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MUNDO

Projeto de construção de gasoduto em terras indígenas provoca uma onda de lutas no Canadá

População ancestral indígena Wet’suwet’em resiste e protestos bloqueiam circulação de trens no país

Rogério Freitas, do Canadá

O Canadá tem uma dívida histórica com as populações indígenas. Forças policiais criadas há mais de 150 anos e colonos britânicos invadiram as terras indígenas. As guerras, massacres e a expropriação contra as primeiras nações sempre foram justificados em nome do progresso e riqueza. Nos últimos dias, protestos contra um projeto de gasoduto que atravessa o território ancestral da população indígena Wet’suwet’en, no noroeste da província de Columbia Britânica, têm agitado o país.

Trata-se do projeto da companhia Coastal GasLink, uma das maiores do mundo em construções de oleodutos e gasodutos, com atuação no Canadá, Estados Unidos e México, e que também tem instalações de armazenamento de gás natural e geração de energia nuclear. O projeto consiste em um gasoduto de mais de 670 km que passará por toda a parte norte da Columbia Britânica. Estima-se que o projeto custará 6,6 bilhões de dólares.

Há pelos menos três semanas, uma onda de manifestações tem ocorrido em várias cidades do Canadá em defesa da população indígena Wet’suwet’en. Vários manifestantes estão sendo reprimidos e presos pelas forças de segurança. Um ato em apoio às lutas em um território indígena na província de Ontário radicalizou-se e impediu o funcionamento da CN Rail, a Companhia Nacional ferroviária do Canadá. Imediatamente a Companhia anunciou a  demissão de cerca de 450 trabalhadores em suas operações no leste do Canadá, depois de cancelar mais de 400 trens devido ao bloqueio ferroviário. A ferrovia informou que a situação é “lamentável” porque os protestos impactam a economia da empresa e disse que os protestos estão fora de seu controle. A Via Rail, principal empresa pública de transporte de passageiros, anunciou no sábado, 15, que mais de 400 trens foram cancelados e mais de 83 mil passageiros não puderam pegar o trem para viajar pelo Canadá.

Darryl Dyck/Canadian Press

O Primeiro Ministro Justin Trudeau, recém reeleito com dificuldades, teve que cancelar uma viagem que faria a Barbados para uma reunião de emergência com seus ministros sobre a crise ferroviária.  As primeiras tensões sobre este projeto começaram em 31 de dezembro quando o Supremo Tribunal Federal da Província de Columbia Britânica concedeu uma liminar de expansão ao Coastal GasLink, contra os Wet’suwet’en que estavam começando a obstruir o acesso à construção. Mas os bloqueios começaram em 6 de fevereiro, quando o governo começou a aplicar a liminar na qual exige dos manifestantes o fim dos protestos.

Para desarmar a resistência, o governo e os seus aparatos midiáticos disseminam a ideia de que a população canadense é contra as mobilizações ou que os manifestantes são pagos pelas opositores políticos de Trudeau ou mesmo que os próprios indígenas são a favor da construção do gasoduto. Porém, o que se observa nos últimos dias é que as manifestações estão ganhando força e várias cidades do Canadá estão em luta e contando com a unidade entre indígenas, jovens estudantes, trabalhadores e ambientalistas descontentes com o governo e sua permissividade no que se refere a enorme exploração de empresas que degradam o meio ambiente.

O representante da Wet’suwet’en Woos disse em entrevista que não haverá nenhuma conversa com o governo federal sem que antes a RCMP (Polícia) deixe o território de Wet’suwet’en e pare com as agressões a todo e qualquer apoiador desta causa. Na última terça, 18, em Toronto, quase dez mil pessoas participaram de uma longa e volumosa manifestação em favor do povo Wet’suwet’en e pela sua soberania. Um projeto que merece todo o nosso repúdio, bem como as políticas neoliberais de concessão a devastação ambiental facilitadas por Trudeau. Declaramos nossa maior solidariedade a ancestralidade indígena do Canadá e de todo o mundo.