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BRASIL

A estatização das empresas aéreas

Entre as grandes empresas, as aéreas são as mais afetadas até o momento. Sem auxílio governamental não devem sobreviver aos efeitos da pandemia. É hora de discutir sua estatização

Por: Lucas Fogaça, de Porto Alegre (RS)
Divulgação / Alitalia

O tamanho da crise nas empresas aéreas

Segundo levantamento do portal Nexo, 70% da frota da Latam está parada. Na Gol o número sobe para 90%. A queda na procura de voos internacionais e domésticos entre 16 e 20 de março gira em torno de 85% e 50%, respectivamente.

A queda afeta não só as empresas aéreas, mas as operadoras de aeroportos, fabricantes de aeronaves e toda a cadeia de produção e fornecimento ligada ao transporte aéreo.

Privatização dos lucros, socialização dos prejuízos?

Quando começaram a surgir os primeiros sinais da crise, as empresas aéreas correram aos governos pedindo socorro. Trump liberou 50 bilhões às empresas aéreas norte-americanas e governos de outros países concederam isenção de impostos e abriram linhas de crédito específicas. Bolsonaro também já editou Medida Provisória com medidas de auxílio ao setor.

Os trabalhadores de todo o setor aéreo serão os mais prejudicados pela crise do setor

Os trabalhadores de todo o setor aéreo serão os mais prejudicados pela crise do setor. É no prato do metalúrgico do Embraer, da faxineira do aeroporto, do atendente da companhia aérea que vai faltar comida. O governo deveria agir para auxiliar as pessoas, não as empresas. Quando as empresas estão bem, não nenhuma “cortesia” aos trabalhadores. Quando estão mal, a primeira coisa é cortar direitos e empregos.

A questão que se coloca é a seguinte: por que em momentos de crise os liberais querem muita intervenção do Estado na economia, mas em momentos de prosperidade econômica, não? Quer dizer, querem a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos. Esse filme já vimos centenas de vezes e o exemplo mais eloquente é a crise de 2007/2008 quando os governos de todo o mundo agiram para salvar os banqueiros – sujos até o pescoço em especulações ilegais.

As grandes empresas que não se prepararam para a crise que se virem. O capitalismo é uma selva e vence o mais forte, não é?! Nenhum dinheiro público deve ser usado para salvar grandes empresários – que mesmo que quebrem em nenhuma hipótese faltarão itens básicos para uma vida digna como alimentação, vestuário e moradia.

O que fazer?

O transporte é um serviço essencial em qualquer sociedade e o Brasil não poderá abrir mão do tráfego aéreo. Perante essa enorme crise que afeta o setor, o governo federal deve agir energicamente para estatizar as empresas fundamentais de todo o setor aéreo que começarem a quebrar. Já há, inclusive, previsão legal para essa hipótese e foi o que fez o governo italiano com a Alitalia – empresa aérea italiana.

Essa é a melhor forma de impedir que os grandes empresários se aproveitem da crise para lucrar ainda mais, a exemplo do que fizeram os CEOs dos bancos na crise de 2007/2008; de garantir a manutenção dos serviços e dos empregos dos trabalhadores; e de, a partir da estatização, fazer uma mudança estrutural no setor que envolva: um novo conceito de transporte e uso dos combustíveis fosseis em face do aquecimento global; a redução de preços das passagens e aumento o conforto aos passageiros; e trabalho digno e seguro aos empregados. Afinal, uma economia aérea estatizada será necessariamente voltada a qualidade do serviço e não ao lucro.