Há uma certa canalhice em determinados espaços de repercussão nas análises sobre o golpe em curso na Bolívia. Evo Morales e o MAS, seu partido, cometeram erros graves de avaliação da conjuntura (ao propor o plebiscito em que foi derrotado) e ao manobrar pela via judicial o próprio resultado da consulta. Os meios de comunicação anunciam a grande convulsão em que o país vizinho está metido e a “renúncia” de Evo é tratada como “crise”.
A renúncia de Evo e toda a linha sucessória, bem como de prefeitos e governadores de distintas cidades e departamentos, o sequestro de políticos e de militantes ligados ao governo dão a nota que o pedido de renúncia encaminhado pelas Forças Armadas mesmo após a convocação de novas eleições não deixava opções. A intensa onda de violência provocada pelos golpistas não esconde o caráter fascista do processo em curso. A aliança entre militares e oligarquias, apoiadas no discurso neopentecostal, a exemplo da que elegeu Bolsonaro no Brasil, vem para derrubar as conquistas, reais mesmo que insuficientes, dos camponeses e povos originários e dos trabalhadores das cidades.
Um dos primeiros atos dos golpistas foi a invasão do palácio presidencial, seguida da retirada dos símbolos indígenas, que são 60% da população boliviana. É o prenúncio da morte institucional do estado plurinacional.
Há, para os trabalhadores e camponeses politicamente organizados na América Latina, uma lição fundamental: o fascismo não dorme! Não interessa o grau de concessão ou conciliação. Na mínima oportunidade de retomada do controle absoluto as elites nacionais e internacionais farão valer seu apetite sem fim.
Há ainda, uma outra certeza: trabalhadores da cidade e do campo na Bolívia, inspirados pela força de suas tradições e pelos séculos de resistência forjados na luta de classes, não entregarão com docilidade a sua terra, o seu patrimônio e as suas vidas! Toda solidariedade ao povo boliviano!
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