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OPRESSÕES

Parem de nos matar! Nota sobre o feminícidio e os estupros no Pará

Gizelle Freitas, de Belém (PA)

Ato contra Cunha e o PL 5069 Nesta sexta, acontece um ato, em São Paulo, contra Cunha e contra o PL 5069, projeto de lei que criminaliza as mulheres vítimas de violência sexual e profissionais da saúde. O ato é organizado por vários coletivos de mulheres, inclusive a CUT SP. São Paulo, SP, 30 de outubro de 2015. Fotos: Roberto Parizotti/secomCUT.

O ano de 2020 iniciou com uma série de ocorrências de estupro no município de Marituba, região metropolitana de Belém. De 04 a 11 deste mês (janeiro) cinco mulheres foram atraídas para vivenciar a mais cruel das violências, elas tinham em comum o uso das redes sociais para divulgar produtos ou serviços de beleza, e foi dessa forma que o adolescente as “contratou”, criou um perfil falso, entrava em contato se fazendo passar por uma mulher. Quando as mulheres chegavam no local marcado, ele dizia que era o esposo da contratante ou se passava por mototaxista que tinha sido pago para ir buscá-la. Há imagens de uma câmera de segurança que registrou o momento que o adolescente carregava na garupa da bicicleta uma das vítimas.

As cinco mulheres foram agredidas fisicamente, roubadas e estupradas, uma delas foi assassinada, uma jovem de 20 anos, esteticista, com quem ele (se passando por uma mulher) entrou em contato para um serviço de estética. Segundo o relato das vítimas que sobreviveram, também houve a tentativa de matá-las. E na noite do dia 11 o adolescente e um homem, maior de idade, foram presos, ele como um adolescente ainda de 17 anos de idade foi encaminhado para a Divisão de Atendimento ao Adolescente (DATA). Na manhã desse dia 12 outras mulheres já se apresentaram à delegacia de Marituba para registrar queixa referente a casos muito semelhantes.

Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito em 2007, segundo dados do 13º Anuário de Segurança Pública. Ocorreu em média 180 estupros por dia no Brasil, 4,1% acima do verificado em 2017 pelo Anuário. De cada dez estupros, oito ocorrem contra meninas e mulheres e dois contra meninos e homens. A maioria das mulheres violadas (50,9%) são negras. Já em 2019, a cada hora, foram registrados cerca de três casos de estupro na grande Belém. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup), cerca de 1500 casos foram registrados nos seis primeiros meses de 2019 em todo o Estado. Isso representa, em média, oito casos de violência sexual por dia. Estarrecedor!

Nós mulheres temos a vida cercada por múltiplas violências, o feminicídio vem numa crescente, o estupro ainda é uma realidade monstruosa muito latente, ainda mais na vida de crianças e adolescentes, como as pesquisas demonstram. Os diversos vetores de violência (psicológica; patrimonial; física; sexual, e etc) são marcas no nosso corpo e alma, diariamente nossa luta é, primeiramente, pelo direito de viver, como uma das vítimas brutalmente espancada e estuprada que está internada em situação grave num hospital em Belém, mas mesmo com muita dor em ver casos como o ocorrido dessas mulheres aqui em Marituba/Pará, esse sistema capitalista-patriarcal/misógino não terá mais o nosso silêncio, vivemos com muitos medos, como: de andar nas ruas; de pegar um carro pelo aplicativo; de sair sozinha pra uma festa; de estar no front de uma greve lutando por direitos; do genocídio dos jovens negros periféricos; e muitos edicetera, mas ainda assim, cada vez mais nós mulheres (múltiplas que somos e diversas) procuramos nos aliançar para lutar e reivindicar o direito de viver com segurança.

Os dois homens (denominados de “maníacos de Marituba”) que protagonizaram esses casos bárbaros contra essas mulheres já estão presos e esperamos que respondam criminalmente por tamanha violência, contudo temos que ir além e fortalecer a luta reivindicando dos Governos Federal, do Estado do Pará, das gestões municipais (como por exemplo, de Marituba), políticas concretas que garantam nossa segurança para então vivermos o direito à cidade, que não sejam apenas mais vítimas para o tenebroso índice. Entender como é urgente e necessário discutir sim, educação sexual nas escolas, que há uma estrutura machista que confere ao homem poder de propriedade sobre o corpo das mulheres, e o estupro é uma forma de demonstrar poder.

Nos solidarizamos às mulheres vitimadas, que a família da Samara Mescouto sinta-se fortemente abraçada, muita força nesse momento de dor. Sigamos atentas, fortes e de mãos dadas contra toda e qualquer forma de violência e de opressão. Vamos todas nos somar ao ato dia 17.01 às 08h, concentração na frente da Prefeitura de Marituba. PAREM DE NOS MATAR!

Marcado como:
feminicídio / Machismo