Popularidade do governo teve leve aumento. O que fazer?

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

De acordo com a pesquisa divulgada na última semana pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 6% da população deixou de reprovar e passou a aprovar o governo Bolsonaro. Com isto, as taxas de aprovação e reprovação estariam praticamente empatadas, com cerca de 47% para cada lado. É a primeira vez que a popularidade do presidente sobe desde que ele tomou posse.

Isto não é motivo para grandes sustos. O governo tem tomado uma série de medidas para evitar as quedas de popularidade que estavam acontecendo antes. A família Bolsonaro agora tem a máquina do governo na mão e pode fazer algumas manobras.

O segredo foi não seguir à risca a política econômica do ministro Paulo Guedes, que defende apenas arrochos nos gastos sociais. De maneira esperta, o presidente recuou em algumas medidas de curto prazo. O maior exemplo foi o salário mínimo. Com a reposição prevista no fim do ano, ele iria para R$ 1.039. Mas em janeiro, foi determinado que o salário mínimo subiria para R$ 1.045.

Também tivemos o pagamento do 13º do Bolsa Família, a liberação do saque do FGTS, e até mesmo um aumento no piso salarial dos professores. Todas estas medidas foram tomadas perto do fim do ano. É lógico que haja um aumento da popularidade do governo.

Devemos comemorar que o governo recuou um pouco na sua política de arrocho. Isto é fruto da pressão que oposição vem fazendo, e devemos encarar isto como uma vitória nossa. Alguém acha que se Bolsonaro já estivesse com a popularidade alta ele iria fazer este pequeno pacote de bondades? Também interfere o fato de em 2020 termos eleições para prefeitos e vereadores.

Outros dois fatos contribuíram para este aumento de popularidade. A redução em 22% no número de assassinatos em 2019 e a pequena redução do desemprego. Mas não se sabe se a redução da criminalidade vai se manter e o desemprego ainda está longe de ser um problema solucionado.

É muito cedo para os apoiadores do governo comemorarem e a oposição decretar derrota. As medidas tomadas têm um efeito de curto prazo. É após o carnaval que a alegria acaba e o brasileiro percebe o quanto está endividado. O Brasil segue sem aumento real na sua economia e a política econômica ainda é retirar direitos dos trabalhadores a longo prazo. O governo aumentou o salário mínimo, mas fez uma reforma da previdência que vai obrigar o povo a trabalhar até morrer. Isto é populismo barato.

O pacote de medidas de curto prazo está se acabando. O governo não mudou realmente sua política econômica. Segue mantendo como prioridade no orçamento o pagamento aos banqueiros por meio da dívida pública. Bolsonaro segue a risca a regra do teto de gastos, implementada por Michel Temer em 2016. Ela impede o aumento acima da inflação nos investimentos sociais. A margem de manobra para fazer agrados ao povo é cada vez menor com esta política.

O aumento de popularidade de Bolsonaro não foi o que ele esperava e pode não se sustentar no longo prazo. Ainda é cedo para fazer previsões. Tudo depende de como o povo se mobiliza contra as maldades deste governo.

Como ganhar aqueles que não são nem contra nem a favor de Bolsonaro

Muitos militantes de esquerda ficaram espantados com o fato da popularidade do presidente aumentar mesmo depois do secretário de cultura se assumir nazista em público. Os brasileiros seriam um bando de alienados?

É errado pensar assim. Se olharmos os números da última pesquisa, seguimos com aproximadamente um terço (34,5%) da população achando o governo bom ou ótimo, um terço (31%) achando ruim ou péssimo e um terço no meio do caminho (29,1% responderam que o governo é “regular” e 2% não souberam responder a pesquisa). Isto tem sido uma constante nos últimos meses e deve se manter, a não ser que algum imprevisto ocorra.

Ganha a disputa pela opinião pública quem conquistar as mentes e os corações deste um terço da população que ainda está em cima do muro. O resto, que está a favor ou contra o governo, dificilmente vai mudar de lado. E como fazer isto?

Bom, o povo não é um bando de alienados. Na verdade, o brasileiro médio tem um senso prático bem apurado. Não é fiel a nenhuma ideologia política. Ele não se sente representado pela esquerda, que se afastou de suas bases e se burocratizou durante os anos de governo do PT. Ele também não é seguidor fiel de Bolsonaro e da direita que o apoia.

O que importa para o brasileiro médio é a sensação imediata de melhora ou piora. Se está mais fácil de arrumar emprego, se este emprego é bom, se o preço da carne está caro, se tem escola para o filho dele estudar. É isto que importa. Se lá em Brasília tem um secretário que fala besteira, isto não é prioridade para o brasileiro que levanta cedo todo dia para trabalhar.

Por isto o governo aumenta sua popularidade depois de algumas medidas que, a curto prazo, trouxeram pequenas melhoras. Se o quadro mudar, esta popularidade some rapidamente. Mas nós da oposição, o que podemos fazer para convencer o trabalhador que este governo é inimigo?

Para convencer esta parte da população que não está alinhada nem com o governo nem com a oposição, não adianta “lacrar”. Temos que falar da saúde, que segundo as pesquisas é o maior problema apontado pelos brasileiros. Temos que falar das filas do INSS, que estão cada vez maiores. Temos que falar que muita gente está recebendo o seguro desemprego em atraso. Que o Enem de 2019 foi uma bagunça e prejudicou os estudantes. Que os novos empregos que surgem são de baixos salários e sem carteira assinada. Que a inflação do aluguel este ano subiu mais que 7% e a carne está custando o olho da cara.

Enfim, quanto mais a gente se aproximar do cotidiano do brasileiro médio, mais o brasileiro médio vai ouvir a gente. Onde os movimentos sociais têm trabalho de base, as oportunidades de tentar convencer as pessoas é maior. Nestes locais, é possível ganhar a maioria contra este governo.

É lógico que é importante falar do ministro nazista ou das besteiras da Damares Alves. Aqueles que já estão na oposição devem se lembrar que este governo é um risco para a democracia e para os direitos humanos. Mas se quisermos dialogar com aquele um terço da população que está na coluna do meio, o importante é falar do dia-a-dia das pessoas. E temos que fazer isto antes que o outro lado o faça.