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BRASIL

Parar tudo agora ou arcar com 1 milhão de mortes

Debate sobre riscos à economia e falta de assistência social esconde sanha inescrupulosa por lucros

Edgar Passos, de Poá (SP)

Um estudo realizado pela Imperial College London estabeleceu as projeções para as consequências da pandemia provocada pelo novo coronavírus nos EUA e Reino Unido e têm sido utilizado como principal parâmetro para as ações dos governos no combate à doença. Uma análise desse estudo, transpondo os resultados para a realidade brasileira, foi realizada pelo virologista Átila Iamarino. Ele alerta que mesmo com as atuais ações de mitigação, que reduzem a circulação de pessoas, teremos pelo menos 1 milhão de mortes até agosto. Segundo Iamarino, a única alternativa é a supressão total da circulação de pessoas, com a manutenção estritamente de atividades essenciais. Sobre as dúvidas relativas às consequências econômicas de manter todos em casa, o especialista é categórico em afirmar que esta é uma opção entre preservar centenas de milhares de vidas ou arcar com 1 milhão de mortes.

Não são poucos os céticos quanto a gravidade da situação, começando por Bolsonaro, que chama de gripezinha a Covid 19 mesmo diante do crescimento de casos e das primeiras mortes provocadas pela doença no país. Os argumentos contra o isolamento geral da população seriam as consequências econômicas. É verdade que o sustento das famílias está ameaçado, mas não é essa a preocupação no andar de cima. O que inquieta Paulo Guedes e os endinheirados é o quanto deixarão de lucrar neste período.

Apesar da pompa no anúncio do plano econômico para combate à crise, de R$ 170 bilhões, quase tudo consiste na antecipação de benefícios já concedidos à segurados pelo INSS. A única medida que representa uma injeção de novos recursos seria um benefício provisório de R$ 200 destinado a cerca de 20 milhões de pessoas. Um investimento de apenas R$ 12 bilhões em um período de três meses, que será insuficiente para os contemplados e ainda excluirá pelo menos outros 18 milhões de informais e outros tantos que devem engrossar a fila do desemprego.

Apenas R$ 12 bihões? Sim, apenas! Pois em isenções fiscais para empresas em 2019,  o governo federal abriu mão de R$ 306 bilhões, sem epidemia ou crise econômica. Agora, enquanto encaramos a pior tragédia sanitária da humanidade desde a gripe espanhola, o governo destina 25 vezes menos recursos para garantir a alimentação de quem não tem alternativa.

Numa comparação didática, se garantíssemos um benefício de 1.000 reais para a metade mais pobre do país, cerca de 105 milhões de pessoas, pelos próximos três meses, o investimento seria de apenas R$ 315 bilhões. Sim, com a mesma generosidade dedicada à mega empresários em tempos de normalidade, podemos garantir condições dignas aos mais pobres para enfrentar o isolamento dos próximos meses.

Quanto às demissões, redução de salários e demais medidas que jogam sobre os trabalhadores as consequências da epidemia, a lógica é a mesma: prevalece o lucro sobre as necessidades da humanas. É possível, manter os salários, empregos, garantir o isolamento de todos e dirigir esforços e investimentos no atendimento médico dos que certamente precisarão. Prefeitos e governadores podem e devem manter trabalhadores terceirizados em licença remunerada, distribuir a alimentação prevista para a merenda escolar na forma de cestas básicas. É apenas uma questão de opção, queremos uma minoria endinheirada preservando lucros sobre 1 milhão de cadáveres ou centenas de milhares de vidas preservadas usando esses recursos?

O combate à esta pandemia nos faz encarar a face mais perversa do sistema econômico que domina o planeta: o acúmulo de riqueza acima de tudo. Se queremos superar esta e encarar as futuras epidemias, catástrofes ambientais e crises econômicas temos de superar o individualismo martelado sobre nossas cabeças diariamente e retomar a luta coletiva dos  trabalhadores por uma sociedade onde nosso trabalho não esteja a serviço do lucro, mas da igualdade entre os seres humanos, da busca pelo equilíbrio ambiental e da garantia de algum futuro às próximas gerações.

 

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