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MUNDO

Acompanhe a série de artigos sobre os golpes na Bolívia, desde 1952

da redação
“Uma tragédia viva que se desenrola a cada momento, entre a fome, a miséria, e extrema violência. O país dos duzentos golpes políticos e mais de duas mil rebeliões indígenas. O paradoxo de governos que duram doze horas. A loucura de ter em um só dia seis presidentes. O grotesco de um general que comandou trinta e três golpes. O país do exército que perdeu todas as guerras contra o invasor, mas que venceu todas contra seu próprio povo. Bolívia, este é o país”
(Júlio Chiavenatto, no livro Bolívia com a pólvora na boca)

A Bolívia é um dos países com uma das maiores quantidades de Golpes de Estado em todo o continente latino-americano. Desde a sua independência, em 1825, ocorreram aproximadamente 200 golpes em suas mais diferentes versões e matizes e, em todos eles, esteve presente as Forças Armadas.

O mundo novamente observa com preocupação o que ocorre na Bolívia. A “renúncia” de Evo Morales não foi o resultado de uma “insurreição popular espontânea”. Estamos diante de um verdadeiro massacre como nos tempos das ditaduras militares de René Barrientos, Hugo Banzer, Natuch Busch e Garcia Mesa. Para derrotar o golpe e a ofensiva da extrema direita boliviana é preciso recorrer à história, extraindo lições e aprendizados.

Por isso, o Esquerda Online irá publicar, ao longo desta semana, um artigo por dia, analisando cada um principais golpes militares do país, desde 1952, nos quais os militares bolivianos atuaram para derrotar as lutas e levantes do povo boliviano e, desta forma, manter o país com um dos piores índices de pobreza do continente.

Todos os artigos da série foram produzidos pelo sociólogo Joallan Rocha, professor do IF da Bahia, que viveu durante alguns anos em La Paz e acompanha a história e a situação política do país.

Como afirma Eduardo Galeano, “a história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será”.

 

Índice da série Golpes de Estado na Bolivia (1952-2019): Uma perspectiva histórica

 

Parte 1 – O MNR E A REVOLUÇÃO NACIONAL DE 1952

Nas eleições gerais de 1951, Víctor Paz Estensoro, principal líder do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) venceu as eleições. A oligarquia mineira e os militares não reconheceram os resultados das eleições e impediram que o MNR assumisse a presidência. O golpe de Estado anulou as eleições e entregou o poder a uma junta militar. No entanto, esse golpe foi derrotado por uma profunda revolução política e social protagonizada pelos operários, camponeses e setores das classes médias urbanas, que deram o poder ao MNR, na revolução nacional de abril 1952.

 

Parte 2 – O FIM DE UM CICLO E O GOLPE MILITAR DE RENÉ BARRIENTOS

A crise do governo Paz Estensoro e sua perda de legitimidade, permitiu que, em novembro de 1964, o militar René Barrientos (candidato a vice-presidente na chapa de Paz Estensoro) deflagrasse um golpe de Estado a poucas semanas das eleições presidenciais. O golpe buscava deter o fortalecimento do sindicalismo revolucionário nos acampamentos mineiros.

 

Parte 3 – O GOLPE DE HUGO BANZER E A RESTAURAÇÃO OLIGÁRQUICA

O regime ditatorial de Hugo Banzer (1971-1978) durou aproximadamente sete anos. Durante seu governo aplicou-se uma dura política econômica contra os trabalhadores, os camponeses e os setores populares. As medidas econômicas estiveram a serviço dos investimentos e empréstimos do FMI. Os anos da ditadura de Banzer foram marcados por um refluxo do movimento sindical, mas não representaram uma derrota histórica, tendo em vista que os mineiros voltariam a cumprir um papel de protagonismo na derrubada da ditadura militar em 1982 e nas conhecidas Jornadas de Março de 1985.

 

Parte 4 – O NARCO GOLPE DE GARCIA MESA EM 1980

As eleições de junho de 1980 aconteceram sem maiores problemas e os resultados deram novamente a vitória à UDP, de Siles Suazo. Os principais concorrentes, o ex-militar Hugo Banzer e Paz Estensoro, reconheceram a vitória eleitoral da UDP, que seria empossada em 6 de agosto de 1980. Porém, em 17 de julho, ocorreu mais um golpe de Estado, contrariando os planos norte-americanos de institucionalizar uma democracia representativa na Bolívia.

 

Parte 5 – O TRIUNFO DA “DEMOCRACIA NEO-LIBERAL”

Em 5 de outubro de 1982, votou-se, por ampla maioria, a entrega do poder ao presidente Siles Suazo e ao vice-presidente Paz Zamora, membros da coalizão de esquerda UDP. Todos os partidos, incluindo o MNR e ADN, que possuíam a maioria legislativa, votaram pela posse do novo presidente. As sucessivas ditaduras militares fizeram crescer entre os trabalhadores uma grande expectativa no regime democrático. O programa apresentado pelo governo da UDP (formada pelo PCB, MIR e MNRI), gerou grandes expectativas e esperanças de mudanças. Os trabalhadores confiavam que o regime democrático resolveria seus problemas econômicos mais imediatos. A UDP direcionou grande parte dessas aspirações para o terreno eleitoral. Além das ilusões democráticas, os setores operários e populares confiavam que as suas demandas poderiam ser resolvidas por um governo de “esquerda”.

 

Parte 6 – O GOLPE DE 2019, QUE DERRUBOU EVO MORALES

Em 10 de novembro de 2019, os militares voltaram a cena, mostrando sua faceta reacionária, golpista e oligárquica. Está cada vez mais evidente que a suposta renúncia de Evo Morales, foi, na verdade, a consumação de um golpe de Estado orquestrado e planejado pela extrema direita boliviana representada pelo Comitê Cívico de Santa Cruz. Com a anuência e o apoio dos EUA, do Brasil, da OEA e da União Europeia, além do respaldo ativo de setores das Forças Armadas e da Polícia boliviana.