Crônica da moça na escada do metrô

Travesti Socialista
Travesti Socialista

Estava subindo a escada da estação de trem em meio à marcha de milhares indo ao trabalho. À esquerda, a andança se desviava de uma moça segurando pacientemente uma vassoura, esperando para continuar seu trabalho, o olhar baixo, não particularmente triste, porém sem brilho, sem vida.

“Bom dia”, disse eu como quem começa bem o dia. Ao responder com as mesmas palavras, numa voz sem timidez, um leve sorriso tomou conta de seu rosto, os olhos se levantaram. O brilho deles não era o de um sol, mas de um vagalume que ousa contradizer a escuridão da noite, a luz do ânimo, da esperança. Meu gesto não resolveu nenhum problema dela, mas quem sabe não lhe deu um pouco de forças para, pelo menos, enfrentar esse dia?

O mundo é muito complicado, disse eu para dois colegas de trabalho. Muitos problemas, olhares baixos, desalentos, angústias. Várias vassouras paradas no meio do caminho enquanto multidões avançam sem vê-las.

Nada disso vai se solucionar com palavras de esperança e carinho, mas esse é o primeiro passo. O mundo não seria perfeito, mas seria muito melhor se os olhos mirassem menos os relógios e mais os outros olhos no meio do caminho.

Tenha um bom dia!