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Índia: Modi recebe Trump para alegria da indústria armamentista

Organizar a resistência contra a extrema direita internacionalmente

Reprodução AFP

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

No início da semana, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, organizou um grande comício para receber Donald Trump. O evento levou mais de 100 mil indianos para uma inauguração de um Estádio de Críquete (esporte muito popular na Índia), na região de origem de Modi, com direito a apresentação de músicos e artistas populares.

Trump discursou por cerca de 27 minutos, em evento que já está sendo considerado o maior comício do atual presidente estadunidense fora de seu país. Em um ano de eleições presidenciais nos EUA, Modi acabou dando uma contribuição para a campanha de reeleição de seu aliado.

O presidente dos EUA visitou o gigante país asiático por apenas 36 horas. Pouco tempo, mas o suficiente para serem anunciados acordos comerciais, especialmente referentes a venda de armas e equipamentos militares para Índia.

Em seu discurso, Trump chegou a afirmar: “Nós fabricamos as melhores armas de todos os tempos. Aviões. Mísseis. Foguetes. Navios. Nós fazemos as melhores e estamos negociando com a Índia agora. Isso inclui sistemas avançados de defesa aérea e veículos aéreos armados e desarmados”.

Segundo os dados divulgados nas agências de notícias internacionais, os valores dos negócios podem chegar inicialmente a 3 bilhões de dólares. A Índia é um dos maiores compradores de armas do mundo.

Ano passado, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em 2019 houve o maior crescimento nos orçamentos bélicos na última década, totalizando 1,73 trilhão de dólares. O EUA lidera disparado esse ranking sinistro, sendo o responsável sozinho por 39% dos gastos mundiais. A Índia ocupa a quinta no mesmo ranking.

Os crimes de Modi, o silêncio dos EUA e a resistência contra a extrema direita

Em Nova Dhéli, capital da India, segue ocorrendo uma violenta repressão as manifestações dos Muçulmanos, que começaram no dia da visita de Trump e seguem já por 4 dias, protestando contra as medidas racistas do governo Modi. Segundo a imprensa, já são 27 mortos e mais de 200 feridos.

No mês passado, Modi recebeu também Bolsonsaro, o presidente neofascista brasileiro, o transformando em um dos principais convidados internacionais nas celebrações do dia “Dia da República” na India. Na ocasião, também foram anunciados acordos comerciais envolvendo a indústria bélica. Na ocasião, também existiram protestos populares contra a visita de Bolsonaro.

Modi é um representante direto do ultra nacionalismo Hindu no governo da Índia. Seu governo vem praticando uma perseguição desenfreada das minorias na Índia, especialmente os Muçulmanos, que são cerca de 200 milhões no país.

Político de extrema direita, Modi é considerado por muitos indianos como um neofascista. Suas medidas e as ações que vem ocorrendo no país, muitas estimuladas pelo governo, são verdadeiros crimes contra a Humanidade.

O silêncio dos EUA sobre os crimes de Modi contra os diretos das minorias indianas, apenas configuram mais uma demonstração de que a política externa estadunidense nunca esteve preocupada realmente com a defesa dos direitos humanos, mas sim com a preservação e ampliação dos seus interesses comerciais e geopolíticos.

A aliança celebrada na Índia, nestas duas viagens no inicio de 2020, demonstra que é necessário internacionalizar também as lutas de resistência contra a extrema direita em todas as partes do mundo.

Uma boa oportunidade de articulação desta verdadeira frente única dos explorados e oprimidos, vai acontecer entre os dias 25 a 27 de maio deste ano, no Brasil, com a realização do “Encontro Internacional em Defesa da Cultura e contra o Neofascismo”, na PUC-SP. Fortalecer esta iniciativa deve ser um compromisso de toda a esquerda e dos movimentos sociais, não só brasileiros.

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