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OPRESSÕES

Solidariedade contra a LGBTfobia não escolhe ideologia

A agressão contra Karol Eller não merece comemoração

Camila Lisboa, de São Paulo (SP)
Reprodução

Karol Eller

Karol Eller é uma Youtuber apoiadora e amiga do presidente neofascista Bolsonaro. Há alguns dias, estava na praia com sua namorada e foi agredida tragicamente, ficando com a cara quase desfigurada.

No depoimento dado a polícia pela Youtuber, ela alega que sofreu as agressões por preconceito contra a sua orientação sexual. O agressor, por sua vez, conta uma versão diferente, de que ela teria ficado com ciúmes porque ele conversou com sua namorada.

O Brasil é o país em que a população LGBT mais morre por crimes de ódio e preconceito. Essa onda de ódio cresceu junto à onda bolsonarista que “prefere um filho morto a um filho gay”.

Mesmo sofrendo na pele um crime escancaradamente homofóbico, a Youtuber reafirma sua ideia de que a pauta LGBT é “vitimista”. Infelizmente, Karol Eller sofreu na pele um fato que contradiz sua teoria.

Assim que a notícia saiu, algumas pessoas que não concordam com suas posições políticas passaram a dizer que “ela apanhou pouco”. Um enorme equívoco de quem quer derrotar o governo Bolsonaro e sua ideologia preconceituosa.

Ela não poderia ter sido agredida. Essa agressão é um absurdo, um escândalo, uma tragédia. Uma atitude preconceituosa, LGBTfóbica e que atua na contramão da luta contra o governo que Karol Eller defende.

Na luta contra Bolsonaro, estamos de um lado e ela de outro. Mas isso porque ela apoia esse governo e nós somos contra esse governo. A sexualidade dela não importa.

A esquerda que aplaude isso não representa uma esquerda coerente com a luta frontal contra Bolsonaro, suas políticas, suas declarações e seu conservadorismo. E a tendência dessa esquerda é que apoie qualquer ato de agressão contra quem tiver uma opinião diferente em um momento mais acirrado da luta de classes.

Essa lógica moral de que “os fins justificam os meios” já foi vista por muitas vezes na história e sempre esteve em consonância com regimes políticos autoritários.

Trotsky tem um texto excelente sobre a moral, vejamos uma passagem: “Quem não quiser voltar a Moisés, Cristo ou Maomé, nem satisfazer-se com um ecletismo arlequinesco, deve reconhecer que a moral é um produto do desenvolvimento social; que ela não tem nada de imutável; que serve aos interesses da sociedade; que esses interesses são contraditórios; que, mais que qualquer outra forma ideológica, a moral tem um caráter de classe.”

Dessa forma, a moral que autoriza uma agressão escrota como sofreu Karol Eller é a moral que autorizou o assassinato de Mestre Moa, de Marielle, que pratica e legaliza as milhares de agressões LGBTfóbicas. Essa moral é de quem está no poder, é a moral do neofascismo, é a moral da classe dominante. Não é a nossa. Por isso, eu devemos ser totalmente solidários a Karol Eller. Mesmo preservando nossa localização política em pontos bem opostos.

 

  • Texto atualizado em 19/12/2019.