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EDITORIAL

Superar a fragmentação e construir a unidade para derrotar Bolsonaro

Editorial de 05 de dezembro de 2019
Roberto Parizotti / Fotos Públicas

Desde 1º de Janeiro de 2019, se instalou no nosso país um governo neofascista que, de forma acelerada, vem retirando direitos da classe trabalhadora, desmontando o serviço público, diminuindo o poder de compra do povo brasileiro, entregando nossas riquezas, privatizando estatais e ameaçando constantemente as liberdades democráticas.

Esses ataques têm encontrado resistência da classe trabalhadora. Em 2019, houve manifestações dela no carnaval, no 8 de março, dia internacional da mulher, no 14 de março, aniversário de morte da companheira Marielle Franco. Em maio, o anúncio dos cortes de verbas para educação levou mais de um milhão de jovens e trabalhadores(as) às ruas: o tsunami da educação em 15 e 30 de março mostrou que existe disposição para defender a Educação Pública de qualidade. Tivemos ainda dias de luta contra a reforma da previdência, greve dos trabalhadores (as) dos correios, manifestações de petroleiros, com grandes assembleias contra a privatização da empresa, atos de solidariedade ao povo latino-americano, em particular do Equador, Chile e Bolívia.

No entanto, após quase um ano de ataques gravíssimos, como a Reforma da Previdência e a Medida Provisória 905, fizemos muitos atos, mas não conseguimos uma agenda unificada de todos e todas que fazem a luta de resistência ao governo de extrema direita de Bolsonaro. As lutas têm sido insuficientes e fragmentadas.

Alguns episódios demonstraram nitidamente esta fragmentação. O Congresso Nacional da CUT, maior central sindical do país, chamou um ato, em Brasília, para o dia 30 de outubro: por Soberania, Direitos e Empregos, pauta bastante aglutinadora, mas a convocação foi feita sem a devida construção com outros parceiros(as), resultando em uma pequena manifestação. Nesta mesma linha, a CUT convocou para o dia 26/11 uma plenária nacional dos servidores públicos das três esferas (municipal, estadual e federal). Apesar da CUT ter aberto o espaço para outras centrais, a atividade mostrou que poderia ser muito maior caso a construção fosse desde o início feita em Frente Única.

Seguindo a mesma lógica de construção, as Frentes Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular têm chamado atos com importantes pautas, mas que não conseguem ter papel decisivo na luta de resistência, na maioria das vezes por não conseguirem aglutinar todos e todas dispostos a derrotar Bolsonaro nas ruas.

Agora em dezembro, novamente vários atos e manifestações estão sendo construídos, mas sem a unidade necessária. O Comitê em Defesa da Soberania e a plenária dos Servidores Públicos apresentam um calendário de atividades, todas com o mesmo propósito: resistir aos ataques do governo Bolsonaro. Com o mesmo propósito, A Frente Povo sem Medo buscou construir um ato no dia 06/12 junto com a Frente Brasil Popular. A CSP-CONLUTAS, por sua vez, uma central sindical extremamente minoritária, convocou sozinha um dia nacional de luta, para o dia 05/12, com a mesmas bandeiras levantadas nas atividades da CUT: Por Empregos, Direitos e Pela Soberania Nacional. Todas iniciativas importantes e corretas, mas que sem a devida unidade não conseguem atingir seus objetivos.

Assim, somente na primeira semana de dezembro, coloca-se para os sindicatos e movimentos sociais as seguintes tarefas: campanha nas bases sobre os ataques que representam as MP 905 e as três PEC (166, 167 e 168), convocado pela plenária dos Servidores Públicos, a jornada nacional convocada pelo Comitê Nacional em Defesa da Soberania e um ato no dia 05/12, convocado pela CSP-CONLUTAS.

Embora participando de todas estas iniciativas, não podemos deixar de criticar e alertar: é um grave erro das direções dos movimentos sociais no Brasil não apostarem todas as suas forças na construção de uma resistência unitária aos ataques de Bolsonaro e Guedes. A fragmentação diminui o potencial da resistência e tem sido determinante para que o governo tenha conseguido, em seu primeiro ano de mandato, avançar tão fortemente na pauta ultraliberal.

O Brasil não resistirá ao mandato de Bolsonaro, à destruição dos direitos sociais e democráticos, às privatizações, ao desmonte do Estado, caso persista a fragmentação. As manifestações de resistência que tivemos ao longo do ano, em especial o “tsunami” da educação, demonstram que, apesar de todas as dificuldades, ainda é possível organizar os trabalhadores para lutar. Mas é preciso ter um plano e atuar em unidade. Não se pode persistir no erro e seguir convocando dias de luta fragmentados a cada novo acontecimento. É papel das direções dos partidos da classe trabalhadora, das centrais sindicais e demais movimentos sociais colocar como prioridade a construção da Frente Única para lutar.

No Chile, onde assistimos manifestações massivas contra as consequências da implementação do neoliberalismo, foi criada a Mesa de Unidade Social, composta por mais de 200 organizações que, juntas, organizam a luta contra o governo Pinera. É uma experiência, ainda em construção, que deve ser observada e seguida por nós no Brasil.

Precisamos começar 2020 de maneira diferente da que terminamos 2019: reunindo todas centrais sindicais, frentes políticas, movimentos sociais, movimentos contra as opressões, entidades da juventude, entidades classistas nacionais, Comitês e Fóruns Nacionais constituídos, Partidos Políticos da esquerda em um fórum comum, com um programa unitário que possa organizar um plano de lutas para derrotar Bolsonaro nas ruas.