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BRASIL

Considerações sobre caminhos para o controle do Coronavírus

Karine Afonseca*, Brasília, DF
NIAID

Maryland 12 03 2020 Novo SARS-CoV-2 de Coronavírus Micrografia eletrônica de transmissão de partículas do vírus SARS-CoV-2, isoladas de um paciente. Imagem capturada e aprimorada de cores no NIAID Integrated Research Facility (IRF) em Fort Detrick, Maryland.

Como enfermeira, especialista em saúde do idoso e mestre em saúde coletiva, quero colocar algumas questões importantes a serem pensadas por nós profissionais de saúde, agentes políticos e autoridades.

1- Na Vigilância em Saúde não fazemos ações baseadas em achismo, por isso dados, estatísticas, pesquisas são tão importantes para orientar os profissionais dessa área. Hoje, não sabemos como o corona vai se comportar em um país tropical, o Brasil é o primeiro país da América Latina a ter seu período de pico e crescimento exponencial dos casos. Mas, nós sabemos o comportamento do vírus na China e Itália, já sabemos as medidas que foram tomadas ou negligenciadas que deram certo, ou não.

2- Independente da taxa da mortalidade do Coronavírus ser menor que da tuberculose, HIV, em todo o mundo, o que preocupa é sua rápida disseminação e agravamento em pessoas com doenças crônicas (hipertensos, obesos, desnutridos, etc). Hoje, a mortalidade do corona é menor que na maior parte das doenças, nós temos um curto tempo de observação dessa doença (3 meses). Só vamos poder falar sobre o impacto de morte, após um período maior que de três meses e com diferentes perfis populacionais atingidos.

3- A OMS e os países que estão enfrentando o pico do Corona têm claro que o caminho de controle são medidas individuais e coletivas combinadas de prevenção de contágio e controle de fluxo populacional. A China só conseguiu controlar a rápida contaminação populacional depois que deixou 56 milhões de habitantes de Wuhan em isolamento domiciliar por 30 dias. A Itália só depois de 7 mil casos confirmados e 350 mortes tomou tal iniciativa e ainda está tendo dificuldade em manter a população em casa. O isolamento na Itália vai até o dia 5 de abril.

4- Outro caminho a ser adotado pelas autoridades é: não investir em ações coletivas de isolamento e controle de fluxo populacional, ver como o vírus vai se comportar em seu território e caso a situação se torne muito grave (muitos contaminados e casos graves) adotar as medidas mais de cura e tratamento da doença (construir unidades hospitalares de emergência, por exemplo), combinadas com as quarentenas e tardiamente controlar o fluxo populacional e arcar com as consequências… isolamento em tempo maior que os 14 dias e todo o prejuízo que ainda não estão claramente dimensionados.

5- As autoridades brasileiras, desde o presidente, até os agentes de vigilância em saúde e nós de organizações políticas, temos um difícil e importante debate: vamos defender medidas preventivas mais duras desde já (controle de fluxo, suspensão de aulas, de atividades com aglomeração, etc) ou esperar o comportamento do vírus no país e ver o quanto de impacto na saúde da população ele vai ter?

6- Cada região do país tem a expressão do contágio de forma diferente. É importante que as medidas sejam regionalizadas. Em São Paulo, por exemplo, onde já tem transmissão comunitária entre a população, sendo o epicentro do corona no Brasil, ao meu ver as medidas de controle e de aglomeração e fluxo populacional já deveriam estar sendo colocadas na mesa. Ao contrário do Piauí, que até o momento não registra casos, tem tempo para planejar medidas mais preventivas individuais e de fluxo de atendimento nos serviços de saúde, ou Brasília, que tomou uma medida precipitada e injustificada ao suspender aulas e grandes eventos.

Essas são algumas ponderações para nos posicionar politicamente melhor em meio às incertezas do Corona. Não sejamos alarmistas nem imprudentes… cada dia do corona no Brasil será uma novidade. Essa é a conjuntura mais dinâmica que vamos enfrentar nos próximos meses.

*Karine Fonseca é enfermeira

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