Nesta segunda-feira, dia 27 de janeiro, se encerrou uma visita de quatro dias de Bolsonaro a Índia, onde foi recebido oficialmente por Narendra Modi, o polêmico Primeiro-Ministro indiano, um político, como o atual presidente brasileiro, conhecidamente de extrema direita.
Uma das principais marcas do governo Modi é a brutal perseguição sob as minorias culturais e religiosas deste imenso e populoso país asiático, praticando um nacionalismo radical, que defende abertamente a supremacia Hindu, maior etnia da Índia, sobre todas as outras etnias.
O discurso e as práticas ultra-nacionalistas e de extrema direita de Modi e seu partido nacionalista hindu (Partido Bharatiya Janata – “Partido do Povo Indiano”) levam a que movimentos sociais e setores da esquerda socialista indianos cheguem a caracterizá-lo como fascista. Portanto, não é de se estranhar que as terríveis coincidências políticas entre Bolsonaro e Modi tenham sido destacadas, nos últimos dias, no noticiário internacional.
Bolsonaro foi um dos convidados de Modi para acompanhar o desfile do chamado Dia da República indiano, onde se lembra a independência do país. Ato que serviu para reforçar ainda mais o projeto reacionário do atual governo indiano.
Outra consciência política entre os dois políticos de extrema direita é a defesa de uma política predatória contra a natureza. Não é à toa que movimentos sociais de defesa do meio ambiente estiveram à frente dos protestos contra a presença de Bolsonaro na Índia. Os manifestantes cantaram palavras de ordem pedindo que “Bolsonaro vá embora”.
O sinistro Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, conhecido por suas posições extremamente conservadoras e reacionárias, chegou a dizer que a Índia hoje é um exemplo de nacionalismo a ser seguido em todo no mundo, ignorando por completo as inúmeras denúncias de sucessivos atentados aos direitos humanos praticados pelo atual governo indiano.
Mas, o que esperar do atual governo brasileiro, chefiado por Bolsonaro, que defende os crimes do período de chumbo da ditadura brasileira e tem como seu ídolo Brilhante Ustra, militar que chegou a ser condenado pela justiça brasileira por ser um conhecido torturador.
Bolsonaro virou “lobista” de empresa de armas
Entre os 15 acordos comerciais publicamente assinados pelos dois governos de extrema direita, se destacam aqueles destinados ao comércio de armas. Lembrando que a Índia é hoje um dos maiores compradores de armas do mundo, chegando a aparecer em segundo lugar em algumas listas que pesquisam este comércio nocivo.
Na comitiva do governo brasileiro que visitou a Índia, estavam representantes da direção de várias empresas produtoras de armas instaladas em nosso país, tais como: Altave, Atech, Avibras, Companhia Brasileira de Cartuchos, Condor, Embraer, Iveco, Macjee, Omnisys e, principalmente, a Taurus.
Nesta segunda-feira, durante um seminário sobre a área de defesa, umas das principais atividades da visita, foi anunciada a criação de uma “joint venture” entre a Taurus e o grupo empresarial indiano “Jindal Group”.
A Taurus é a maior fabricante de armas leves no Brasil e uma das maiores do mundo, já ocupando a quarta posição no cobiçado mercado de armas estadunidense. A partir do “lobby” do governo Bolsonaro, a Taurus vai ampliar em muito o acesso ao imenso mercado indiano, um dos grandes compradores de armas do mundo. Afinal, antes deste acordo, havia apenas a venda de cartuchos da Companhia de Cartuchos, principal controladora da Taurus, para a Índia.
O filho do presidente, o deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro, que era parte da comitiva do governo brasileiro, chegou a defender, durante a estadia na Índia, a abertura do mercado brasileiro de armas para empresas transnacionais. Seu irmão, o senador do Rio de Janeiro Flávio Bolosonaro, suspeito de corrupção e envolvimento com as milícias que atuam no estado, já apresentou no Congresso Nacional um projeto de lei com este mesmo objetivo.
O Presidente da Taurus, Salesio Nuhs, chegou a divergir na imprensa de Eduardo Bolsonaro, afirmando que o problema do marcado de armas no Brasil é a “pesada” carga tributária que as empresas ainda precisam pagar. Segundo o empresário do mercado de armas, nenhuma empresa transnacional vai aceitar pagar estes impostos no Brasil. Um escárnio.
Na verdade, os dois divergem apenas no varejo, superficialmente, pois o que ambos querem mesmo é ampliar a venda de armas no Brasil e no mundo. Por isso, buscam flexibilizar ainda mais a legislação brasileira, permitindo a ampliação da venda de armas no país, uma das principais bandeiras de Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial.
Organizar nossa resistência ao nível internacional
O encontro de Bolsonaro e Modi na Índia é mais uma demonstração da necessidade de construirmos uma frente única internacional contra a extrema direita e o neofascismo. Afinal, o crescimento destes projetos ultraconservadores e reacionários é um dos traços mais retrógrados do atual momento político, em várias partes do mundo.
No Brasil, está em curso a construção de uma iniciativa muito que vai no sentido da construção de uma frente única antifascista. Será um Seminário Internacional em Defesa da Cultura e contra o Fascismo, que vai ocorrer na PUC-SP, entre maio e junho de 2020. Precisamos nos somar e nos engajar cada vez mais na construção deste seminário internacional, um passo importante em defesa dos direitos sociais e das liberdades democráticas.
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