As fotos de Karol Eller desfigurada estão circulando por todos os cantos das redes. E é impossível não lembrar de Cassia Eller, que morreu em dezembro de 2001. Elas são muito parecidas… De alguma forma isso é forte para mim, pois sempre fui muito fã de Cassia. Acompanhava tudo e me arrependo de não ter ido num show.
Mas é incrível também pensar: se Cassia estivesse viva, como seria a sua relação com a prima? Quem viu o documentário de Cassia, a história dela com Eugênia, suas atitudes no palco, o disco com músicas só de Cazuza, a parceria com Nando Reis, tudo que ela fez, não tinha nada a ver com o mundo bolsonarista conservador e reacionário. Mas, a família Eller deve estar hoje como muitas famílias brasileiras estão, também divididas. Quando o pai de Cassia tentou tirar Chicão de Eugênia (companheira de Cassia) e acabou perdendo na Justiça, já deu pra perceber que a família com Eugênia e Chicão não era considerada família pela própria família de Cassia Eller.
Karol Eller foi vítima. As suas equivocadas posições e sua ilusão com o bolsonarismo não dão o direito a ninguém comemorar a agressão homofóbica sofrida por ela. É preciso prestar solidariedade, denunciar e cobrar a responsabilidade do agressor. A homofobia foi considerada crime pelo STF, mesmo com o bolsonarismo criticando essa medida. Isso significa que o agressor cometeu um crime qualificado. Agredir fisicamente é um crime universal, e agredir alguém porque se trata de pessoa da comunidade LGBT, é uma agressão classificada por crime de ódio.
Agora, o que chama a atenção é como a realidade é implacável. Quando a comunidade LGBT e todas as suas tendências mais radicais ou mais moderadas, com consciência de classe, ou liberal democrata denunciam e pedem socorro aos crimes motivados por homofobia. O que diz o bolsonarismo, os conservadores e a extrema direita? “Isso é Mi mi mi!”, ainda, “Quando começar a ficar gayzinho, é só levar um coro”, ou ” Não se dão o respeito” e até, que “Homofobia não existe”, ou é ” é Vitimização”.
Karol foi brutalmente agredida por um crime comprovadamente homofóbico. Perderá a visão? Poderia ter morrido? Ficarão sequelas? Vai se sentir segura nas ruas?
Não é possível saber se Karol Eller, ao se pronunciar depois dessa agressão, conseguirá tirar conclusões consequentes. Ela vai compreender que de fato existe no país pessoas terrivelmente conservadoras e reacionárias, ao ponto de querer eliminar o que julgam ser um pecado? Julgam através de uma concepção irracional, ideias mágicas, sobrenaturais, sem sentido, fundamentalistas.
Karol irá chegar à conclusão que a força política do bolsonarismo ao ganhar alcance no país, facilitou que boa parte do imaginário popular passasse a tolerar e admitir agressão física e verbal ao que é considerado pecado?
Não sabemos. Cassia, se estivesse viva, talvez perguntasse a Karol: “Vai morar com o diabo que é imortal?”
Por ultimo, dois elementos contraditórios, também estão envolvidos nessa tragédia e está sendo visto nas redes.
1. O susto dos apoiadores bolsonaristas desavizados em descobrirem que homofobia não é Mimimi!
2. E uma parte minoritária de gente de esquerda comemorando a agressão, abrindo flanco para a extrema direita ganhar o debate, no qual estão categoricamente derrotados.
Que dia!
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