Não é mais um filme de heroínas transformadas em objetos sexuais. O lançamento será em novembro, mas o trailer dá uma ideia do que esperar. Após alguns segundos, Sabina tira a peruca e revela ser muito distinta da Bella recatada e do lar da saga Crepúsculo, também interpretada por Kristen Stewart. Quando a vi com aparência e jeito “butch”, meu queixo caiu. Com uma atuação natural e muito carisma, ela rouba a cena — e meu coração!
Antes de assistir o trailer, eu não sabia que Stewart já havia se assumido como mulher bissexual. Num episódio do show de humor Saturday Night Live, Kristen menciona que Donald Trump já publicou 11 tweets contra ela, instigando Robert Pattinson (seu então namorado) a deixá-la. A atriz termina o relato com uma provocação: “Donald, se você não gostava, então não deve gostar de mim agora porque eu estou no SNL e sou tão gay, cara!”
Se Kristen tornou-se famosa sendo Bella, certamente não terá problemas com uma personagem mais próxima dela mesma. Como diz um comentário no trailer oficial: ela parece estar se divertindo ao fazer o filme!
As outras duas panteras serão Elena, interpretada por Naomi Scott (a princesa Jasmine do último Aladdin), e Jane, personificada por Ella Balinska (da série The Athena). Será a primeira vez que a maioria delas não serão brancas. Scott já demonstrou que é capaz de nos deixar Speechless (“sem palavras” – nome original da em Aladdin traduzida como “Ninguém me Cala”) com sua interpretação e voz, ainda que seja pouco conhecida. Ballinska, ao que tudo indica, também pode surpreender.
Novos rumos para um novo filme
O novo filme da série é dirigido por Elizabeth Banks, que, ao contrário dos diretores dos filmes prévios, parece ter grande sensibilidade. As garotas desta vez têm personalidades distintas que se combinam com suas habilidades. O enredo, em vez de criar o tempo todo “desculpas” para que as atrizes tirem peças de roupa, indica que será um genuíno filme de ação.
Nada contra sensualidade nas artes, muito pelo contrário! A série Sense8, por exemplo, soube misturar a sensualização — inclusive dos homens — com a história. Se a sexualização foi exagerada (isso é um ponto de vista), ao menos ela não foi objetificante. Por outro lado, nos dois primeiros filmes da série As Panteras, a história foi diminuída para dar lugar a objetificação das mulheres. O roteiro frequentemente criava situações em que as espiãs precisavam se sexualizar, inclusive em contextos não tinha nenhum sentido.
Não assisti à série original, mas, pelas críticas, as garotas tinham personalidades distintas e a história era mais elaborada, apesar do apelo à sensualização. Não acredito ser esse o caso dos filmes, onde as três panteras têm personalidades bem parecidas: simpáticas, sorridentes e sensualizadas. Isso não reduz os dois filmes a cinzas, mas prejudica muito. Fica parecendo que, na cabeça dos roteiristas, a única razão para que as espiãs sejam mulheres é para que elas usem sua sensualidade nas missões.
Uma música tema ousada
Se direção, atrizes e personagens já demonstram acertos da nova versão, a música tema escancara a ousadia na busca por dialogar com o público jovem e feminino de 2019. A música Don’t Call Me Angel (Não me Chame de Anjo) será interpretada por Ariana Grande, como voz principal, junto a Miley Cyrus e Lana Del Rey, três cantoras conhecidas por serem referência no público LGBTI (sendo que Cyrus é bissexual e queer).
O clipe dessa música foi lançado recentemente e já teve 73 milhões de visualizações. Um detalhe no vídeo perturba qualquer conservador: Miley, em um gesto que lembra muito sua personalidade, finge lamber Ariana. Ao que me parece, a primeira está realmente atraída pela última — nada muito forçado nem fetichista, é apenas a impressão que tive pela sua linguagem corporal.
Um enredo que ainda não me convenceu
Na minha opinião, a qualidade nas interpretações de Stewart, Scott e Balinska até disfarçam o enredo batido e neo(liberal): uma agência de segurança privada que atua contra criminosos que a polícia é incapaz de barrar (como se CIA e FBI não fossem poderosas o bastante). A história de uma tecnologia a princípio benéfica, mas que pode se transformar numa poderosa arma, também não é novidade.
Bem, há filmes que conseguem ter muita qualidade mesmo quando o enredo não é surpreendente. Talvez tenha sido inclusive uma escolha dos roteiristas e da diretora: usar um enredo mais comum e seguro e ter mais ousadia nos outros elementos já citados. Afinal, ousadia demais pode estragar o conjunto da obra. Não quero jogar o bebê fora com a água suja: como sempre, nem tudo é perfeito, mas tem (quase) tudo para dar certo.
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