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BRASIL

A precarização do trabalho também chega na creche dos seus filhos

Dayane Evellin*, de Fortaleza, CE
Reprodução

Na noite desta sexta-feira (13), foi veiculada uma notícia através das redes sociais, que relatava o falecimento de uma criança de dois anos, durante o dia letivo, em uma creche particular de Fortaleza. A menina fora encontrada na piscina, segundo a reportagem, depois de doze minutos submersa. Para além da tragédia e da dor que a família deve estar sentindo, gostaria de atentar para um fato: a notícia fala que a professora responsável pela turma se ausentou da sala no horário do descanso dos alunos para realizar “outras atividades profissionais”.

Para quem não é familiarizado com a rotina escolar, eu explico: isso significa que a professora tem que trabalhar em outra atividade na escola no lugar de ficar observando as crianças no horário de descanso, pois isso muitas vezes seria considerado um descanso para ela também. Pasmem, não podemos ficar parados, e as justificativas para esse tempo que julgam ocioso são, por vezes, absurdas e imorais.

Ora, eu não trabalho com crianças, sou professora do Ensino Médio, mas já trabalhei mais de uma década em escolas privadas da cidade que têm Ensino Infantil, é um cenário capitalista de exploração absurda da classe trabalhadora. Esse é um dos preços desse projeto de transformar a educação em mercadoria. O que acontece, na maioria dos casos, é um grande número de crianças para uma só profissional dar conta. Se isso não é precarização do trabalho, me digam: o que é? Em vista do lucro, donos de escola não contratam auxiliares, ou por vezes, apenas uma para várias turmas.

Fico pensando sobre um dos maiores argumentos de quem defende o atual governo e, por consequência, suas reformas, que é o tal de “é pela família!”. Esses indivíduos parecem não se dar conta de que a precarização do trabalho vai esbarrar até mesmo na creche de seus filhos. O argumento se torna ainda mais cruel quando, ao ler os comentários, indivíduos relatam que pagam mais por instituições que têm várias auxiliares, ou seja, ignorando a situação social da maioria da população, necessariamente defendem a família de quem? Parece que somente a sua. Precisamos entender que quem destrói famílias não são relações homoafetivas e independência feminina como as fake News que elegeram esse governo propuseram, mas sim o capitalismo e a exploração que ele promove. A culpa é desse sistema que nos submete! Vamos entender logo isso, pois é urgente a consciência de classe. Todo sentimento à família e todo apoio à professora.

 

*Professora de Filosofia da Rede Estadual (CE); Licenciada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Especialista em Educação (UFAL) e Mestranda em Ensino de Filosofia (UFC).