Anticapitalista
O momento atual da luta de classes requer um posicionamento firme e coerente dos coletivos de esquerda que atuam no movimento sindical e popular. Diante dessa tarefa histórica, reunidos em outubro na cidade de Vinhedo-SP, lançamos um movimento que objetiva debater fraternalmente divergências e convergências para construir uma intervenção unitária nos sindicatos e movimentos. Após construirmos esse primeiro passo, a próxima etapa é o lançamento de um coletivo sindical e popular de ativistas e organizações a partir de aproximações de análises da realidade política do país e do mundo, com a tarefa de fortalecer a resistência dos trabalhadores num combate econômico e ideológico contra a força cada vez mais agressiva do capital.
Os recentes acontecimentos na América Latina, como, por exemplo, o violento golpe na Bolívia que derrubou Evo Morales e está gerando protestos em todo país. O fechamento do Congresso no Peru, a derrota de Macri e consequentemente a volta do Peronismo na Argentina, a vitória da direita no Uruguai, dentre outros, mostram as contradições latentes no continente, que merecem uma análise mais profunda, para não cairmos nas ilusões da conciliação de classes e, ao mesmo tempo, acumular forças para enfrentar a ofensiva da extrema direita.
O Brasil reflete os desdobramentos da desordem do sistema mundial, que ameaçam hegemonias e da crise econômica mundial que se arrasta desde 2008. O resultado mais expressivo desse processo é visível nas ruas de todo país: Milhões de trabalhadores desempregados, precarizados e com menos proteção social, contribuindo para o aprofundamento da desigualdade e aumento da concentração de renda. Se, por um lado, poucas famílias têm uma riqueza material absurdamente exagerada, por outro, milhões amargam uma vida de sacrifícios e um futuro sombrio.
Derrotar Bolsonaro nas ruas
Esse cenário se agrava com a ascensão de forças ultrarreacionárias ao governo central do país, que usaram métodos antidemocráticos, subvertendo o jogo político, à revelia do que está convencionado na Constituição de 1988, com o com o objetivo de saquear direitos sociais, reduzir os espaços democráticos, rebaixar o valor do trabalho (menores salários, maiores jornadas), garantindo fôlego para um novo ciclo de acumulação de capital.
O golpe de 2016, a atuação irregular da força-tarefa da Lava-Jato, em especial na prisão de Lula, a militarização de posições estratégicas do governo federal e a mudança no arcabouço jurídico e legislativo para permitir que o conjunto da classe trabalhadora tenha contratos precários, trabalhe até o limite de sua saúde física e mental e tenha sindicatos mais frágeis, exemplifica o que estamos constatando na realidade brasileira.
Frente única para lutar
Essa situação nos coloca diante de uma correlação de forças mais difícil, pois, a luta de classes, mais do que nunca, exige unidade de ação para conseguirmos mobilizar o maior número possível de categorias. Colocar multidões em movimento não é uma tarefa para iniciativas isoladas. Assim, apostamos firmemente na conformação de uma frente única para lutar, com as centrais, movimentos sindicais, populares, estudantis, organizações que lutam por direitos civis e democráticos e na defesa do meio ambiente.
Na luta pelo socialismo
É urgente fortalecer o combate ideológico. Nosso movimento tem como objetivo a luta pela transformação social, numa perspectiva anticapitalista e socialista. Não podemos menosprezar a capacidade das forças do capital em contaminar os trabalhadores com sua ideologia reacionária que em muitos momentos acabam levando os explorados a defenderem as ideias de seus próprios algozes. A disputa palmo a palmo contra as ideias neoliberais e conservadoras é parte das tarefas que queremos assumir.
Combater toda forma de opressão
Achamos imprescindível também compreendermos as lutas contra as diversas formas de opressão como parte indissociável das reivindicações da classe trabalhadora. Em nossas fileiras e iniciativas estarão as lutas: das mulheres, que estão na vanguarda da resistência em todo o mundo, das e dos LGBTs, das negras e negros, dos imigrantes, dos povos indígenas e contra o genocídio da juventude negra. Além disso, assumimos também com importância a luta em defesa do meio ambiente, das reservas florestais e dos povos originários em geral, sempre numa perspectiva classista. Todas essas lutas fazem parte da resistência contra forças reacionárias e conservadoras que avançam em seu projeto excludente de sociedade.
Estamos atentos às mudanças e transformações estruturais que estão se dando no mundo do trabalho. Isso exige disposição para transformar a atuação dos sindicatos e das organizações de base para estender a mão para milhares de trabalhadoras e trabalhadores que estão desorganizados, sem direito a organização sindical efetiva e que formam uma massa sem instrumentos de luta. Quanto mais cresce a informalidade, mais os sindicatos perdem potência e alcance. Essa situação sugere não só uma reflexão, mas iniciativas que nos permita dialogar, organizar e mobilizar, fortalecendo a consciência de classe e ajudando no avanço das lutas.
Internacionalismo
Reivindicamos a internacionalização das lutas, a solidariedade de nossas irmãs e nossos irmãos trabalhadores de outros países e a organização de calendários comuns intercontinentais. Avançar em combates de alcance mundial contra as forças globais do capital é uma responsabilidade de imensa magnitude que faz parte das tarefas mais importantes da classe trabalhadora.
Nesta perspectiva, é imprescindível nos preparar para enfrentar o período sombrio, que já se apresenta de forma brutal, na velocidade assustadora em que ocorre a retirada de direitos conquistados nas lutas nos últimos 70 anos. Isto implica em nos solidarizarmos com as lutas e manifestações que hoje levam milhares de ativistas às ruas em países vizinhos como Chile, Equador e Colômbia, por exemplo, e nos engajarmos na tarefa de impulsionar a nossa classe para reagir aos ataques do governo neofascista de Bolsonaro, cujos efeitos nefastos já são indisfarçáveis.
Combate à burocratização
Por fim, acreditamos que dentre os objetivos de um coletivo sindical e popular, deve estar o combate ao avanço burocrático que se desenvolve nos sindicatos e nas organizações da nossa classe. A atenção e cuidado em fortalecer o trabalho de base presencial e pelas redes sociais., A batalha para criar condições que permitam a participação das trabalhadoras e trabalhadores nas estruturas de decisão, o respeito ao espaço dos coletivos e organizações, a liberdade de crítica sem retaliações, o esforço em formar mais quadros que possam assumir postos de representação, impedindo personalismos e concentração desmedida de poder, são tarefas que estão em nossos planos e que precisam ser aprimoradas, refletidas e incorporadas à luz das mudanças da realidade e de acordo com nossas possibilidades.
Convidamos a todas e todos que apresentam acordo e simpatia com essas ideias a vir dialogar conosco, somar-se a esse esforço e dar um passo à frente nos ajudando a construir essa iniciativa que está aberta aos que estão dispostos a se organizar para lutar.
Lançamento:
14 de dezembro – Sábado, às 18h
Local: Auditório da APEOESP (Praça da República, 282, São Paulo -SP)
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