Manifesto: Movimento pela fundação de um coletivo nacional sindical e popular

Thiago Mahrenholz

Reunião do grupo durante Congresso da CSP-Conlutas

O momento atual da luta de classes requer um posicionamento firme e coerente dos coletivos de esquerda que atuam no movimento sindical e popular. Diante dessa tarefa histórica, reunidos na cidade de Vinhedo-SP, visando reaglutinar forças entre ativistas e organizações que atuam no país, que estejam dispostos a atuar coletivamente, estamos lançando um movimento que objetiva debater fraternamente divergências e convergências para construir uma intervenção unitária nos sindicatos e movimentos de trabalhadores, em geral, para quiçá, construirmos um coletivo nacional de ativista e organizações a partir de aproximações da análise da realidade polÍtica do país e do mundo e da necessidade de fortalecer a resistência dos trabalhadores num combate econômico e ideológico contra a força cada vez mais agressiva do capital.

O Brasil reflete os desdobramentos da desordem do sistema mundial que ameaçam hegemonias e da crise econômica mundial que se arrasta desde 2008. O resultado mais expressivo desse processo é visível nas ruas de todo país: Milhões de trabalhadores desempregados, cada vez mais precarizados, e com menos proteção social, com o aprofundamento da desigualdade e da concentração de renda. Poucas famílias têm uma riqueza material absurdamente exagerada, enquanto milhões amargam uma vida de sacrifícios e de futuro sombrio.

Esse cenário se agrava com a ascensão ao governo de forças ultra reacionárias. Que usaram métodos antidemocráticos subvertendo o jogo político convencionado na constituição de 88, com o objetivo de saquear direitos sociais e reduzir os espaços democráticos no país, na perspectiva de rebaixar o valor do trabalho ( menores salários, maiores jornadas), garantindo fôlego para um novo ciclo de acumulação de capital.

O golpe de 2016, a atuação irregular da força tarefa da lava-jato, em especial na prisão de Lula, a militarização de posições estratégicas do governo federal e a mudança no arcabouço jurídico/legislativo para permitir que o conjunto da classe trabalhadora tenha contratos precários, trabalhe até o limite de sua saúde física/mental e tenha sindicatos mais frágeis, exemplifica o que estamos constatando na realidade brasileira.

Essa situação nos coloca diante de uma correlação de forças mais difícil. Pois, a luta de classes, mais do que nunca exige unidade de ação para conseguirmos mobilizar o maior número possível de categorias. Colocar multidões em movimento não é uma tarefa para iniciativas isoladas. Assim, apostamos firmemente na conformação de uma frente única para lutar, com as centrais e, movimentos sindicais, populares, estudantis , organizações que lutam por direitos civis e democráticos e na defesa do meio ambiente.

Pensamos também que é urgente, fortalecer o combate ideológico. Nosso movimento tem como objetivo a luta pela transformação social, numa perspectiva anticapitalista e socialista. Não podemos menosprezar a capacidade das forças do capital em contaminar os trabalhadores com sua ideologia reacionária que em muitos momentos acabam levando os explorados a defenderem as ideias de seus próprios algozes. A disputa palmo a palmo contra as ideias neoliberais e conservadoras é parte das tarefas que queremos assumir.

Estamos dispostos também a estabelecer uma intersecção com lutas adjacentes e não menos importantes em relação as pautas classistas, que também movem milhões a se enfrentarem contra os desmandos do sistema e são expressão da resistência por direitos democráticos. Em nossas fileiras e entre nossas iniciativas estarão a luta das mulheres,da comunidade LGBT, do movimento de negras e negros, numa perspectiva classista. Todas essas lutas fazem parte da resistência contra forças reacionárias e conservadoras que avançam em seu projeto excludente de sociedade.

Estamos atentos às mudanças e transformações estruturais que estão se dando no mundo do trabalho. Isso exige disposição para transformar a atuação dos sindicatos e das organizações de base para estender a mão para os milhões de trabalhadores que estão desorganizados, sem direito a organização sindical efetiva e que formam uma massa sem instrumentos de luta. Quanto mais cresce a informalidade, mais os sindicatos perdem potência e alcance.

Essa situação sugere não só uma reflexão, mas iniciativas que nos permita dialogar, organizar e mobilizar esses trabalhadores fortalecendo a consciência de classe em seu meio e ajudando no avanço de suas lutas.

Reivindicamos a internacionalização das lutas, a solidariedade de nossos irmãos trabalhadores de outros países e a organização de calendários de luta intercontinentais. Avançar em combates de alcance mundial contra as forças globais do capital é uma tarefa de imensa magnitude que faz parte das tarefas mais importantes da classe trabalhadora.

Por fim, acreditamos que dentre os objetivos de um coletivo sindical e popular, deve estar o combate ao avanço burocrático que se desenvolve nos sindicatos e nas organizações da nossa classe. A atenção e cuidado em fortalecer o trabalho de base presencial e pelas redes sociais. A batalha para criar condições que permitam a participação dos trabalhadores nas estruturas de decisão, o respeito ao espaço dos coletivos e organizações, a liberdade de crítica sem retaliações, o esforço em formar mais quadros que possam assumir postos de representação impedindo personalismos e concentração desmedida de poder… são tarefas que estão em nossos planos e que precisam ser aprimoradas, refletidas e incorporadas a luz das mudanças da realidade e de acordo com nossas possibilidades.

Convidamos a todas e todos que apresentam acordo e simpatia com essas ideias a vir dialogar conosco, somar-se a esse esforço e dar um passo a frente agregando-se a esse movimento que está aberto a todas e todos que estão dispostos a se organizar para lutar.