Presidente mostra que não suporta a pressão e renúncia a longo prazo é uma possibilidade

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Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Ainda não sabemos se a família Bolsonaro participou do assassinato de Marielle Franco. Mas o vídeo de Bolsonaro em resposta à matéria da Globo que o envolve no caso nos traz muitas certezas. Seus urros e grunhidos lembram um porco em direção ao abate. Uma cena bem feia de se ver. Ele expôs para todo o país o quanto é emocionalmente desiquilibrado. Será que ele aguenta até 2022?

Ao agir como um garoto de 11 anos que acaba de levar seu primeiro fora da “crush”, Jair Bolsonaro nos deu certeza do quanto é incapaz de aguentar pressões. E isto no primeiro ano de mandato, com uma popularidade que ainda o permite se sentir seguro. Seu rompante de raiva foi gratuito e sem sentido. Ele mostrou que, se a situação ficar difícil, pode fazer bobagem. Seus inimigos agora sabem disso. Seus aliados também.

Isto quer dizer que, em algum momento, ele pode querer dar um golpe de estado. O risco é bastante real. Para isto ele precisaria do exército. Mas o exército seguiria um governante com um histórico ruim em sua carreira militar e que não demostra firmeza ao estar em um cargo de comando? Afinal, temos na vice-presidência o General Mourão, alguém com mais moral dentro da tropa e que se apresenta mais equilibrado.

Os ricos e poderosos contam com este governo para retirar direitos dos trabalhadores e aumentar seus lucros. Eles vão reagir como? Sabemos que a burguesia não aposta em cavalo que está perdendo. Os rompantes animalescos de Bolsonaro podem atrapalhar os negócios. Podem provocar inclusive mobilizações.

Não sabemos o que se passa na cabeça do presidente. Mas sabemos que ele não “aguenta o tranco”. Se a pressão for grande, ele pode renunciar. E a partir de agora esta possibilidade é parte do cálculo político da oposição. E também dos hoje aliados deste governo. Isso afeta as movimentações políticas no país.

Dilma e Temer não mostraram esse comportamento nem nos piores momentos

Quando Dilma Rousseff era presidente, ninguém pediu sua renúncia. Por isto a bandeira daqueles que queriam ela fora era o impeachment. A fibra moral que aquela mulher tinha era um fato incontestável. Ela não tinha habilidade política nem carisma. Mas, durante a ditadura, sofreu as piores torturas sem entregar seus companheiros. Tinha pouco mais de 20 anos e enfrentou a morte de frente de cabeça erguida. Pressioná-la até que ela não aguentasse mais nunca esteve nos planos de seus inimigos.

Até Michel Temer mostrou uma certa resiliência quando era Presidente da República. Raposa velha da política, fez questão de mostrar de forma firme e enérgica que não iria renunciar. Mesmo sendo o presidente mais impopular do país e com denúncias de corrupção nas costas, Temer nunca saiu do controle em público. Era um cínico, o que passa a imagem de alguém equilibrado. Era alguém que media cada palavra que falava. Ninguém esperava que ele perdesse a razão. Ao saber disto, a estratégia da oposição passou a ser o impeachment, que acabou não acontecendo.

Mas com Bolsonaro é diferente. A renúncia é sim uma possibilidade real. Se ele fosse torturado durante a ditadura que tanto defende, entregaria a mãe, o pai e os cinco filhos em menos de meia hora. Se ele estivesse na situação de Temer, seus grunhidos e urros seriam mais feios ainda. Ninguém quer apoiar um porco que segue em direção ao abate. Ninguém segue um líder que não passa segurança a seus subordinados. Bolsonaro pode até ser inocentado no caso do assassinato de Marielle. Mas nunca vai se livrar da exposição pública de sua falta de fibra moral. Deu um passo em direção ao abismo.

 

*Esse texto reflete a opinião do autor e, não necessariamente, a linha editorial do Esquerda Online.