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MUNDO

Atenção para o resultado da eleição na Bolívia

Nericilda Rocha
ABI

La Paz, 20 de outubro de 2019. – O presidente do Estado e candidato ao Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, comemorou na noite de domingo a quarta histórica vitória consecutiva do partido no poder com maioria absoluta na Câmara dos Deputados. e senadores.foto ABI

Após 13 anos de governo de Evo Morales Ayma (MAS), Bolívia viveu hoje um dia de incerteza sobre o resultado das eleições gerais ocorridas nesse domingo, 20 de outubro. Mais de sete milhões de bolivianos estavam aptos a votar segundo o TSE. O maior eleitorado é da cidade de La Paz, seguido por Santa Cruz e Cochabamba. A eleição decidirá quem sentará na cadeira presidencial de 2020 a 20025. O primeiro resultado aguardado é se Evo vence no primeiro turno ou se haverá segundo turno com seu maior opositor Carlos Mesa (Comunidade Cidadã).

Evo esteve à frente das pesquisas durante toda a campanha (até por que a oposição saiu toda dividida). Mas nas últimas semanas a direita (oposição) realizou grandes comícios, os cabildos, reunindo muita gente contrária a Evo. O segundo é se os senadores e deputados eleitos garantirão a ampla maioria no governo para Evo Morales ou não. Durante seus três mandatos, Evo conseguiu ter 2/3 no parlamento, a chamada Assembleia Legislativa Plurinacional. Disso dependerá muito a governabilidade do futuro presidente.

O dia de votação transcorreu com tranquilidade. Nove candidatos disputaram o pleito. Conheça todos eles: Evo Morales do Movimento Ao Socialismo (MAS), preside o país desde janeiro de 2006, corre atrás da sua terceira reeleição. Carlos Mesa, do Comunidade Cidadã (CC), quem foi presidente entre 17 de outubro de 2003 a 9 de junho de 2005, após renúncia do Gonzalo Sanches de Lozada, quando foi obrigado a renunciar pelas fortes mobilizações do processo revolucionário aberto desde 2003. Óscar Ortiz é senador por Santa Cruz e candidato pela aliança Bolivia diz Não (21F). O quarto colocado nas pesquisas, Chi Hyun Chung do Partido Democrata Cristão (PDC), é médico e pastor, um xenófabo que fez sua campanha contra o direito ao aborto e contra os homossexuais, chamado por alguns de “Bolsonaro da Bolívia”. Depois seguiam nas pesquisas, Félix Patzi, ex-ministro da educação de Evo Morales, é do atual Movimento Terceiro Sistema (MTS) e governador de La Paz. Víctor Hugo Cárdenas da Unidad Cívica Solidariedade (UCS), indígena de origem aymara, foi vice-presidente do governo neoliberal de Sánchez de Lozada (Goni) na década de 1990 e assumiu uma pauta do conservadorismo moral durante a campanha. Ruth Nina do Partido Ação Nacional Bolivia (PAN-Bol), Virginio Lema do Movimento Nacionalista Revolucionario (MNR) e Israel Gutiérrez da Frente Pela Vitoria (FPV).

Para que não haja segundo turno, Evo precisa atingir 40% dos votos e superar o segundo candidato em pelo menos 10%. As últimas pesquisas de IPSOS, instituto de pesquisa mais conhecido no país, apontavam Evo com 38 a 40% e Mesa com 22%, mas as pesquisas refletem muito os centros urbanos e nos grandes interiores do país, a vantagem de Evo é indiscutível. A fragmentação da oposição e da direita, é o elemento decisivo para uma possivel vitória de Evo sem segundo turno. Cenário mais provável ainda que a diferença pode ser apertada. As eleições na Bolívia são com cédula de papel e tardam um pouco mais, mas nas últimas eleições, antes da meia-noite já se conhecia o vencedor. É possível que na madrugada de domingo para segunda possamos conhecer os resultados.

O contexto em que ocorre estas eleições

Evo é o último remanescente dos chamados governos bolivarianos ou “governos progressistas”. Aquela onda de governos ditos de esquerda e que ascenderam ao poder após processos revolucionarios de insurreições e revoltas populares que sacudiram a América Latina a partir dos anos 2000. Evo, depois de Lula, foi o de maior popularidade. Realizou algumas reformas econômicas importantes, no marco de reestatizar algumas empresas, nacionalizar o gás boliviano aumentando o valor cobrado às multinacionais que operam no país, negociou melhores preços para o país na venda do gas para Brasil e Argentina, fato que possibilitou maior arrecadação estatal e assim, a criação de políticas sociais voltadas para as crianças na escola “bônus Juancito Pinto”, o “bônus Juana Azurduy de Padilla” para as mulheres grávidas que fazem pré-natal e o “Renta Dignidad” que é voltado para as pessoas idosas com mais de 65 anos. Assim, Evo conseguiu aliviar a pobreza, equilibrou as finanças do país na rasteira dos elevados preços das comodites, e manteve um importante equilíbrio fiscal. Apesar da crise mundial aberta em 2008, Bolívia mantém um crescimento na casa dos 4%. Além disso, realizou reformas políticas importantes (Constituinte e uma Nova Constituição que instituiu o Estado Plurinacional da Bolívia) no sentido de garantir maior espaço aos povos indígenas historicamente excluídos da vida política do país. Esses são os fatores objetivos, que explicam, ainda que com importantes elementos de desgaste junto aos movimentos sociais, a manutenção de Evo Morales quando os demais governos progressistas foram superados pela direita ou extrema-direita na América latina.

O MAS e Evo Morales, também souberam utilizar a incipiente convulsão social e política no continente, a partir da experiência popular com o retorno da direita ao poder. A realidade da Argentina que aponta para uma possivel derrota de Macri, a rebelião no Equador contra a política do FMI de Lenín Moreno, foram lembrados nos comícios de encerramento de campanha de Evo. Aguardemos os resultados!

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bolívia / evo morales