Vivemos tempos difíceis. Infelizmente, já são muitos os exemplos de censura a atividades culturais e políticas desde que Bolsonaro assumiu a presidência. Geralmente, sob o falso argumento da preservação da família tradicional e dos valores cristãos, a liberdade de expressão tem sido frequentemente violada. Um destes exemplos de censura aconteceu há alguns meses no próprio Banco do Brasil, quando Bolsonaro mandou tirar do ar uma peça publicitária do banco que buscava retratar a diversidade dos jovens brasileiros, e ainda exonerou o diretor de Comunicação e Marketing do banco, Delano Valentim. Agora, no dia 24 de outubro, mais um exemplo lamentável de censura: uma palestra sobre saúde mental no ambiente de trabalho, que estava sendo organizada pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), foi suspensa horas antes do horário marcado. A presidente da CIPA comunicou aos palestrantes que a suspensão seria orientação do departamento de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SEESMT).
A gerente de área, representante da administração do BB no setor, comunicou ao cipeiro eleito Bira Kuhlmann que o SEESMT teria orientado a suspensão por não concordar com o “enfoque” da palestra. O detalhe é que o SEESMT discordou do enfoque do debate antes mesmo dele ter ocorrido. É realmente inacreditável que o departamento de medicina do trabalho e os administradores do Banco do Brasil desconheçam a relevância do tema da saúde mental para os bancários.
O adoecimento mental é um grave problema enfrentado pelos bancários, como resultado da imposição de metas absurdas e do assedio moral, que é uma prática institucional nos bancos, inclusive nos públicos, como é o caso do BB. É muito pertinente, portanto, que a CIPA, ao organizar a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT) tenha a preocupação de debater o tema com os funcionários. Foi com este objetivo que a CIPA do Edifício Varicred, onde trabalham os funcionários do crédito imobiliário do BB, em São Paulo, convidou Tássia Bertoncini de Almeida, psicóloga com mestrado em Psicologia social e do trabalho, co-autora do estudo “Adoecimento bancário: construção de estratégias individuais e coletivas para o enfrentamento do desgaste mental relacionado ao trabalho” e Thiago Lira, psicólogo especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da USP, formado no aperfeiçoamento em Saúde Mental Relacionada ao Trabalho no Instituto Sedes Sapientiae.
A suspensão da palestra, que já havia sido confirmada e divulgada, além de um desrespeito aos profissionais, que gentilmente se dispuseram a ministrar a palestra, é um desrespeito à CIPA, que conta com representantes eleitos pelos funcionários e, portanto, também um desrespeito ao conjunto dos trabalhadores e a seu direito à livre organização.
De acordo com Bira Kuhlmann, “essa atitude arbitrária só corrobora com o que nós denunciamos sempre: a forma cada vez mais violenta de pressão por metas e resultados está adoecendo muito a categoria. Ao invés de buscar uma melhora nas condições de trabalho, que é atribuição legal do o SEESMT, eles preferem proibir o debate sobre o tema. O sol continua lá, com peneira ou sem!”.
Os ataques à organização dos trabalhadores precisam ser combatidos, pois a única forma que os trabalhadores possuem para garantir seus direitos é a luta coletiva, sendo fundamental a preservação de suas entidades e instâncias de representação. Não é à toa que Bolsonaro frequentemente ataca estas organizações. Quer implementar seu projeto econômico de superexploração dos trabalhadores e entrega das riquezas do povo sem resistência. Por isso, qualquer ataque às representações dos trabalhadores deve ser duramente repudiado e combatido. Conforme afirma o cipeiro Bira, “Não vamos admitir censura e interferência na livre organização dos trabalhadores. Queremos ouvir o que Tássia e Thiago têm a dizer. Se o SEESMT quiser, que chame outros para fazer o contraponto, mas não tentem nos calar!”
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