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MUNDO

Estados Unidos assassinam general militar iraniano e dirigente do Hezbollah

Gabriel Santos, de Maceió, AL
Presidência do Irã

O ano começou com uma notícia extremamente preocupante. Na madrugada do dia 03 de janeiro, a agência Reuter informou que os Estados Unidos havia atacado o Iraque, bombardeando o Aeroporto Internacional de Bagdá. Logo, se confirmou que havia sete mortos na ação imperialista do governo Trump. Entre os assassinados estavam Qassem Soleimani, general da Força Al Quds, que faz parte da Guarda Revolucionária do Irã. Ele era o principal estrategista militar e geopolítico do país Persa, que vinha ganhando áreas de influências no Oriente Médio. Outros assassinados foram Abu Mahdi al-Muhandis, chefe das Forças de Mobilização Popular do Iraque, grupo que é apoiado pelo Irã. E Naem Qasm um importante dirigente da cúpula do Hezbollah.

O ataque norte-americano eleva ao máximo o grau de tensão entre Estados Unidos e Irã, algo que vinha em uma crescente significativa no último ano. É esperado que nos próximos dias possam ocorrer imensos protestos, tanto no Irã, quanto no Iraque e Líbano. A ação de Trump é sem precedentes. O assassinato dos três dirigentes, em especial de Soleimani, tem um impacto político muito maior do que o assassinato de Osama Bin Laden, por exemplo. Soleimani, 62 anos, é considerado um herói nacional no Irã. O papel que o país vem realizando em diversos países como Iêmen e Síria foram frutos de ações do mesmo, ele foi um dos grandes estrategistas por trás da derrota do Estado Islâmico na Síria.

Durante a última semana de 2019, os Estados Unidos bombardearam diversas regiões do Iraque. Foram 25 mortos e 51 feridos pertencentes ao grupo xiita iraquiano Kataib Hezbollah. Este movimento, que tem ligação com o Irã, foi acusado pelo Pentágono de está por trás das ações contra bases e campos de petróleo controlados pela ocupação norte-americana no país. As ações contra a ocupação imperialista acabaram ferindo seis militares e matando um engenheiro civil. 

Diversos grupos e movimentos políticos iraquianos contrários à ocupação norte-americana e aos bombardeios que o mesmo realiza no país resolveram ocupar com centenas de pessoas a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá. 

Após as ações de agressão por parte do governo Trump à soberania iraquiana, o governo do país afirmou que os bombardeios norte-americanos violam as regras e tratados internacionais, e que por conta destas ações seria forçado a rever a relação estabelecida com os Estados Unidos, mas criticou a ação de manifestantes de ocuparem a embaixada norte-americana.

Trump, por sua vez, anunciou que enviará mais 750 soldados para o país após o incidente, aumentando ainda mais a ocupação militar e a agressão ao povo iraquiano. Pelo Twitter, o presidente norte-americano acusou, sem provas, o Irã de “estar orquestrando um ataque na embaixada dos Estados Unidos no Iraque. Eles serão responsabilizados e vão pagar um preço muito alto. Isso não é um aviso, é uma ameaça”.

A ação terrorista dos Estados Unidos, na qual assassinou membros de governos de outros países, pode ser entendida no meio desta escalada do conflito. É importante recordar também que a Guarda Revolucionária do Irã foi incluída pela Casa Branca na lista de grupos e associações terroristas, e que as sanções contrárias ao país persa foram intensificadas no último semestre, em uma tentativa de asfixia a economia iraniana.

No decorrer da madrugada do dia 3, o Pentágono confirmou o bombardeio e disse que a ordem partiu do próprio presidente Trump. De forma inconsequente, Trump e o governo norte-americano geram uma instabilidade política, econômica e militar  sem precedentes. O Irã, ao longo de 2019, demonstrou que estaria disposto a responder de forma militar, se fosse necessário, às agressões norte-americanas. O país Persa pode também bloquear o acesso de diversos petroleiros ao golfo da região. O preço do barril do petróleo já disparou após os ataques norte-americano no Iraque.

