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O que falta para as direções dos movimentos unificarem as mobilizações?

Centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda devem construir um calendário unificado e nacional de lutas, apoiado nas mobilizações e greves que já estão acontecendo

Metroviários de São Paulo, em apoio à greve petroleira

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

No final da semana passada, teve início um processo de mobilizações e greves muito importante. Os petroleiros começaram uma greve nacional contra as demissões, os ataques aos seus direitos e o processo de privatização; os trabalhadores da Dataprev também entraram em greve e conseguiram reverter até agora as demissões, os trabalhadores da Casa da Moeda também entraram em luta e os professores da rede básica de ensino já indicaram um dia de greve nacional para 18 de março.

Ninguém deve ignorar a existência de um momento adverso para os trabalhadores, principalmente desde o golpe parlamentar do impeachment, com o governo ilegítimo de Temer e, especialmente, com a chegada do neofascista Bolsonaro à Presidência do País.

Sabemos que vivemos uma brutal ofensiva dos governos e das grandes empresas para retirar os mínimos direitos da classe trabalhadora. A Justiça também segue atacando e criminalizando os movimentos, como fez a recente decisão do TST contra a greve dos petroleiros. Também devemos ter em mente as dificuldades que se apresentam para a organização e a mobilização do nosso povo.

Entretanto, as mobilizações que ocorreram em 2019, principalmente o 15M e o 30M em defesa da educação pública, e as que estão ocorrendo agora, demonstram que tanto é possível como necessário resistirmos.

Ninguém pode garantir que vamos obter vitórias. Tivemos derrotas importantes em 2019, como a aprovação da reforma da Previdência, mas uma coisa é certa: sem lutar, de forma cada vez mais unificada, não será possível deter a atual ofensiva contra os direitos sociais e as liberdades democráticas.

Portanto, um caminho importante foi a definição pelas centrais sindicais de um novo dia nacional de lutas para o dia 18 de março. Mas, é necessário preparar de fato e pela base essa nova mobilização nacional e, de forma imediata, buscar a unificação das greves e mobilizações em curso: coordenando ações entre os Petroleiros, os trabalhadores da Dataprev, da Casa da Moeda, dos Correios que começam entrar novamente em luta e dos profissionais de educação de vários estados e municípios.

Derrotar Bolsonaro nas ruas

A estratégia de esperar as eleições de 2020 e 2022 para intensificar a oposição a Bolsonaro e seus aliados é um gravíssimo erro. Nada vai mudar para melhor em nosso país sem que esse governo neofascista seja derrotado. E não será possível derrotá-lo sem uma mudança expressiva da correlação de forças entre as classes sociais. Uma verdadeira virada a favor dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos.

E essa viragem expressiva só poderá ocorrer com mobilizações de rua e greves. Não existem atalhos possíveis. Sem uma hegemonia das lutas populares e sem uma maioria expressiva do povo trabalhador na oposição a este governo e seu projeto neoliberal e autoritário sequer será possível derrotá-lo nas urnas.

Ninguém deve negar a importância das eleições de 2020 e 2022 para a luta contra o projeto de extrema direita neofascista que ocupa o governo. Mas, em primeiro lugar, deve vir à luta direta pela consciência da maioria do povo e pela construção das mobilizações de rua.

Nesta equação política, a ordem dos fatores altera sim o produto final. Se as principais direções dos movimentos sociais, dos sindicatos e dos partidos de esquerda ficar esperando apenas o momento das eleições, poderemos ver avançar ainda mais o processo de ataques aos direitos sociais e às liberdades democráticas e, inclusive, chegar ao momento eleitoral, sem a capacidade necessária de derrotar este projeto ultra reacionário.

Portanto, o PT e, inclusive, o ex-presidente Lula, usando o apoio que ainda possuí entre os trabalhadores, deveriam apoiar publicamente as greves e mobilizações que estão ocorrendo, se colocando a frente da convocação dos protestos nacionais, já a partir do dia nacional de lutas indicado para 18 de março.

Traição: oposição não pode copiar ataques de Bolsonaro

Outro absurdo são os governadores do PT, como Rui Costa (BA) e Fátima Bezerra (RN), entre outros, e de outros partidos de oposição, aplicando reformas da previdência, e até administrativas, que são cópias às vezes literais das propostas nefastas aplicadas por Guedes e Bolsonaro na arena nacional.

Na Bahia, inclusive, a aprovação dos ataques aos servidores públicos estaduais foi realizada na Assembleia Legislativa sob forte repressão aos movimentos sindicais e sociais. Mais uma tremenda traição.

Uma verdadeira alternativa de esquerda ao governo neofascista de Bolsonaro não pode ser construída copiando o programa econômico neoliberal de Guedes. A postura traidora dos governadores do PT, e o silêncio de seus dirigentes nacionais, inclusive Lula, demonstra que este partido não aprendeu nada com o golpe e o fracasso de seus governos de conciliação com a velha direita, as grandes empresas e bancos.