Em meio ao avanço da pandemia do Coronavirus (COVID 19) no Brasil e no mundo e pessoas com medo de andar nas ruas devido aos riscos de contágio, mas ainda sendo obrigadas a sair para garantir seu pão de cada dia, pela insistência de muitas empresas em não suspender suas atividades, com o aval de governos como Dória e Bolsonaro, como acontece com as empresas telemarketing, na semana que passou ocorreram várias manifestações de insatisfação e paralisações de trabalhadores e trabalhadoras do ramo nas cidades de São Paulo, Limeira, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Goiânia e Teresina.
Essas mobilizações ocorreram devido as empresas não estarem cumprindo as normas de higiene e de isolamento e distanciamento social estabelecidas pela OMS, agências sanitárias e órgãos de saúde, submetendo trabalhadores e trabalhadoras de telemarketing ao risco de contaminação pelo COVID 19, seja através do deslocamento aos seus locais de trabalho, seja nos próprios locais de trabalho onde esses trabalhadores e trabalhadoras passam horas compartilhando o mesmo espaço em distâncias inferiores a 1,5 metros. Uma clara demonstração de que as empresas do ramo não pensam na vida de seus empregados, mas apenas em seus lucros.
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VÍDEO: Trabalhadores de telemarketing protestam em Poá (SP)
Uma das empresas do ramo, a Teleperformance Brasil, por exemplo, que diz ser uma empresa diferenciada das outras, que seu tratamento com os operadores é diferenciado, não está realizando limpeza regular dos espaços da empresa. No último sábado, uma denúncia de um operador apontava que a empresa funcionava sem garantir limpeza nos banheiros, reposição de papel higiênico, álcool em gel. Sem contar que recentemente houve a aprovação de uma PLR miserável de apenas R$130,00 depois de muita briga d@s trabalhadoras e trabalhadores e do sindicato da categoria, pois se dependesse da empresa não seria paga nenhuma PLR.
Na empresa Almaviva, houve uma paralisação de seus operadores exigindo a suspensão das atividades. O PSOL Poá também realizou uma denúncia das empresas TMKT e Audac, que atuam na região, pois estas empresas não estão atendendo as medidas de segurança contra o COVID 19. A Audac, por exemplo, não está realizando a limpeza de computadores e teclados e não está liberando os trabalhadores que compõem os grupos de risco da atividade presencial na empresa. Essa empresa é prestadora de serviços da Sabesp, empresa de saneamento do governo do estado de São Paulo, que deveria atuar para garantir o respeito pela empresa às orientações sanitárias que a própria Secretaria de Saúde estabeleceu para preservar a saúde de seus funcionários.
A empresa Alliar, que realiza agendamento de consultas para convênios médicos, estava obrigando funcionários a assinarem um contrato de licença, com opções de ficarem 60, 90 ou 120 dias em casa, para receberem apenas 20% dos seus salários. Um absurdo completo, pois o salário de um atendente já é baixo e essa medida desrespeita o que está previsto na CLT, que prevê reduções de até 25% dos salários.
Esses casos e exemplos do que têm enfrentado as trabalhadoras e trabalhadores das empresas de telemarketing são as expressões mais gritantes deste setor da economia, que historicamente é marcado pela aglomeração de funcionários, que trabalham em locais fechados, com pouca distância entre um e outro, com um dos piores salários (a grande maioria ganha somente o salário mínimo) e no qual a presença de negros e negras, mulheres e pessoas LGTQI’s, os mais oprimidos e explorados na sociedade capitalista, é gigantesca.
Desconsiderando essa dura realidade enfrentada pelas trabalhadoras e trabalhadores do setor de telemarketing, que se mobilizam em defesa de suas vidas, e demonstrando seu compromisso com os empresários do setor, Bolsonaro decretou, no último sábado (21), o ramo como serviço essencial, numa categórica tentativa de impedir o prosseguimento das mobilizações e greves. Com este decreto o presidente neofascista cometeu um ato irresponsável com a vida de milhares de trabalhadoras e trabalhadores, que seguirão sendo expostos aos riscos de contágio pelo vírus ao deixar as empresas de mãos livres para adotarem ou não o Home Office, de acordo com seus interesses.
A maioria dos trabalhadores deste segmento são pobres que moram em favelas e nas periferias das cidades e todo dia vão voltar para suas casas correndo o risco de trazerem o COVID 19 para seus familiares. Terão que recorrer ao SUS, sucateado por anos de baixo investimento e pela EC 95 (Teto dos Gastos), pois quando uma empresa de telemarketing paga um convênio, geralmente desconta uma parte no holerite, sem garantia de cobertura integral. Em outras palavras, o funcionário terá que pagar pela sua recuperação.
Os sindicatos dos trabalhadores de telemarketing, em sua maioria, estão enfraquecidos, devido aos baixos índices de filiação e a alta rotatividade que predomina no setor. Em sua maioria, são controlados por burocracias distantes das bases e que pouco procuram organizar a luta nos locais de trabalho. Por isso é determinante que as trabalhadoras e trabalhadores pressionem seus sindicatos para denunciar e pressionar as empresas a colocar a vida dos trabalhadores à frente dos lucros, organizando a luta coletiva para paralisar as atividades ou estabelecer o Home Office durante o período de quarentena.
Bolsonaro, em entrevista ao programa do Ratinho (SBT), disse estar ciente de que vão morrer muitos, mas a economia não pode parar, e esses que vão morrer tem endereço e perfil: são os mais pobres, das favelas e periferia, negros, mulheres, LGBTQ’s, exatamente o perfil predominante dos trabalhadores e trabalhadoras de telemarketing, pois os donos das empresas seguirão com suas fortunas garantindo seu isolamento social e o atendimento médico em hospitais de ponta, como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês.
Por isso temos que exigir de Bolsonaro, Doria e demais governos, que nossas vidas estão acima do lucro, nossas vidas são mais importantes. A economia não pode ser salva com nossos cadáveres!
Já que consideram o setor como essencial, devemos ter garantidas nossa dignidade, salários melhores, o estabelecimento do Home Office e a disponibilização gratuita de kits de higiene pessoal, pois são muitos que lucram em cima dos trabalhadores do telemarketing: bancos, operadoras de cartões de crédito e de telecomunicações, serviços de streamming. Empresas que lucram absurdos com nossa exploração.
Nossas vidas estão acima dos lucros!
* O verdadeiro nome foi preservado, para evitar perseguição ou retaliações ao autor deste texto.
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