No dia 21 de fevereiro de 1965, quando Malcolm X discursava para centenas de apoiadores, no Teatro Audubon Ballroom, no bairro de Harlem, Nova Iorque, ele foi brutalmente executado por vários tiros, inclusive na frente de seus familiares.
Por mais de cinco décadas, a explicação para este crime, assumida oficialmente pela Justiça dos EUA, foi que ele foi morto por membros armados da Nação do Islã, organização da religião muçulmana com muitos adeptos entre os negros dos EUA, especialmente à época.
Malcolm X foi um dos grandes porta-vozes da Nação do Islã, mas acabou rompendo com ela, com fortes críticas, sobretudo ao seu líder supremo, lijah Muhammad.
Em 1964, fundou uma nova organização, a Unidade Afro-americana, aprofundando suas ideias pelo direito a autodefesa do Povo Negro nos EUA, contra a agressões e perseguições sucessivas do Estado imperialista, capitalista e racista.
Malcolm X é considerada até hoje, mesmo depois de 55 anos de sua morte, umas das personalidades históricas mais influentes nos EUA. Suas ideias e atitudes, em muitos sentidos, estiveram presentes na criação da organização Panteras Negras, pouco depois de seu assassinato político. E seguem vivas entre os que lutam até hoje contra o racismo estrutural nos EUA, em repúdio aos ataques dos supremacistas brancos e pelo fim da terrível violência policial, em movimentos como “Vidas Negras Importam”.
Existe um fato que torna ainda mais importante a lembrança deste 21 de fevereiro de 2020. Além da importância de lembrar os 55 anos do assassinato de Malcolm X, é fundamental cerrar fileiras e pressionar a justiça estadunidense para a reabertura das investigações sobre sua morte.
Uma série (documentário) com o título “Quem matou Malcolm X?”, disponível aos assinantes da Netflix, apresenta com muita nitidez as incríveis inconsistências sobre a solução deste importante crime político. Por exemplo, um dos presos, assassino confesso de Malcolm X, inocenta os outros dois presos, e indica outros quatros responsáveis.
Uma grande questão segue sem resposta: os órgãos de Estado e repressão dos EUA, especialmente a CIA, realmente não tiveram nenhuma responsabilidade no assassinato de Malcolm X. Sem dúvida, sua morte interessava muito ao poder estatal dos EUA.
O que se pode afirmar, desde já, e com firme convicção, é que foi muito estranha a ausência de policiais no dia do discurso de Malcolm X no Harlem, lembrando que ele era de conhecimento de todos (e da política também) que o líder negro já sofria várias ameaças de morte, e já havia acontecido, inclusive, um atentado contra a sua residência, um pouco antes do seu assassinato.
Outro aspecto relevante foi a rapidez com que foram concluídas as investigações e dada a solução judicial para este assassinato brutal. Demonstrando de forma inequívoca que havia o interesse de logo fechar esta grave ferida política.
A possibilidade de reabertura das investigações agora só se explica pelo crescimento dos movimentos contra o racismo nos EUA. Afinal, as informações que hoje são consideradas relevantes para a reabertura do caso, já estavam disponíveis há pelo menos 3 décadas.
Portanto, apenas a mobilização nos EUA e uma campanha internacional pode garantir que as investigações sobre a execução de Malcolm X sejam realmente reabertas.
Até o momento isto não está totalmente garantido, mesmo com todas a pressão política dos movimentos contra o racismo, e foi apenas iniciada uma revisão de todos os documentos disponíveis no processo. Um primeiro passo, mas que não pode ficar paralisado por vários anos.
Precisamos exigir a reabertura de toda a investigação, para sabermos realmente quem matou e, principalmente, quem mandou matar Malcolm X.
O que une Malcolm X e Marielle Franco
É impossível terminar este breve artigo sem fazer referência aos elos históricos e políticos que unem o brutal assassinato de Malcolm X, 55 anos atrás, nos EUA; com a execução da vereadora do PSOL carioca, Marielle Franco (e Anderson Gomes), outro terrível crime político, que vai completar 2 anos no dia 14 de março de 2020, e ainda está sem uma solução pela polícia e a justiça brasileira.
Ambos lutaram contra o racismo estrutural, que está no DNA da formação social tanto do Brasil como dos EUA. Ambos fizeram uma luta por trazer para a arena da mobilização popular e para a luta política setores excluídos da sociedade.
Por isso, sofreram a perseguição dos setores mais reacionários e racistas da sociedade capitalista. Assim como não devemos admitir que a execução de Malcolm X, mais de 5 décadas atrás, fique sem uma solução verdadeira, não devemos deixar de cobrar, atualmente no Brasil, uma efetiva solução para a execução de Marielle e Anderson.
Sobretudo devemos cobrar que as investigações sobre o assassinato de Marielle, como a reabertura do caso sobre o de Malcolm X, cheguem ao ponto de colocar realmente o dedo na ferida: a participação de braços do Estado racista e capitalista em ambos crimes políticos.
A cada dia mais vamos cobrar e queremos saber: Quem matou e mandou matar Malcolm X e Marielle Franco. Nunca esqueceremos.
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