“Não faço nada que o Führer não saiba”, disse Heinrich Himmler, arquiteto da chamada “solução final”. O carniceiro alemão desenvolveu os horrores da guerra e as câmaras de gás para assassinar o povo judeu em escala industrial. Tudo com o aval de Hitler.
Impossível não pensar que Bolsonaro não tivesse conhecimento do vídeo do seu secretário de Cultura. Pouco tempo antes da sua divulgação, estavam juntos numa live e o presidente demonstrava satisfação com o “trabalho” de Alvim.
Bolsonaro na transmissão apresentou seu secretário nazista da seguinte forma: “aqui, ao meu lado, Roberto Alvim. Nosso secretário de Cultura. Depois de décadas, agora temos sim um secretário de Cultura de verdade. Que atende sim o interesse da maioria da população brasileira, uma população conservadora e cristã.” E seguiu afirmando que no Brasil não tinha cultura “mas sim uma cultura da minoria” e que o secretário representa a cultura de verdade no Brasil.
Aqui vamos vendo como o pensamento dos dois, presidente e secretário, são conectados e não existe ponto fora da curva. Em outro momento, Bolsonaro afirma: “temos que fazer cultura pra maioria. Nós nunca censuramos nada. Eu me revoltei com muitos filmes, mandei suspender qualquer concessão, porque afinal de contas isso não é censura.” Fica claro a concepção do governo de utilizar políticas públicas de cultura para divulgar sua ideologia conservadora e ao mesmo tempo censurar o que o desagrada.
Logo após a live, Alvim divulgou um vídeo com o que chamou de “nova política cultural do Brasil”. O que chocou a sociedade brasileira e internacional (em especial a alemã) foram as semelhanças do discurso do ainda então secretário com o do chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels. O texto é muito parecido, tornando ridícula a defesa de Alvim, de que teria sido uma “coincidência”.
O discurso de Alvim afirma que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. Goebbels, em 1933, discursou: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”. Além das palavras, o secretário de Bolsonaro copiou toda uma estética, nos gestos, no enquadramento, nas roupas e na entonação. Destaca-se a escolha do fundo musical – a ópera Lohengrin, de Wagner, uma das preferidas de Adolf Hitler.
A demissão de Alvim
Logos após a divulgação do vídeo, uma reação em cadeia tomou conta das redes sociais. Os presidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câmara e do Senado reagiram. Uma série de figuras públicas da direita e extrema direita também condenaram o vídeo. Até mesmo Olavo de Carvalho, mentor do bolsonarismo, se colocou contra o secretário. A Confederação Israelita do Brasil considerou “inaceitável o uso de discurso nazista” e exigiu que Alvim fosse “afastado do cargo imediatamente”.
As informações que estão sendo reveladas dão conta de que Bolsonaro tentou resistir à demitir seu secretário nazista. O presidente do Senado Federal, Davi Acolumbre, que é judeu, telefonou para Bolsonaro exigindo a demissão. O presidente tentou amenizar as reações enérgicas contra a peça de publicidade feita por Alvim creditando-a à “esquerda”. Mas já era tarde demais e o levante em torno do #foraAlvim já era amplamente massivo e isolou o governo. A contragosto Bolsonaro demitiu o secretário nazista. Uma renúncia que é pouco diante da apologia do nazismo feita pelo secretário. Ele deveria responder judicialmente por isso, como pediu denúncia feita pelo PSOL.
O perigo autoritário ronda o Brasil
Não é de agora que alertamos sobre os perigos autoritários do governo Bolsonaro. Sua relação com os milicianos e grupos de extermínio. Seu apreço declarado por regimes de ditaduras como a chilena e paraguaia. Ou a ode ao seu ídolo Ustra, conhecido torturador do regime militar brasileiro. A investida de seu filho, Eduardo Bolsonaro, e seu super ministro, Paulo Guedes, que declararam no ano passado que o governo poderia lançar um novo AI-5 para impedir manifestações. A Comissão da Verdade, que investiga os crimes praticados por agentes públicos na ditadura militar, foi praticamente destruída pelo atual governo.
A estratégia de Bolsonaro é a implementação de um governo autoritário no Brasil. Nesse momento podemos dizer que a democracia liberal ainda não sucumbiu totalmente, mas ao mesmo tempo já convivemos com censura feita abertamente, como política de Estado.
O secretário nazista caiu, mas o núcleo central do governo segue sendo neo-fascista. O desafio da classe trabalhadora brasileira, das forças populares e de todos aqueles que não querem um governo autoritário no Brasil é construir as condições da mobilização popular para derrotar Bolsonaro.
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