Cerrar fileiras em defesa da educação pública
Publicado em: 11 de janeiro de 2020
Na virada de 2019 para 2020, Bolsonaro passa a mirar novamente as universidades e institutos federais. Em pleno Natal, dia 24 de dezembro, editou uma medida provisória alterando a forma de consulta à reitorias, impedindo a possibilidade de paridade na escolha de reitores entre alunos, professores e técnico-administrativos. Ainda no dia 03 de janeiro, o MEC lançou para consulta pública no Diário Oficial da União uma nova versão do Projeto Future-se, na qual traz algumas diferenças com o texto original, mas mantém seus pontos centrais.
A maior parte das universidades, através de assembleias e conselhos universitários já haviam recusado por unanimidade o Future-se quando foi apresentado pela primeira vez em agosto de 2019. De norte a sul foram organizados imensas assembleias nas universidades, milhares de estudantes participaram das discussões, e centenas de milhares tomaram as ruas de todo o país, primeiro contra os cortes de verbas e o sucateamento, e em seguida contra o projeto.
A proposta era amplamente criticada pelos estudantes e profissionais porque, se aplicada, ameaçaria o caráter público e gratuito das universidades. O MEC propõe que as reitorias possam captar recursos com empresas privadas, podendo inclusive ceder os direitos do nome dos campi e prédios para essas mesmas. Apesar das alterações apresentadas por Weintraub na reformulação, a essência do programa segue a mesma, atacando a forma de financiamento das instituições federais, desresponsabilizando o governo pela liberação das verbas.
A universidade pública foi desde o início um dos alvos preferenciais do governo Bolsonaro. Foram diversos os momentos que o capitão da reserva e sua equipe ministerial falaram mal das instituições de ensino superior, assim como dos professores e estudantes universitários, além das já tradicionais ofensas desferidas ao movimento estudantil brasileiro. O governo federal anunciou primeiramente a doença, um imenso corte de verbas para as Universidades Públicas, e em seguida ofereceu o suposto remédio, o projeto Future-se, que substitui o financiamento público pelo privado.
O plano do governo federal é por meio do corte de verbas, do contingenciamento e bloqueio de recursos, fazer com que não se tenha outra forma de recurso para as universidades que não seja aceitar o ingresso no projeto. Uma espécie de asfixia financeira. O texto de 2020 ainda insere que os recursos da CAPES terão prioridade de envio para as universidades que aderirem o programa assinando um contrato de resultado, sendo cobradas por parte do governo. Na atual situação de corte para bolsas de pesquisa na graduação, mestrado e doutorado, essa forma de barganha é desrespeitosa com aqueles que têm compromisso com a produção de conhecimento.
Para este ano os recursos para o desenvolvimento de pesquisa por meio do CNPq foram reduzidas em 88% quando comparados com o aprovado para o ano passado. A CAPES sofreu, por sua vez, um corte de 48% em relação ao que havia sido definido na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019. O orçamento para custeio e capital das Universidades e Institutos Federais também sofreu uma drástica redução.
O “novo” Future-se reforça a ideia de criar uma verdadeira hierarquia entre as universidades, e desenvolve uma concorrência interna entre os docentes, além de ser um risco a autonomia universitária. Ele termina pondo abaixo a lógica sobre a qual as instituições de ensino superior do Brasil se sustentam, que é o ensino, a pesquisa e a extensão, separando estes, e dando ênfase ao que ele chama de desenvolvimento científico e empreendedorismo.
Uma das mudanças apresentadas nesta nova versão é mais uma chantagem. Acaba por terceirizar a gestão das universidades e IFETs e as atividades fins das mesmas, como ensino, pesquisa e extensão, para entidades privadas chamadas Organizações Sociais (OSs), colocando assim a educação superior dentro de uma lógica de mercado, transformados universidades em empresas. O projeto é o primeiro passo para que o Estado não seja obrigado a exercer o financiamento público da educação superior, deixando o mesmo nas mãos da já ditas OSs e demais instituições externas.
Aqueles que o propõe não conhecem a realidade da educação superior brasileira. Um exemplo disto é que em todo projeto a questão sobre a permanência estudantil é completamente negligenciada. Não se fala sobre políticas de assistência que são fundamentais para a manutenção de estudantes advindos de baixa renda, e em especial de estudantes negras e negros. No que tange sobre fontes de recursos, ele busca apresentar como novidade algo que já existe, que é a captação de recursos junto a instituições da sociedade. A questão é que as universidades ao buscar recurso externo o fazem em maioria com empresas e instituições públicas.
Além disso, o movimento estudantil vem sendo alvo para a intensificação do discurso autoritário e antidemocrático da presidência da república. Não à toa a medida provisória do dia 24 de dezembro. Esse governo vem combinando o corte orçamentário com a ofensiva ideológica e reacionária, tentando colocar a população contra os universitários e reprimir o movimento de resistência. Essas medidas repressivas visam justamente os estudantes de universidades e cursos que estiveram na linha de frente da resistência às atrocidades cometidas em 2019. O Future-se no mesmo pacote que os cortes de verbas, a mudança na consulta de reitorias e o discurso de ódio do governo.
Com o aumento da precarização das universidades e os reflexos congelamento de gastos, a realidade exigirá que sigamos mais firmes para erguer uma muralha contra a interferência do mundo privado na educação pública. As reitorias das universidades precisam estar preparadas para resistir à pressão em aderir ao projeto. Desta forma reforçamos a necessidade de mobilização permanente nas Universidades neste período de volta às aulas para o combate à esse programa. O papel do movimento estudantil nesse momento é manter em cada sala de aula, e por todos os centros acadêmicos e DCE’s do país, mobilizações contra o projeto. É preciso a mais ampla unidade do movimento estudantil com as demais entidades da educação, independente da filiação política para alcançarmos nossos objetivos.
O governo quer encurralar as UF’s, mas o que aprendemos com o “tsunami da educação” de 2019 é que a nossa força também é capaz de pressionar os de cima. É papel da União Nacional dos Estudantes organizar um calendário de ações e uma campanha de rejeição ao Future-se, que se repita em terreno local por DCEs, CAs e DAs. A tarefa mais imediata é ganhar a comunidade universitária para se manter em rechaço ao Future-se. Aderir ao programa nesse momento é cair na armadilha do governo. Para isso, a propaganda e a disputa ideológica, o diálogo com cada um e cada uma é fundamental para desmascarar as intenções do MEC. É momento de cerrar fileiras em defesa da educação pública.
Não ao Future-se!
Em defesa da educação pública, da ciência e da soberania nacional!
Fora Weintraub!
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo
11 de setembro de 1973: a tragédia chilena
mundo