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EDITORIAL

Unir a esquerda antirracista e derrotar o ódio semeado por Bolsonaro

Editorial de 20 de novembro de 2019
Lula Marques / Fotos Públicas

Deputado coronel Tadeu (PSL) que quebrou a placa do dia da consciência negra no corredor da Câmara dos Deputados, no dia 19.

O Brasil é um país racista. Depois de quase quatro séculos de escravização de negros e negras africanos e mais de um século sem políticas de reparação pelos anos de trabalho forçado, o abismo entre brancos e negros segue imenso. É o que aponta o Mapa das Desigualdades (2019) feito pela Rede Nossa São Paulo, que investiga a cidade mais rica do país e maior metrópole da América Latina.

A pesquisa aponta que, na capital paulista, as diferenças de raça e classe são determinantes para apontar a expectativa de vida. Em Moema, bairro nobre de São Paulo, a idade média ao morrer é de 80,6 anos, sendo que apenas 5,8% dos seus moradores se declaram negros. No outro extremo, no bairro Cidade Tiradentes, periferia de São Paulo, 56,1% da população é negra e a idade média ao morrer é de apenas 57,3 anos.

A mesma pesquisa aponta que, nos bairros considerados ricos e brancos, a causa morte é majoritariamente natural, frutos de doenças, enquanto que na periferia negra chama atenção o elevado índice de causas externas (violência e acidentes). Em Moema e nos Jardins apenas 4,7% dos óbitos foram por causas externas, na Cidade Tiradentes esse número passa para 11,1% e em Marsilac salta para 17,9%.

O presidente racista e o extermínio da juventude negra

O Brasil moderno foi forjado por uma ideologia que negava a existência do racismo. Governantes, intelectuais e a classe dominante se esforçaram em construir a falsa ideia de que aqui prevaleceu o convívio harmonioso entre as raças e uma verdadeira democracia racial.

Esse mito esconde as especificidades do racismo à brasileira, mas não se sustenta perante as pesquisas. Pela primeira vez, temos um presidente declaradamente racista. Jair Bolsonaro nunca escondeu o que pensa sobre a negritude. Em entrevista na TV, afirmou que um filho seu nunca namoraria com uma mulher negra. Na campanha eleitoral, associou quilombolas a animais e prometeu acabar com a demarcação de terras.

Agora como presidente, Bolsonaro ataca os serviços públicos com cortes no orçamento que afetam diretamente a população negra e, de forma combinada, promete às polícias licença para matar na periferia com o projeto anti-crime do Ministro da Justiça, Sergio Moro. As forças policiais, civis e militares, entenderam o recado e os índices de assassinatos de jovens negros seguem crescendo.

Um verdadeiro genocídio está em curso na periferia. Essa guerra já vitimou, por exemplo, cinco crianças este ano no Rio de Janeiro. Até o momento em que fechávamos este editorial, a família do jovem Lucas de 14 anos, que foi sequestrado pela Polícia Militar na porta de sua casa em Santo André no dia 13 novembro, ainda não tinha notícias do seu paradeiro.

Consciência Negra e a luta contra Bolsonaro 

Neste 20 de novembro, dia da consciência negra, nos colocamos ao lado da maioria da população brasileira que é negra e saudamos todas as conquistas até aqui, como as cotas nas universidades públicas.

Gostaríamos que o dia de hoje fosse marcado pelas comemorações pelo fato de que os negros e negras, pela primeira vez na história do país, formam a maioria do estudantes da universidades federais. Mas, Infelizmente, ainda temos um profundo fosso sócio-racial entre brancos e negros. Sem políticas públicas, como as ações afirmativas, e com cortes sucessivos no orçamento da união, como faz o atual governo, esse fosso só aumentará.

Acreditamos que a esquerda precisa seguir o exemplo de Palmares e construir um verdadeiro Quilombo com todos os explorados e oprimidos para resistir aos ataques do governo Bolsonaro. Por outro lado, para nos colocarmos na ofensiva contra esse governo, precisaremos não só ser solidários às demandas do movimento negro, mas nos tornar uma esquerda antirracista.