Travesti, bissexual e comunista. Não é surpresa que Amanda Palha faça reacionários, conservadores e moralistas arrancarem os cabelos de tanto ódio. Um ‘alvo fácil’, mas apenas na aparência, para uma campanha de ódio contra pessoas trans, ou LGBTI de modo geral, e comunistas, ou, mais amplamente, a esquerda. Óbvio que eu tenho de defendê-la, mesmo que discordasse totalmente de seu ponto de vista.
Isso porque os reacionários da direita não se limitam a discordar nem a praguejar. Eles não sabem o que é um debate saudável, muito menos qualificado, quem dirá inteligente, baseado em fatos e argumentos. Não preciso ler os comentários, já os conheço decor e salteado: transmisoginia, xingamentos de todo tipo, ameaças de agressão e de morte em nome de um deus (que deus é esse?) e, pasmem, de Jesus, um ser humano que sabia na pele o que é ser perseguido, injuriado e ameaçado (não só ameaçado, diga-se de passagem).
Concordando ou discordando, não é a opinião da Amanda que deve ser blasfemada, mas sim o ódio transmisógino característico da classe burguesa – infelizmente também reproduzido por pessoas do povo.
O que está em discussão na defesa do ‘fim da família’
Como Palha diz, não há nada de novo. No século XIX, Engels já escrevera sobre isso, embora tenha usado outro termo: o ‘fim da unidade econômica familiar’. Muito diferente de como pessoas comuns pensam a própria família.
Ao perguntar para qualquer mulher na rua o que significa a palavra ‘família’, é muito provável que ela vai responder, quase como instinto: são os parentes, as filhas e os filhos, talvez o marido, e daí muitas vezes discorrerá sobre o amor e o carinho que tem por essas pessoas. Digo ‘mulher’ porque, infelizmente, muitos homens (embora não todos) não costumam ver a família dessa forma, mas como obrigação, obstáculo. Uma visão muito mais próxima, justamente, da família como unidade econômica familiar. Essa é, afinal, a crítica de Engels a essa instituição.
Por essa confusão no senso comum que os reaças usam e abusam é que eu não defendo simplesmente o ‘fim da família’. Não é culpa da Amanda, óbvio, até porque os reaças dificilmente vêem mais que o título de um texto ou vídeo.
Números não mentem, muito embora sejam usados por mentirosos. Veja o grande número de mães pobres, negras e solteiras que existem nas periferias da cidade para perceber que não são os ‘esquerdistas’ que estão destruindo as famílias, ou melhor, os laços afetivos familiares. Essas mulheres, justamente pelo carinho que têm por suas crianças, se dobram e se desdobram para trabalhar dentro e fora de casa. É muito difícil pagar as contas carregando uma criança de colo.
Veja a grande quantidade de pessoas LGBTI sem teto. Ouça por um minuto as histórias das travestis prostitutas nas periferias, para perceber quão perverso é o discurso de ‘defesa da família’ que as expulsou das próprias famílias. O machismo e a LGBTIfobia destroem muito mais ‘famílias’ do que qualquer esquerdista jamais sonhou em fazer.
A família, como estrutura econômica e política, especialmente como estrutura moral, é a maior causa de sua própria ruína. É essa estrutura que nós devemos destruir, justamente para que os laços afetivos e o amor sobrevivam à barbárie.
O que os conservadores têm a dizer sobre isso? Nada. Quer dizer, nada de útil, porque são uns tagarelas.
Um aspirante a ditador
Não podia faltar, óbvio, um comentário do próprio Silas Malafaia.
Vários anos atrás, assisti um vídeo dele – como sempre, berrando e carregado de ódio – que não consigo esquecer. Antes de falar mal ‘dos gays’, como sempre faz, ele falou mal de cantores e cantoras gospel porque decidiram abrir a boca pra emitir uma simples opinião sobre algum texto da Bíblia.
Ele disse algo mais ou menos assim: “A obrigação de um cantor ou cantora é cantar em nome de Deus e não falar da Bíblia. Quem tem direito de interpretar os textos bíblicos são os pastores, que são formados em teologia. Vocês não são teólogos, são cantores!”
Embora não tenha encontrado o vídeo, não é difícil achar vídeos dele esbravejando contra outras pessoas cristãs. Malafaia é LGBTIfóbico e tem fama disso, mas seu autoritarismo não se resume a isso. Ele não pretende, afinal, silenciar apenas os ‘gays’ ou adversários, mas até quem, estando do ‘lado dele’, diz algo que ele não gostou.
Imaginem esse ser humano se fosse um agente político. Diria às pessoas comum que elas não têm direito de falar sobre política. “Jornalistas, deixem a política para os políticos, vocês só têm direito de divulgar os fatos.” E, lógico, ele vai enunciar como são os ‘fatos’.
Enfim…
Não seja uma dessas pessoas que se irritam, provocam, xingam pra fugir do debate. Contra ideias, fatos e argumentos, apresente ideias, fatos e argumentos, simples assim.
Por tudo isso que defendo a Amanda Palha contra o reacionarismo, o conservadorismo e o moralismo burguês.
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