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BRASIL

Bolsonaro e a estratégia do gabinete do ódio

Luciana Boiteux *

Alan Santos/Fotos Públicas

A estratégia do Bolsonaro, de tentar salvar a economia e apenas trancar os idosos chegou a ser aplicada na Itália, em 28/02. O resultado, a gente vê nas notícias atuais: a economia não se salvou e milhares de italianos morreram, a epidemia se fortaleceu.

No Reino Unido, o separatista europeu Boris Johnsson também veio com essa conversa e teve que voltar atrás, ao ser confrontado com previsões alarmistas de especialistas do Imperial College.

Pelas estimativas, no Reino Unido 250.000 pessoas iam morrer se ele seguisse aquela estratégia de abrir escolas e comércio e deixar as pessoas andarem livremente pelas ruas.

Bolsonaro ao, tardiamente, propor a estratégia mortífera, tenta justificar sua instintiva e temerária visão anticientífica, na linha dos radicais antivacina e terra plana, manifestada desde o início, em contraposição a uma posição técnica do ministro da saúde, de quem tem ciúmes.

Nos EUA isso também aconteceu. Trump tem a mesma postura irresponsável, o que leva hoje os EUA a serem considerados o novo epicentro da pandemia no planeta.

Além de copiar seus comparsas extremistas, no alinhamento suicida e populista, Bolsonaro, ontem, falou direto para suas bases mais radicalizadas que andavam atônitas sem saber o que fazer, uma vez que os seus apoiadores medianos já tinham se dado conta da tragédia anunciada.

Dirigido pelo filho Carlos, ele ontem usou da estratégia do “gabinete do ódio” para soltar veneno contra o ministro da saúde e governadores, que vê como rivais, contra a imprensa (sarcasmo cotidiano) e tentou se colocar como o presidente preocupado com a economia e as empresas.

Assim, procura manter perto seus seguidores mais radicais, que acreditam em mamadeira de piroca, kit gay, terra plana e negam vacinas e orientação médica, e empresários como o Veio da Havan, o Justos e aquele do Madero, que pensam que pessoas podem morrer, mas seus lucros não podem cessar.

A economia vai ser impactada de qualquer jeito, ao invés de propor políticas de minimização desse impacto, como ampliar a proteção social, ele prefere não se responsabilizar por nada, para depois dizer que foram os governadores que quebraram o Brasil, mas que ele não concordou.

Como sempre fez, aliás, o método Bolsonaro é criar fakenews, não se responsabilizar por nada e seguir na linha, ninguém me atinge, os outros são sempre culpados por tudo, querem disputar com ele, etc. Imaginem os grupos de zap dessa turma como não está hoje cheio de mentiras.

Alguns vão acreditar, e o tal gabinete do ódio, pago com dinheiro público vai seguir espalhando mentiras que podem colocar em risco a vida da população. O plano é provocar esses mais radicais para ainda ter alguma base de apoio para reagir às ameaças contra ele.

Temos que ter muita calma nessa hora, pois Bolsonaro está jogando sujo. Penso que tudo o que ele quer é uma desculpa para dar um golpe e endurecer o regime do seu modo, se colocando como vítima de um golpe e se justificando com um contra-golpe. Ele não é louco.

Louco ele não é, pode ser mau caráter, criminoso, mas não podemos subestimá-lo, nem o grupo de radicais que o segue. Tudo o que ele quer agora é se vitimizar por ameaças, precisamos derrotar o projeto Bolsonaro, que também é o do Mourão, Guedes e Moro.

Pedir o impeachment, cujo processo de início depende da posição do Rodrigo Maia, e que prevê um processo longo (como tem que ser), não me parece a opção mais acertada para o pedido #ForaBolsonaro nessa epidemia. Que Bolsonaro tem que sair, não há dúvidas, a questão é como.

Afinal de contas, como esquerda, temos a tarefa de derrotar o projeto Bolsonaro e não fortalecer Mourão, Guedes e Moro e o neoliberalismo pseudo humanizado. Temos que disputar consciências e agir coletivamente, mesmo em confinamento.

 

*Advogada, professora de Direito Penal e Criminologia da UFRJ e suplente de deputada federal pelo PSOL/RJ.

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