Um conflito com o Irã é um sonho antigo de parte do governo Trump, porém, outros membros do governo são contra ações militares no país, pois isto traria mais gastos financeiros e não iria ser bem visto pela maior parte do eleitorado. Trump se elegeu fazendo fortes críticas à ação militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, mas não fez isso por ser contra as mesmas, mas sim, pelo fato delas ser um gasto de energia e dinheiro considerado desnecessário por parte dele. Apesar disto, seu governo se envolveu direta e indiretamente em diversos conflitos, como no Iêmen, e na invasão do Curdistão.

A realidade é que os Estados Unidos perderam e não conseguiram seus objetivos na região. As ações militares iniciadas com Bush, no início do século, foram todas um fracasso. Apesar de algumas terem mudado governos e colocado alinhados norte-americanos no poder, como no caso do Iraque, as perdas foram muito maiores que os ganhos. Enquanto falhava na região, os Estados Unidos viram seus rivais, em especial China e Rússia crescerem a área de influência que têm na região, e estabelecerem com o Irã uma aliança estratégica contra os interesses do Pentágono no Oriente Médio. Este é o motivo pelo qual o imperialismo norte-americano muda de foco e busca se relocalizar nas disputas geopolíticas, voltando suas garras agora para a América Latina.

Os bombardeios norte-americanos no Iraque podem ter resultados internos negativos para o atual presidente, pois escancara ainda mais seu papel belicista no Oriente Médio, assim como podem mudar o foco da disputa eleitoral para a questão militar. Para Trump, que é hoje o favorito para reeleição, o mais interessante seria manter o debate voltado os termos econômicos. 

O pronunciamento de Rússia e China nas próximas horas é aguardado. O decorrer dos dias mostrará a proporção que a retaliação iraniana vai ter. Os Estados Unidos tem 20 mil tropas na região. Distribuídos entre Iraque, Afeganistão e Síria, principalmente. Para os Falcões do governo Trump, uma vitória e a derrubada do regime islâmico iraniano seria uma tarefa fácil, mas a verdade é que não seria tão simples.

É válido sempre lembrar o fracasso que foi a ofensiva sobre a Síria, o Afeganistão, e em menor escala sobre o Iraque. O país persa é quatro vezes maior que seu vizinho e tem o acesso ao mar, que é um fato importante, além do território ser montanhoso e com a presença de milícias populares que não fazem parte do exército tradicional. Porém o principal trunfo iraniano é justamente seus alinhados na região. Os Estados Unidos, e todo o mundo sabem que um ataque ao Irã pode gerar um efeito dominó cruel na região e um conflito sem proporções. O Hezbollah, por exemplo, pode soltar milhares de mísseis sobre Tel Aviv, e utilizar de carros bombas para ataques internos em Israel. No Iêmen, os houthis podem fazer o mesmo contra a Arábia Saudita, as tropas norte-americanas no Iraque e Afeganistão seriam alvo de ataques dos grupos xiitas. E, além disto, todo este caos fortalece os grupos fundamentalistas como o ISIS. Por isto, todo o mundo assiste preocupado e apreensivo às próximas horas.

Espera-se que as ruas de Teerã, Beirut e de Bagdá, assim como outras cidades destes três países sejam palcos de imensos protestos e funerais, onde bandeiras norte-americanas vão ser queimadas em cada esquina destas cidades. 

É preciso dizer de forma firme, o imperialismo norte-americano é a maior ameaça de paz para os povos árabes e ao Oriente Médio, e ele precisa ser combatido. É o imperialismo e as ações de Trump que causam instabilidade e podem criar uma nova guerra, além de fortalecer os grupos terroristas. As ações norte-americanas precisam ser denunciadas, os ataques realizados são assassinatos e verdadeiros atos de terrorismo, assim como as sanções econômicas. É preciso por fim às sanções ao Irã, e aos ataques militares contra o Iraque.

O papel de todo anti-imperialista e internacionalista é repudiar as ações do imperialismo norte-americano e se solidarizar com o país agredido militarmente e economicamente.