O vídeo do secretário de Cultura de Bolsonaro é um escândalo, porque explicita, de uma vez por todas, a natureza autoritária deste governo. Só o compromisso com ideias e um programa fascistizantes leva à apologia ao nazismo, um dos crimes mais cruéis contra a humanidade de toda a história. Sua demissão, após sofrer amplo repúdio – até mesmo da embaixada da Alemanha em Israel – não aconteceu por afrontar a visão do governo. Zélia Duncan em seu twitter foi brilhante: “O combinado é ser, sem parecer ser. Alvim quebrou o pacto, mostrou quem todos eles são”. A demissão do secretário obedece apenas à lógica de preservação do governo, pego ao ultrapassar publicamente a linha do rubicão. Apenas por entregar os anéis.
Este governo caminha firme e decidido rumo ao controle militarizado do caos que ele propositadamente constrói. O aumento da desigualdade social e a deterioração do trabalho são parte importante deste projeto.
Todas as medidas econômicas e sociais propostas seguem este caminho: o desmonte da educação, da saúde, da previdência social, da cultura, da arte, do emprego, dos direitos trabalhistas e das medidas de preservação ambientais.
Também é parte do projeto a amplificação das fobias e preconceitos sociais, construídas historica e estruturalmente no Brasil. Bolsonaro e seus ministros reforçam de forma consciente e intencional as opressões em declarações públicas e decisões inaceitáveis. Isto porque o racismo, o machismo e a LGBTfobia têm sido instrumentos de luta política, sem nenhum escrúpulo, com resultados catastróficos e a um custo social altíssimo.
Se as medidas e declarações do governo atingem com mais força os povos da periferia, a juventude, negros e negras, mulheres e povos indígenas, aqueles que vivem de sua própria força de trabalho estão também nesse vendaval.
O anúncio de 7.000 militares para “trabalharem” no INSS é grave. Aplica-se um tipo de reforma que não foi aprovada pelo Congresso Nacional. É a substituição de concurso público pela lotação de uma corporação treinada para enfrentar o inimigo externo.
Quem é o inimigo na visão desse governo? São os famélicos, pobres de todo gênero, desempregados, jovens negros e negras, uberizados de todo tipo, professores, pesquisadores, artistas, LGBTs , assalariados com ou sem carteira de trabalho e todas e todos que divergirem do governo, incluindo sua oposição e jornalistas.
E é contra os inimigos do governo que os 7.000 militares convocados atuarão.
O caos no INSS foi anunciado em decisões do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União, pelas entidades de servidores, pela mídia, etc. Isto estava previsto já que o INSS é uma instituição que teve 40% de seu efetivo aposentado e, em contrapartida, a demanda foi aumentada pelo crescimento vegetativo da população e pela crise econômica que ampliou a necessidade de suporte social.
Que tenhamos quase 2 milhões de requerimentos de benefícios sem análise e o sistema inoperante para analisar benefícios a partir da data da reforma é um completo escárnio que precisa ser resolvido com uma solução evidente: contratação e treinamento, via concurso público, para recompor a mão de obra.
Um dos pilares para o “sucesso” desse governo neste ano é conseguir aplicar um brutal arrocho nas contas públicas, que é a exigência dos mercados após reforma da previdência. A PEC da reforma administrativa, com todas as maldades contra a população e os servidores, já caminha nos corredores do Congresso, com o apoio sorridente de Maia, Alcolumbre e dos partidos da base aliada.
Evidentemente que a militarização do INSS neste contexto é uma intimidação ostensiva e indecente e sinaliza em alto e bom som para todos e todas que não querem ver qual é a rota deste governo.
O silêncio neste momento, quando o caminho pretendido por este desgoverno e a sua natureza estão reveladas, não é inocente. Aos farsantes que esperam quatro anos de mandato para tentar derrotá-lo nas urnas, a história será impiedosa, pois as conquistas democráticas que garantem uma disputa em condições próximas de igual estão sendo destruídas, uma a uma.
Os que se movimentam e debatem a oposição mirando apenas nas eleições de 2022 fazem um movimento típico de distração da platéia e se omitem do enfrentamento necessário agora. Não há nenhum exemplo na história em que governos autoritários e fascistas tenham sido derrotados por acordo ou acaso. Todos só recuaram pela pressão da luta massiva de todos e todas que sofriam com os seus ataques.
É preciso derrotar Bolsonaro e seu governo em todas as suas dimensões, em todas as suas medidas, com todas as suas consequências. As manifestações da educação e das mulheres no movimento #Elenão indicam que existem forças sociais que podem ser despertadas e organizadas. E mais do que isso: esse desafio está colocado para agora e é urgente.
E para quem duvida a arte não nos faltará, que venha o carnaval.
*Junia Gouveia é servidora do INSS. Junia e Deborah são militantes do PSOL.
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