Pular para o conteúdo
EDITORIAL

25 de novembro: é pela vida das mulheres brasileiras

dia internacional de combate à violência contra as mulheres

Editorial 25 de novembro

A violência contra as mulheres: um silêncio que permanece na história

Essa realidade, que parece nunca ter fim, avança em todas as suas formas e em todos os níveis, estando profundamente enraizada no capitalismo. A violência contras as mulheres perpassa o silêncio da história, um silêncio que as lutas feministas gritaram (e gritam) por anos a fio, um silêncio que não tem fim.

Mas o grito das mulheres em meio à mudez das sociedades capitalistas, baseadas na exploração e na opressão, também não acaba. Resistir é uma questão de sobrevivência, é a resposta pelo sangue de cada uma e, ao mesmo tempo, é o assombro dos que estão no poder. Vamos aos dados, eles falam por si mesmos.

O Brasil é o 5º país do mundo em índices de feminicídio segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 97% das mulheres brasileiras já foram vítimas de assédio dentro do transporte público, uma mulher é vítima de estupro a cada nove minutos no Brasil.

A criminalização do aborto no Brasil coloca mulheres sob a mira da morte todos os dias, pois apenas no ano de 2015 foram registrados pelo menos 503 mil casos de abortos clandestinos. Uma mulher registra agressão sob a lei Maria da Penha a cada 2 minutos, e a cada dia pelo menos 3 mulheres são vítimas de feminicídio no país.

Registre-se que essas são as estatísticas de que se têm notícia, são aquelas que minimamente são registradas, tendo em vista que boa parte desses casos são extremamente subnotificados, já que crimes como o estupro, por exemplo, em sua maioria não são sequer relatados pelas mulheres.

Precisamos falar sobre racismo estrutural

 

De todos os índices registrados acima, o racismo é a sua principal marca: são as mulheres negras que pagam cotidianamente com a vida pela violência machista e misógina. Elas são as principais vítimas dos estupros e dos assédios sexuais dentro dos transportes públicos, são as que mais morrem vítimas de abortos clandestinos, as que mais sofrem com as agressões misóginas no ambiente doméstico e as maiores vítimas do feminicídio no Brasil. As pesquisas mais recentes apontam que pelo menos 61% das vítimas de feminicídio são negras.

Essas estatísticas não poderiam ser diferentes porque as profundas desigualdades no Brasil, alicerçadas nas altas taxas de concentração de renda, na falta de distribuição de riquezas e na precarização de políticas públicas, atingem com mais força essas mulheres. A burguesia brasileira é profundamente racista, tendo construído sua história de dominação com base na exploração de negros e negras ao longo dos séculos.

Como sabemos, as mulheres negras são vítimas das mais diversas violências: a violência policial que mata constantemente seus filhos, companheiros e amigos nas periferias. Como esquecer de Janaína Soares, a mãe negra de Manguinhos, que perdeu seu filho de apenas 14 anos vítima de “bala perdida” e que morreu de tristeza pela violência que tirou a vida de seu filho e de tantos da sua comunidade? Ou como esquecer de Cláudia Ferreira que, após ser baleada pela PM, foi colocada no porta-malas do carro e arrastada por mais de 350 metros pelo carro da PM? Essas são as vítimas cotidianas de um racismo institucionalizado e estrutural.

Em um Estado capitalista, machista e racista, a resistência feminista é o caminho

Marielle Franco, assassinada por ser uma lutadora incansável por direitos humanos e profundamente comprometida com uma mudança radical da sociedade brasileira, ao estudar as UPPs e a violência que atinge as periferias afirmou que essa violência está profundamente comprometida com um modelo de “Estado neoliberal e penal”. A afirmação de Marielle é absolutamente importante para refletirmos sobre o significado de um governo de extrema direita no país, o governo de Jair Bolsonaro.

Esse governo, que propaga discursos misóginos contra os oprimidos e esvazia por completo o Estado de seu papel social, faz questão de dar carta branca para que a polícia mate na favela e está comprometido com a burguesia, a exploração e com uma política de morte para as mulheres.

Marielle já nos apontou o caminho da luta, esse caminho, trilhado por ela, precisa ser honrado por nós. Que no dia de hoje possamos, movidos/as pela força de Marielle, e inspiradas no exemplo das chilenas, equatorianas, bolivianas e colombianas, que neste momento pulsam as veias abertas do continente, lutando contra a brutal repressão e violência sexista do Estado com requintes fascistas, sigamos construindo nossa resistência contra o contra o capitalismo, o machismo, a misoginia e o racismo.

Nenhuma a menos!

Nossa vidas importam!
Quem mandou matar Marielle Franco?!