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EDITORIAL

8M reafirma o vigor feminista no mundo e dá o tom da resposta a Bolsonaro nas ruas

Editorial 11 de março
Coordinadora 8M

Felizmente, estamos nos acostumando em abrir as páginas dos jornais após o Dia Internacional das Mulheres, e nos depararmos com mobilizações multitudinárias ao redor do mundo. Em 2020, o protagonismo está na América Latina. As mulheres do Chile, México, Argentina, Colômbia, Uruguai, Brasil, Equador, Peru ecoaram juntas um grito de basta à violência, ao saque de direitos elementares e à morte de meninas e mulheres pelo aborto clandestino.

As chilenas levaram a rebelião dos trabalhadores e povos oprimidos para este dia e fizeram história, construindo a maior mobilização do país, com 2 milhões de pessoas, segundo a Coordinadora 8M. No México, após mobilizações multitudinárias no domingo (8), na segunda-feira, dia 9, as cidades amanheceram vazias, as mulheres realizaram uma inédita greve, com adesão impressionante, atingindo até âncoras de jornais que deixaram seus postos vazios na televisão.

Em todos os continentes as mulheres deram seu recado, realizando de fato uma mobilização internacional e reafirmando o vigor do movimento de mulheres que é, hoje, a primeira trincheira da luta contra a extrema-direita, os ataques à liberdade e aos direitos sociais no mundo.

No Brasil, após a corajosa e forte greve petroleira que atravessou fevereiro, era a vez das mulheres responderem ao completo desmonte dos serviços públicos, ao desemprego, à precarização absurda da vida e à correspondente escalada autoritária de Bolsonaro, que ameaça dar um passo em frente no processo de fechamento do regime que ocorre no país.

Assim como tem sido nos últimos anos, as mulheres tomaram em suas mãos a responsabilidade por levar às ruas o enfrentamento direto às idéias neofascistas que estão nos levando à barbárie. Relembramos o histórico #EleNão, levantamos mais uma vez a palavra de ordem “Mulheres contra Bolsonaro”. Pelas nossas vidas, por Marielle, por democracia e direitos marchamos em todas as capitais e importantes cidades, em sua ampla maioria com atos unificados. Lamentamos a opção, feita pelas companheiras do PT, em dividir o ato em Natal (RN). Frente à vitoriosa unidade nacional fica o alerta de que não podemos vacilar diante de nossos inimigos.

No Brasil, estamos cruzando uma tempestade conservadora, que encharcou a consciência de muitos setores da sociedade. Vimos, no início do ano, pesquisas revelarem o aumento da popularidade de Bolsonaro e sua ministra Damares, que escolheu o feminismo como um de seus principais inimigos a ser combatido. Sem dúvida, isso impacta o conjunto dos movimentos sociais. No entanto, diante da ameaça de golpe, com a convocação por parte de Bolsonaro das mobilizações do dia 15 de março contra o Congresso e o STF, coube mais uma vez às mulheres abrirem as portas para um março de lutas contra este governo. Enquadrados neste momento da conjuntura, realizamos atos fortes, repetindo o padrão de anos anteriores, tendo papel fundamental em mostrar o potencial de resistência das mulheres a serviço da luta geral do conjunto dos trabalhadores e oprimidos.

Está nítida, portanto, a necessária continuidade deste processo de mobilização, emprestando todo o empenho deste movimento aos atos do dia 14 de março, quando fará dois anos do assassinato de Marielle Franco, fato que nos fez atravessar a fronteira da barbárie. E, mais à frente, a construção de um grande dia unificado de lutas por direitos e democracia, o 18M.

É neste sentido que o movimento feminista acumula uma segunda responsabilidade. Saudamos a reunião entre mulheres dos partidos e organizações dos movimentos sociais que contou com representações do PT, PCdoB, Psol, PCB, PSTU, MST, MTST, Marcha Mundial de Mulheres e Marcha de Mulheres Negras. Depositamos nossa confiança de que, se vencermos o desafio da constituição da frente única, estaremos muito mais fortes para derrotar o fascismo no Brasil e sabemos que é do movimento feminista que podem vir os melhores exemplos de unidade e luta. Como estamparam as chilenas em suas faixas, “Juntas fazendo história. É preciso continuar. Queremos mais!”.

Marcado como:
8M / mulheres