Entre os dias 18 e 25 de janeiro, ocorreu a Escola Nacional de Dirigentes da Juventude da Resistência, corrente interna do PSOL, que reuniu mais 45 jovens de todo o Brasil. O encontro foi em Taboão da Serra, São Paulo, no espaço cedido gentilmente pelos camaradas do MTST.
Nesses dias, foi possível ver uma expressão da força de uma nova geração de ativistas, aos quais foi imposta a tarefa de ser a ponta de lança da luta contra o governo neofascista de Bolsonaro. Esse momento muito duro vem sendo enfrentado com coragem e determinação. Certamente essa força vem de uma nova composição social do movimento estudantil: o encontro teve maioria de mulheres, dentre essas, mulheres negras e uma representação forte da região norte e nordeste.
Essa vivência foi repleta de experiência e trocas relacionadas a teoria marxista e as atualizações necessárias para enfrentar as questões do nosso tempo, mas também para estudar as revoluções que vieram antes de nós com toda sua complexidade e suas lições. Também houve troca de experiência prática, confraternizações com samba, funk, pagode, MPB, rap e um clima de muito companheirismo.
Nenhum tema teve conclusões que todos devem seguir, pelo contrário, todos os temas foram polêmicos e não há incômodo com isso. O estudo que traz certezas tem algo de errado. A cada pergunta que respondemos, aparecem diversas outras a serem respondidas, e assim vamos avançando. Sem dogmas, mas também sem ecletismo irrefletido, buscando construir ideias sólidas a partir do método materialista-dialético.
O tema da Teoria da Revolução Permanente a partir de uma análise crítica nos proporcionou estudar como as classes exploradas assumiram as tarefas de emancipação. As diferenças e identidades entre as revolução russa, cubana, chinesa…os processos recentes como a luta do chile, a greve internacional de mulheres, junho de 2013… Com isso fizemos o exercício de atualizar a teoria e confrontá-la com a realidade. Reivindicando sua essência, já nos permite entender como foi possível a contra-revolução que nos fez amargar a derrota do fim dos estados operários. Acima de tudo, saímos mais convictos de que as revoluções são impossíveis até que se tornem inevitáveis e que as contradições do nosso tempo, tão latentes, nos obrigam a pensar na complexidade da revolução brasileira, suas características específicas e como organizar a luta do nosso povo.
Debatemos também o tema da crise climática, o ecossocialismo e nas especificidades que tem esse tema no Brasil. A herança de Chico Mendes foi nossa referência para elaborar um programa que parta dos impactos da crise climática para nosso povo e organizar a partir daí a luta unitária, evitando transposições mecânicas para poder falar a língua daqueles que são os mais atingidos: os povos indígenas e extrativistas locais, os atingidos por barragens, os sem terra, sem teto, populações ribeirinhas, o proletariado urbano contaminado com agrotóxico, pela poluição, que sofre todos os anos com enchentes e a falta de infra-estrutura e de saúde, levando à morte centenas de pessoas todos os anos, pelos efeitos de um sistema que está degradando as condições de vida e que atinge apenas os mais pobres, mulheres e negros. Saímos convictos que é só uma revolução anticapitalista, pela justiça climática, feita pelos debaixo pode libertar a humanidade de um sistema que transforma forças produtivas em forças destrutivas.
Outro tema debatido foi a Teoria Unitária, ou Teoria da Reprodução Social, elaborada por Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e diversas outras marxistas contemporâneas. A teoria da reprodução social debate o feminismo e o marxismo, interpretando as opressões como estruturais e inseparáveis do modo de produção capitalista. Acabando com a hierarquia entre classe e opressões, o feminismo para os 99% apresenta um feminismo que podemos enxergar na realidade, nas lutas do nosso tempo. Conseguimos explicar as mobilizações geradas por temas relacionados a crise da reprodução social, como a luta por moradia, por transporte, a luta por direitos para as mulheres, contra a violência, e ver o papel do feminismo e das mulheres nessas lutas. Ver o protagonismo das mulheres negras nesse feminismo e como tudo isso só pode ser explicado por um sistema que se utiliza da opressão para seu sistema de dominação.
O tema da luta racial também foi abordado a partir das leituras de Silvio de Almeida, Lélia Gonzales, Angela Davis. Abordamos a formação do Brasil e o racismo estrutural, a importância da racialização dos povos para estabelecer o capitalismo como sistema mundial de dominação e as tarefas que advém dessa realidade. A revolução brasileira será negra, ou não será, é uma conclusão inevitável destes dias de estudos coletivos.
Foi muito importante contar com os camaradas militantes Bernardo Lima, Henrique Canary, Carolina Freitas e Martina Gomes que estudam algum desses temas para mediar nossos trabalhos e passar referências bibliográficas de cada tema.
Por último as e os dirigentes debateram o que esperamos para 2020 e as tarefas que estão colocadas para a juventude com a estratégia de contribuir para a tarefa de derrotar bolsonaro nas ruas.
O sentimento ao final da escola é de baterias recarregadas para enfrentar 2020. Agora todos voltam para seus locais de militância com a bagagem muito maior do que chegou, mas uma bagagem que não pesa em nossos ombros. Pelo contrário, nos dá condições de nos mover com mais consciência e portanto mais liberdade. Porque a militância não é um exercício de fé cega, nem um exercício de caridade, mas uma atuação consciente apoiada na história e na teoria para transformação da realidade, por isso só pode ser consciente e permanentemente criticada por nós mesmos.
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