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COLUNISTAS

Qual futuro depois da pandemia?

Por Henrique Carneiro

Vivemos uma mudança de era. Em menos de três meses e o mundo está vivendo uma crise cujas consequências são de mudança de uma era. O ano de 2020 não será conhecido apenas como o ano da pandemia e da pior crise econômica, mas como o da mudança de muitos paradigmas. Como historiadores, devemos todos refletir sobre isso.

Qual será o futuro a partir dessa crise? De imediato, isso vai fortalecer a direita ou a esquerda? O coronavírus reelege Trump ou muda o governo nos EUA? A hegemonia estadunidense será fortalecida ou enfraquecida diante da China?

O papel do estado na economia, especialmente na área social, será revalorizado numa perspectiva de esquerda, coincidente com um dos pontos centrais do programa de Bernie Sanders, ou haverá um ainda maior crescimento do capital privado da indústria médica e farmacêutica?

A quarentena será uma forma hipertrofiada de poder biopolítico dos estados, com capacidade para proibir até festas de aniversário ou funerais, separar pacientes em agonia de qualquer contato com parentes e entes queridos, que irá contaminar a cultura global com um ainda maior tabu no contato intercorporal?

O encapsulamento em vivências virtuais com interações sociais apenas por meio de telas será ainda mais reforçado intensificando de forma paroxística a condição contemporânea já patológica de compulsividade na digitação contínua na economia da atenção capturada?

Ou haverá uma rearticulação das esferas públicas por meios digitais, inclusive na perspectiva de expansão da participação democrática em sociabilidades e meios de pressão pela internet?

A cultura burocrática ritualística das reuniões presenciais será substituída por uma interação totalmente descorporificada. Por email, zap e vídeo-conferência se poderá mudar as práticas de gestão administrativa em todas as esferas?

O dinheiro em papel, infecto veículo de micróbios, será totalmente abolido e tudo se poderá pagar por celular?

O colapso financeiro levará ao império das moedas eletrônicas?

Será um cenário como em 2008, com os estados conseguindo salvar bancos e empresas com o comprometimento de recursos públicos que levaram depois à diminuição do poder de compra e aumento da miséria?

E, depois, teremos como a partir de 2011, uma reação social de revoltas de massas, com primaveras dos povos tornando a revolução o novo contágio, ainda mais epidêmico?
E as forças do fascismo, serão reforçadas, com imposição de controles totais de fronteiras, xenofobia oficial e proibição de estrangeiros, com poderes políticos sanitários absolutistas, impondo um neo-higienismo racista e militarista?

Ainda não se sabe se os EUA e, principalmente, o sul pobre do globo, vão repetir os cenários chinês e europeu. Ainda não se deu um cenário catastrófico num país pobre e densamente povoado. Mas, as perspectivas da nova era estão traçadas, falta definir em qual intensidade isso ocorrerá.

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