Em mais um lance inesperado, Jair Bolsonaro resolveu atacar seu próprio partido, o PSL, que detém a segunda maior bancada na Câmara Federal, com 53 deputados. O estopim da crise foi a declaração dada por Bolsonaro, há duas semanas, de que o presidente do partido, Luciano Bivar, estava “queimado pra caramba”.
Poucos dias antes desse episódio, a Polícia Federal havia indiciado o Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e mais dez pessoas por candidaturas-laranja no PSL de Minas Gerais. A investigação apura o desvio de recursos milionários, que, por lei, deveriam ser destinados às candidaturas de mulheres do partido, para abastecer outras campanhas, incluindo a do então candidato a presidente, Jair Bolsonaro.
As evidências sugerem que a família Bolsonaro, para evitar o desgaste do “laranjal” do PSL, resolveu tentar jogar o peso do escândalo no colo de Luciano Bivar e na ala no partido ligada a ele. A família busca, assim, resolver dois problemas com um só golpe: desvincular-se do escândalo de corrupção e, ao mesmo tempo, apossar-se do dinheiro, mandatos e cargos do PSL, seja assumindo o controle do partido, seja migrando para uma nova sigla. Tomando as rédeas da máquina partidária, Bolsonaro visa também estabelecer o mais absoluto controle político e ideológico para formação de uma agremiação neofascista.
Jair Bolsonaro e seus filhos não esperavam, contudo, a forte reação de Luciano Bivar e seu grupo. Utilizando as prerrogativas legais de presidente do partido, Bivar comandou o contra-ataque, colocando na defensiva, por alguns dias, o clã. Na sucessão frenética de golpes e contra-golpes, ganhou destaque o áudio do Delegado Waldir, no qual, o agora ex-líder do PSL na Câmara, chama Bolsonaro de “vagabundo” e diz que vai “implodir” o presidente com uma suposta gravação bomba.
Quando fechávamos este editorial, a ala bolsonarista parecia sair da posição humilhante em que se encontrava no final da última semana. Afinal, conseguiu emplacar Eduardo Bolsonaro no cargo de líder do partido. O grupo de Bivar, porém, promete responder com novas ações de retaliação. Tudo indica, portanto, que a sórdida disputa está longe de terminar.
A crise do PSL revela muito sobre o bolsonarismo. Primeiro, fica evidente que a família presidencial tem a sua digital no esquema de corrupção dos candidatos laranjas. Segundo, mostra o caráter abjeto da alta cúpula desse partido, tanto da ala familiar, quanto do grupo de Bivar, até ontem “bolsonarista” de carteirinha. Terceiro, evidencia que o clã está disposto a tudo na briga espúria pelo controle do fundo partidário e de cargos, tudo ao gosto da velha política. Quarto, começa a ficar claro para uma parte da população que o presidente prioriza os interesses da própria família do que temas sérios que afligem o país, como o derramamento de petróleo no litoral nordestino. Por fim, revela, outra vez, as pretensões de Bolsonaro no estabelecimento de um partido neofascista no Brasil, ferreamente controlado por ele.
Em relação à crise do PSL, consideramos que a tarefa principal da esquerda é seguir com a denúncia do lamaçal, demonstrando à sociedade, especialmente aos que ainda nutrem alguma expectativa no governo, mas não são de extrema direita, como Bolsonaro e seus filhos são parte dos mesmos esquemas corruptos que antes, cinicamente, condenavam.
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