte. Mas sim para garantir uma renda mínima para os pequenos clubes, que nesse momento não tem como pagar atletas e funcionários. Garantindo dessa forma a sobrevivência desses trabalhadores e trabalhadoras, enquanto as competições estão paralisadas.

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